Redenção Particular

 

Redenção Particular


Um Sermão (Nº 0181)

Pregado na Manhã de Domingo, 28 de Fevereiro de 1858 pelo

Reverendo C. H. Spurgeon

No Salão de Música, Royal Surrey Gardens – Inglaterra

 

“Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mateus 20:28)

A doutrina da Redenção é uma das mais importantes doutrinas do sistema da fé. Um erro neste ponto nos levaria inevitavelmente a mais completa confusão de todo o sistema de nossas crenças.

Todos Cristãos sustentam que Cristo morreu para redimir, mas nem todos ensinam a mesma redenção.

Diferimos sobre a natureza da expiação, e sobre o propósito da redenção.

Por exemplo: Alguns sustentam que Cristo, quando morreu, não morreu com a intenção de salvar alguma pessoa em particular; e ensinam que a morte de Cristo não assegura por si mesma, fora de qualquer dúvida, a salvação de nenhum homem.

Crêem que Cristo morreu para fazer a salvação de todos os homens possível, ou que fazendo algo mais, qualquer homem que desejar pode alcançar a vida eterna; conseqüentemente, eles estão obrigados a manter que, se a vontade humana não cede e se entrega voluntariamente à graça, então a expiação de Cristo será inútil.

Sustentam que não há nada especial ou particular na morte de Cristo. Cristo morreu, de acordo com eles, tanto por Judas no Inferno como por Pedro que subiu ao Céu.

Crêem que para aqueles que estão confinados no fogo eterno, houve uma verdadeira e real redenção feita para eles tanto como por aqueles que estão diante do trono do Altíssimo.

Ora, Cristo, quando morreu, tinha um objetivo definido, e que este objetivo se cumprirá com toda certeza e acima de toda dúvida. Medi-se o propósito da morte de Cristo por seus efeitos. Se alguém pergunta: "O que Cristo propôs fazer pela Sua morte?", a resposta é óbvia a esta questão fazendo outra - "O que Cristo fez, ou o que Ele fará por Sua morte?". Porque nós declaramos que a medida do efeito do amor de Cristo, é a medida de seu propósito. Não podemos desvirtuar de tal forma nossa razão para pensar que a intenção do Deus Todo-Poderoso poderia ser frustrada, ou que o propósito de algo tão grande como a expiação poderia fracassar por alguma causa, seja qual for.

Cristo veio a este mundo com a intenção de salvar "uma multidão que nenhum homem pode contar"; e cremos que como resultado disto, toda pessoa por quem Ele morreu deve, sem sombra de dúvida, ser limpa do pecado e permanecer lavado no sangue diante do trono do Pai. Não cremos que Cristo faria qualquer expiação eficaz por aqueles que estão condenados para sempre; não ousaríamos em pensar que o sangue de Cristo foi derramado com a intenção de salvar aqueles que Deus previu que nunca seriam salvos; e menos ainda que, de acordo com o que dizem alguns, Cristo morreu por muitos dos que já estavam no inferno quando Ele subiu ao Calvário.

Cristo Jesus "deu sua vida em resgate de muitos"; e por este resgate Ele adquiriu uma grande redenção por nós. Eu me esforçarei para mostrar a grandeza desta redenção, medindo-a de cinco maneiras. Notaremos sua grandeza primeiramente pela atrocidade de nossa própria culpa, da qual Ele nos libertou; segundo, mediremos Sua redenção pela severidade da justiça divina; terceiro, a mediremos pelo preço que Ele pagou, os tormentos que teve que sofrer; então trataremos de magnificá-la, notando a libertação que Ele realmente adquiriu; e terminaremos fazendo menção do vasto número por quem esta redenção foi feita, que em nosso texto são descritos como "muitos".

 

I. NOSSOS PRÓPRIOS PECADOS. 

Considerai por um momento o abismo de onde foram tirados e a pedreira de onde foram lavrados. Vós, que fostes lavados, purificados e santificados, parai por um momento, e recordai o estado primitivo de vossa ignorância; os pecados aos quais estavam entregues, os crimes para os quais se precipitavam, a contínua rebelião contra Deus na qual tinham o costume de viver. Um pecado pode arruinar uma alma para sempre; não há poder na mente humana para captar a infinita malignidade do mal que repousa nas entranhas de um só pecado. Há uma infinidade de culpa escondida em uma só transgressão contra a majestade do Céu. Se, então, você e eu temos pecado apenas uma vez, nada exceto uma expiação de infinito valor poderá nos lavar do pecado e fazer uma satisfação por ele. Porém, temos você e eu transgredido somente uma vez?  

Não, mais do que isso, se fosse possível que todos os pecados que a humanidade tem cometido, em pensamento, ou palavra, ou ação, desde que o mundo foi feito, ou desde que o tempo começou, fossem colocados sobre uma única e pobre cabeça - a grande redenção é totalmente suficiente para tirar todos estes pecados e lavar o pecador, deixando-o mais alvo do que a própria neve.

Oh! quem medirá a altura da suprema suficiência do Salvador? Primeiro, diga quão grande é o pecado, e, então se lembre de que, como o dilúvio de Noé prevaleceu sobre os topos das montanhas da terra, assim o dilúvio da redenção de Cristo prevaleceu sobre os cumes das montanhas de nossos pecados. Nas cortes celestiais há hoje homens que uma vez foram assassinos, ladrões, bêbados, fornicários, blasfemos e perseguidores; mas eles foram lavados - eles foram santificados. Pergunte-lhes de onde vem o brilho de suas vestes, e de onde sua pureza tem sido alcançada, e eles, em uníssono, lhes contaram que lavaram suas vestes e a embranqueceram no sangue do Cordeiro.

Esta, então, é a primeira medida da expiação - a grandeza de nossa culpa.

 

II. SEVERIDADE DA JUSTIÇA DIVINA. 

"Deus é amor", sempre amando; mas, minha próxima proposição não contradirá de modo algum esta afirmação. Deus é severamente justo, inflexivelmente rigoroso em Seus relacionamentos com a humanidade. O Deus da Bíblia não é o Deus da imaginação de alguns homens, que tem tão em pouco o pecado, que o passa por alto sem demandar qualquer castigo por ele. Ele não é o Deus dos homens que imaginam que nossas transgressões são coisas tão pequenas, meros pecadilhos, que o Deus do Céu finge que não os vê, e tolera-os até morrerem esquecidos. Não; Jeová, o Deus de Israel, proclamou concernente a Si mesmo, "O Senhor teu Deus é Deus zeloso". 

É sua própria declaração: "que de maneira alguma terá por inocente o culpado". "A alma que pecar, esta morrerá". Aprendei, amigos meus, a considerar a Deus tão severo em Sua justiça como se nEle não houvesse amor, e tão amoroso como se nEle não houvesse severidade. Seu amor não diminui Sua justiça, nem Sua justiça, no mínimo grau, faz guerra ao Seu amor. As duas coisas estão docemente unidas na expiação de Cristo. Porém, notai que nunca poderemos compreender a plenitude da expiação, até que tenhamos primeiro captado a verdade escriturística da imensa justiça de Deus. Nunca houve uma má palavra dita, nem um mau pensamento concebido ou uma má ação cometida que Deus não tenha punido um ou outro. 

Para a justiça, o crente não deve nada; embora ele devesse originalmente tanto que nem toda a eternidade seria suficiente para o pagamento de sua dívida, todavia, num momento Cristo a pagou toda, de forma que aquele que crê está inteiramente justificado de toda culpa, e livre de todo castigo, através do que Jesus fez. Considerai, pois, quão grande foi a Sua expiação por tudo quanto Ele fez.


III. PELO PREÇO QUE ELE PAGOU

É impossível para nós sabermos quão grandes foram os tormentos de nosso Salvador; mas, todavia, algum vislumbre deles nos dará uma pequena idéia da grandeza do preço que Ele pagou por nós. 

Suponhamos por um momento – para repetir uma sentença que freqüentemente tenho usado – suponhamos um homem que tenha caído no Inferno – suponhamos que todos os seus tormentos eternos pudessem ser concentrados em uma hora; e então, suponhamos que ela possa ser multiplicada pelo número de salvos, que é um número que excede toda enumeração humana. Podeis imaginar agora qual a vasta agregação de miséria que haveria nos sofrimentos de todo o povo de Deus, se eles tivessem sido castigados por toda a eternidade? E recordai que Cristo teve que sofrer o equivalente a todos os infernos de todos os Seus redimidos. Eu não posso expressar este pensamento melhor do que com aquelas conhecidas palavras: parece como se o Inferno fosse posto em Seu copo; Ele o tomou, e, “Num tremendo gole de amor, Ele bebeu a condenação, deixando o copo seco”. Assim pois, não há nada restante de todos os sofrimentos e misérias do Inferno que o Seu povo deveria sofrer para sempre. Eu não digo que Ele sofreu nesta mesma proporção, mas que suportou um equivalente a tudo isto, e deu a Deus a satisfação por todos os pecados de todos de Seu povo, e conseqüentemente, levou um castigo equivalente a todos os castigos deles. Podeis agora sonhar, podeis imaginar a grande redenção de nosso Senhor Jesus Cristo?


IV. A GLORIOSA LIBERTAÇÃO QUE ELE EFETUOU.

Esta foi a grande questão que sempre me deixava perplexo: “Tenho pecado; Deus deve me punir; como Ele poderia ser justo se assim não o fizer? Então, visto que Ele é justo, que será de mim?” Até que finalmente meus olhos se voltaram para as doces palavras que dizem: “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Com aquele texto entrei em meu quarto, e sentei ali e meditei. Vi a Um pendente sobre uma cruz. Era meu Senhor Jesus. Alia estava a coroa de espinhos, e os emblemas de exclusiva e inigualável miséria. Olhei para Ele, e meus pensamentos lembraram daquelas palavras que dizem: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores”. Então, disse comigo mesmo: “Este homem morreu pelos pecadores? Eu sou um pecador; então, Ele morreu por mim. Aqueles por quem Ele morreu, serão salvos. Ele morreu pelos pecadores; eu sou um pecador; Ele morreu por mim; Ele me salvará”. Minha alma confiou naquela verdade. Olhei para Ele, e quando “contemplei o fluxo do sangue redentor”, meu espírito se regozijou, porque eu pude dizer:

O momento em que creste, teu fardo caindo dos seus ombros, e te tornando leve como o ar. No lugar de trevas, você tem luz; no lugar de roupas pesadas, você tem o manto do louvor. Quem descreverá tua alegria deste então? Tu cantas na terra os hinos do Céu, e na tua alma quieta tem antecipado o Repouso eterno dos redimidos. Porque tens crido, tens entrado no repouso. Sim, contai ao mundo inteiro; todos aqueles crêem, pela morte de Jesus são justificados de todas as coisas que não puderem ser livres pelas obras da lei. Dizei no Céu, que ninguém e nada pode acusar aos eleitos de Deus. Anuncia a toda a terra, que os redimidos de Deus estão limpos de todo pecado aos olhos de Jeová. Gritai até mesmo no inferno, que os eleitos de Deus nunca irão para lá; porque Cristo morreu por eles, e quem é que os condenará?

 

V. A EXTENSÃO DA REDENÇÃO. 

Jesus Cristo, somos informados no nosso texto, veio ao mundo “para dar a sua vida em resgate de muitos ”. A grandeza da redenção de Cristo pode ser medida pela EXTENSÃO DO DESÍGNIO DELA . Ele deu Sua vida “em resgate de muitos”. Eu devo tratar agora de alguns pontos controvertidos novamente. Freqüentemente se nos diz que limitamos a expiação de Cristo, porque dizemos que Cristo não fez uma satisfação por todos os homens, ou de outro modo, todos os homens seriam salvos. Agora, nossa réplica a isto é que, por outro lado, nossos oponentes a limitam: nós não. Os

Alguns dizem: Cristo morreu por todos os homens. Peça a eles que expliquem isso. Cristo morreu para assegurar a salvação de todos os homens? Então dizem: “Não, certamente não”. Fazem-lhes a próxima pergunta: Cristo morreu para assegurar a salvação de algum homem em particular? E respondem: “Não”. Eles são obrigados a admitir isto, se quiserem ser consistentes. Dizem: “Não; Cristo morreu para que qualquer homem possa ser salvo se...” – e então adicionam certas condições para a salvação. Então voltando à primeira afirmação: Cristo não morreu para assegurar a salvação de ninguém, certo? E devem dizer que “Não”;  são obrigados a dizer isso, porque crêem que um homem que foi perdoado pode, todavia, cair da graça e perecer. Agora, quem é que limita a morte de Cristo?  Os que dizem que Cristo não morreu para assegurar infalivelmente a salvação de ninguém. 

Ele infalivelmente assegurasse a salvação de uma multidão que ninguém pode contar, que por Sua morte não somente poderão ser salvos, mas que o serão, devem ser salvos, e não podem de maneira alguma correr o risco de ser outra coisa, senão salvos. Que aproveitem a vossa expiação; podeis guardá-la.

Agora, amados, quando ouvis a alguém rindo ou zombando de uma expiação limitada, podeis dizer-lhe isto. Uma expiação universal é como uma ponte de grande largura com somente metade de um arco; ela não cruza o rio: chega somente à metade do caminho; ela não pode assegurar a salvação de ninguém. Ora, eu prefiro colocar meus pés sobre uma ponte tão estreita como a de Hungerford, que chega até o fim, do que sobre uma ponte que é tão larga quanto o mundo, se ela não chegar até o fim, do outro lado do rio. Há aqueles que dizem que o meu dever é dizer que todos os homens foram redimidos, e que as Escritura garantem isso: “O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo”. Porém, parece haver deveras argumentos muito, muito grandes do outro lado da questão. Por exemplo, olhe aqui. “Eis que o mundo todo vai após ele” Todo o mundo vai após Cristo? “E toda a província da Judéia e os de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados”. Foi toda a Judéia, ou toda Jerusalém, batizada no Jordão? “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno”. “Todo o mundo” aqui significa todas as pessoas? Se assim for, quem seriam os “de Deus”? As palavras “mundo” e “todos” têm sete ou oito significados na Escritura; e raramente “todos” significa todas as pessoas, tomadas individualmente. As palavras são usadas geralmente para significar que Cristo redimiu alguns de todos os tipos – alguns judeus, alguns gentios, alguns ricos, alguns pobres; e que Ele não restringiu Sua redenção a judeus ou gentios.

Deixando a controvérsia, contudo, responderei uma questão. Diga-me, então, senhor, por quem Cristo morreu? Responda-me uma ou duas questões, e te direi se Ele morreu ou não por você . O que a Escritura diz de Jesus: “Eu não vim chamar os justos, senão os pecadores ao arrependimento”.

"Pagamento, a justiça de Deus não pode demandar, primeiro, da mão sangrenta do Fiador, e então novamente da minha”. Nós podemos hoje, se crermos em Cristo, chegar ao próprio trono de Deus, permanecer ali, e se nos disser: “Tu és culpado?”, poderemos dizer: “Sim. Culpado”. Mas se a questão é coloca assim: “O que você tem para dizer? Porque motivo não deverias ser castigado pela sua culpa?” Podemos responder: “Grande Deus, tanto a Tua justiça como o Teu amor são garantias de que Tu não nos punirá por nossos pecados; porque, não punistes Tu a Cristo pelo pecado, por nós? Como poderias Tu, então, ser justo – como poderias Tu ser Deus, se Tu punes a Cristo o substituto, e então o próprio homem mais tarde?” A única pergunta com a qual devemos nos preocupar é: “Cristo morreu por mim?” E a única resposta que podemos dar é: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores”.


Por: Felipe Sabino de Araújo Neto

Editado Por: Joel Silva

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