Jó existiu mesmo?
JÓ EXISTIU MESMO? Teria
existido uma pessoa como Jó? "Na terra de Uz vivia um homem chamado
Jó".
Jó foi uma pessoa real ou
apenas um herói fictício?
Por causa da forma poética em
que 39 dos 42 capítulos do livro de Jó foram
compostos e devido às forças
sobrenaturais envolvidas nos desastres e aflições do herói (como também na
restauração de sua saúde e fortuna), alguns eruditos têm questionado a historicidade
do episódio. Teria existido uma pessoa como Jó?
Onde teria ele vivido, e
quando?
Muitos têm especulado que ele
seria mera figura fictícia, de certo modo um representante do povo hebreu
durante o período de profunda aflição no cativeiro babilônico.
Jó viveu no período patriarcal
como Abraão, Isaque e Jacó?
Alegam que a grande
porcentagem de palavras emprestadas do aramaico e o elevado nível de
monoteísmo, que se reflete nos pontos de vista de todos os cinco personagens,
ou seis, se incluirmos o próprio Deus, envolvidos nos diálogos, indicam uma
data pós-exílica para a composição.
Em resposta a essa teoria a
respeito da origem tardia e ficcional de Jó, devemos notar que se pode
descobrir extensa base para apoio à completa historicidade de Jó, bem como das
experiências pessoais e familiares por que ele passou.
Primeiramente
Jó 1.1 declara de modo
positivo que:
"Na terra de Uz vivia um homem chamado
Jó".
A redação assemelha-se muito à
de 1 Samuel 1.1, no que diz respeito à casualidade:
"Havia um certo homem de
Ramataim, zufita[...] chamado Elcana, filho de Jeroão..."
etc. Também em Lucas 1.5
lemos: "No tempo de Herodes,rei da Judeia, havia um sacerdote chamado
Zacarias...".Se Jó faz parte do cânon sagrado das Escrituras, segue-se
logicamente que se deve atribuir credibilidade à declaração histórica que lhe
serve de abertura, assim como em 1 Samuel ou Lucas — ou qualquer outro livro da
Bíblia que afirme a historicidade de uma personagem cuja carreira ela registra.
Em segundo lugar
A historicidade de Jó é
confirmada definitivamente pelas referências feitas a ele em outras passagens
das Escrituras.
Em Ezequiel 14.14, Jó é
colocado ao lado de Noé e Daniel comon exemplos de piedade; ele é um
intercessor eficiente: "Mesmo que estes três homens, Noé, Daniel e Jó,
estivessem nela, por sua retidão eles só poderiam livrar a si mesmos.
Palavra do Soberano, o
SENHOR".
Aqui encontramos o próprio
Senhor Deus afirmando a existência factual de Jó, junto à de Noé e Daniel.
Portanto, se ele não houvesse
existido, da mesma forma a historicidade dos outros dois seria questionada.
Seguir- se-ia de igual maneira que o próprio Deus estaria enganado e precisaria
ser corrigido pelos eruditos de nossos dias, imbuídos de ceticismo!
Nesse ponto, é interessante
notar que até W. F. Albright, o qual se inclinava a uma datação mais tardia
para a composição do livro de Jó, nenhuma dúvida tinha de que ele era uma
personagem histórica.
Em seu capítulo intitulado
"The Old Testament and Archaelogy" (H. D. ALLEMAN & E. E. FLACK,
orgs., Old Testament commentary, Filadélfia, Fortress, 1954), Albright indica
que Jó teria sido um contemporâneo dos patriarcas na era pré-mosaica.
Tem se apoiado essa teoria por
causa do emprego do nome ’Iyyōḇ.
(Deve-se notar que nos textos
da Execração de Berlim, ’Iyyōḇ aparece como sendo o nome de um príncipe sírio
que residia perto de Damasco;
nos documentos de Mari, do
século XVIIIa.C., Ayyabum é mencionado, e na correspondência de Tell el-Amarna,
de 1400 a.C, faz-se referência a Ayab como sendo um príncipe de Pella.)
Albright também certifica a
credibilidade do nome de Bildade (um dos três amigos que
"confortavam" Jó) como sendo uma forma abreviada de Yabil-Dadum, nome
que se encontra nas fontes cuneiformes do início do segundo milênio a.C.
Em terceiro lugar, as objeções
baseadas no confronto entre Iavé e Satanás, registrado nos primeiros capítulos
de Jó, não têm uma base mais sólida que as apresentadas contra o episódio da
tentação de Cristo por Satanás no deserto (Mt 4; Lc 4).
Se a Bíblia não pode ser
considerada digna de confiança em questões como essas, daí, torna-se difícil
dizer em que assuntos ela consegue reter
alguma autoridade ou credibilidade como documentando da revelação divina.
Em quarto lugar
O argumento de natureza
lingüística, baseado na presença de termos mais característicos do aramaico que
do hebraico, na verdade é bem tênue.
A língua aramaica era
evidentemente conhecida e foi utilizada no norte da Arábia durante um longo
período de tempo.
As numerosas inscrições do
primeiro milênio dos nabateus dessa região foram escritas quase invariavelmente
em aramaico; é possível que as negociações com os povos de fala aramaica tenham
se iniciado antes de 2000 a.C.
O sogro de Jacó, Labão, certamente falava o
aramaico (cf. Gn 31.47).
Os contatos comerciais com o
grande centro sírio de Ebla eram abundantes já em 2400 a.C. (embora seus
habitantes talvez falassem um dialeto amorita, em vez de aramaico).
Além disso, deve-se salientar
que a extensão da influência aramaica talvez tenha sido um pouco exagerada.
A. Guillaume ("The unit
of the book of Job", Annual of Leeds University, Sec. Oriental 14
[1962-3]: 26-7) argumenta de maneira
conviniente que não existem
aramaísmos demonstráveis nos discursos de Eliú (Jó 32-37), os quais têm a
reputação de apresentar o maior número deles.
Afirma Guillaume que são quase
todos termos existentes na língua árabe, a qual apresenta cognatos em aramaico
também.
Ele apresenta uma lista de
pelo menos vinte e cinco expressões como exemplos, citando os originais árabes
em cada caso.
Visto que a ambientação da
narrativa é Uz, localizada em algum lugar no norte da Arábia, a mistura de
palavras árabes e aramaicas é exatamente o que seria de esperar de um texto de
Jó, fosse originariamente composto em hebraico(pouco provável), fosse traduzido
de um texto anterior, escrito numa língua prevalecente no norte da Arábia no
período pré-mosaico.
Conclusão
À vista dessas considerações,
devemos concluir que não há base sólida para a teoria de um Jó fictício.
Portanto, o apóstolo Tiago tinha toda razão ao apelar para o exemplo desse
patriarca, quando exortava os cristãos a permanecer pacientes na tribulação.
Tiago 5.11 diz:
"Como vocês sabem, nós
consideramos felizes aqueles que mostraram perseverança. Vocês ouviram falar
sobre a perseverança de Jó e viram o fim que o Senhor lhe proporcionou. O
Senhor é cheio de compaixão e misericórdia".
Uma alusão à restauração final
de Jó, quanto à saúde, riquezas e felicidade e como pai de uma família grande e
temente a Deus.
É desnecessário salientar que
dificilmente o Senhor teria sido misericordioso e compassivo para com uma
personagem fictícia, alguém que nunca existiu!
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