Qual o problema com a nossa política?
“Feliz é a nação que tem o Senhor como Deus! Feliz o povo que ele escolheu como seu patrimônio! Lá dos céus, o Senhor olha e vê todos os homens. De onde está sentado, ele observa todos os habitantes da terra, ele que lhes modela um mesmo coração, ele que está atento a tudo que fazem. O rei não é salvo por um grande exército, o guerreiro não é libertado por um grande vigor. Para vencer, o cavalo não passa de ilusão, toda a sua força não permite escapar. Mas o Senhor vela sobre aqueles que o temem, sobre os que esperam na sua fidelidade, para livrá-los da morte e mantê-los vivos durante a fome. Nós aguardamos o Senhor: É Ele nosso auxílio e escudo! Dele vem a alegria de nosso coração, e a nossa confiança está no seu nome santíssimo. A tua fidelidade, esteja sobre nós, como a nossa esperança está em vós”. Salmos 33, 12-22.
Estas palavras do Salmista traz um contexto bem específico: governo monárquico que frequentemente era desfiado por outros povos e, por isso, decretavam guerras. Almejavam cada um Feliz é a nação que tem o Senhor como Deus sua independência e novas conquistas às custas até da morte de soldados e/ou de seus governantes.
Não é diferente esse desejo para qualquer outro povo.
Na teoria, uma nação exemplar no quesito política. Com uma constituição jovem, completa e que engloba os direitos humanos de forma ampla, o Brasil tinha tudo para ter a legislação perfeita. Porém, na prática, as coisas não são tão perfeitas assim. Nada deixa essa situação mais clara do que o atual momento político brasileiro. Em meio a um processo de impedimento presidencial, o país assiste ao caos democrático com uma indigesta sensação de “o que há de errado com a nossa política? ”.
Repetitivos escândalos de corrupção, políticos
com ideologias arcaicas e uma explícita falta de ética corrompem nossa
democracia de forma praticamente irreversível. O pior de tudo não é a situação
complexa e degradante que se instalou, mas principalmente a forma como as
pessoas reagem à situação. Parece que não concordar com um ponto de vista é a
receita para ser humilhado publicamente – poucos conseguem entrar no Facebook
sem se sentirem coxinhas malcriados ou comunistas irracionais. Nesse ritmo,
cresce o problema, prospera o caos e as pessoas tendem a se afastar cada vez
mais da política em si.
Uma adversidade assim não chegou de uma hora
para outra. Pelo contrário, começou há muito tempo, vem sendo cultivada até
hoje e a solução só se aproxima depois de uma verdadeira corrida de obstáculos:
Obstáculo
1:
Como notou a Revista Superinteressante na sua 320° edição, a política brasileira está essencialmente dividida em quatro categorias no Congresso e nas câmaras municipais. O primeiro tipo são aqueles ligados a entidades trabalhistas – muito conhecidos no meio em que trabalham, eles se destacam pelo protagonismo sindical. Já os Caciques são famosos – e quase onipresentes – no Brasil. Eles vêm de famílias tradicionais de cidades pequenas e se perpetuam no Congresso por meio de uma herança hereditária praticamente eterna.
Posteriormente encontram-se os burocratas: fizeram carreiras dentro de cargos públicos (geralmente são ex-secretários ou ex-diretores), ganharam fama e consequentemente uma base eleitoral grande o suficiente para mantê-los na Casa do Povo. Por último, mas não menos importantes, estão os líderes de “eleitorados distintos”, geralmente presentes em centros urbanos e em maioria traduzidos por líderes religiosos.
O grande problema dessa divisão não é o status
de quebra na política, mas principalmente o fato de que também separa povo.
Cada vez que um indivíduo não se sente representado por um dos quatro tipos,
ele se afasta mais de atuações políticas, assim como os que discordam. A partir
desse momento estão abertas maiores liberdades para políticos fazerem o que bem
entendem sem “ninguém” para se importar. É como se a corrupção política se
autoalimentasse no poder.
Obstáculo
2:
Esse distanciamento das pessoas com o aspecto
geral da política permite que os políticos sigam uma carreira perfeita de forma
quase imperceptível. O objetivo se torna essencialmente ficar no poder pelo
maior tempo possível e, como grande parte do eleitorado se preocupa mais em
discutir com os “oponentes” nas redes sociais, eles fazem isso sem grande
esforço.
Ainda fortemente influenciado por uma política
patriarcal, o Brasil está parado no tempo com uma verdadeira massa de políticos
que tratam o Plenário como uma reunião em família. Muitos estão em cargos legislativos
praticamente como em uma linhagem hereditária. A lógica é simples: quanto mais
tempo, mais poder e, em consequência, mais difícil fica para sair.
Obstáculo
3:
Uma eleição é absurdamente cara. Em 2010, a
média de gasto de cada candidato chegou a R$ 1,1 milhão. Como a quantidade de
dinheiro gasto é extremamente alta, os políticos buscam financiamento em meios
privados. Contudo, dinheiro não é algo simplesmente dado. Quando empresas pagam
para determinado candidato, elas esperam algo em troca, geralmente uma
legislação a seu favor. Além disso, o pior de tudo é que os políticos perdem em
credibilidade. As pessoas param de confiar nos governantes, aumentando a
distância entre os eleitores e eles.
O
resultado dos obstáculos: afastamento
Todos os despropósitos que os políticos fazem
tem uma consequência brutal: elas tiram da população a vontade de participar
dos processos democráticos. E essa consequência já é visível. O Tribunal
Superior Eleitoral divulgou informações alarmantes: após uma eleição, um em
cada cinco eleitores já esqueceu o último parlamentar votado. Segundo uma
pesquisa da Universidade de Campinas (UNICAMP), 70% dos eleitores que votaram
em 2010 já esqueceram em quem votaram em menos de quatro anos. Mais do que
desinteresse da população, todo o lado desonesto da política repele as pessoas.
Por mais que a situação esteja bem ruim, não
podemos desistir em tentar achar uma solução. É arregaçar as mangas e ir ao
trabalho.
Um dos
principais problemas da política tem nome: dinheiro.
As arrecadações das campanhas precisam, no
mínimo, de uma reforma. Parar de aceitar dinheiro privado parece ser o primeiro
passo para isso. “Mas de onde o dinheiro para as campanhas vai sair? ”.
Bem, o financiamento público já está começando
a ser exercitado no Brasil – desde o fim de 2015 existe uma lei aborda o tema,
e mesmo com algumas alterações no texto original, poderá trazer mais foco para
onde importa: o povo. “Então teoricamente vou pagar para um candidato ao qual
não concordo com as ideias? ”.
É importante lembrar que as doações de pessoas
físicas não estão proibidas. Você pode contribuir com os candidatos que melhor
lhe representem, apenas não poderá financiar suas eleições com valores muito
altos. “Mas eles não podem fazer o velho caixa dois?
Essa prática não seria potencializada? ” Não se houvesse a boa e velha punição. É importante lembrar que muitas das práticas corruptas somente acontecessem pela fé que muitos políticos têm na impunidade. A partir do momento em que passarem sofrer as consequências, muita coisa começa a mudar.
É certo que muitas incertezas cercam as
soluções para política brasileira – principalmente porque essas mudanças
dependem em maioria dos próprios políticos –, mas nem todas precisam necessariamente
estar certas. O importante é que temos de começar.
Várias nações do mundo já praticam uma forma diferente de política, e parece estar dando certo. O professor norte-americano Lawrence Lessig, da Universidade de Harvard, propôs o “vale-democracia”, uma doação à determinada campanha que é deduzida do imposto de renda.
Na Finlândia, o parlamento é obrigado a discutir toda petição que reúne ao menos 50 mil assinaturas. Na Inglaterra, existem as plataformas FixMyStreet e o SeeClickFix em que as pessoas indicam problemas da cidade e do seu cotidiano e o governo organiza – junto a outras entidades – as soluções. Na Alemanha, o partido Piratempartei Deutschland (partido pirata) tem mais de 40 assentos em assembleias estaduais. O grande diferencial é ser essencialmente bancado por Crowdfunding – serviço de financiamento online.
Está claro que a aproximação da sociedade junto à política é a chave para mudanças positivas. Por muito tempo virou senso comum que a política tinha de ser feita por outros, essencialmente representativa. As pessoas não tinham os meios de interferir constantemente nas decisões políticas diárias.
Porém, os avanços da tecnologia e a ascensão da
internet permitem à sociedade uma maior integração e voz na busca por direitos.
Auditoria e definições de orçamento agora podem ser decididas com mais pessoas
via internet. É uma forma de os cidadãos poderem controlar de forma mais eficaz
o uso do dinheiro público. Mesmo que muitos ainda não tenham acesso aos meios
virtuais é uma maneira de pelo menos começar a pensar em um jeito diferente de
fazer política.
As ações políticas por meios digitais vão além
da leviana “democracia de sofá”.
Nossa
esperança
Cremos nessa Palavra como inspiradora para nossa fé, não pelas vitórias em guerras ou pelas conquistas, mas principalmente porque reconhecemos a Deus como Senhor que sustenta e abençoa seu povo em momentos de crise.
Cremos em Deus que chama seu povo para viver em justiça e equidade, fartura e generosidade para com todos e todas. Ao contrário disso, temos então um governo que não compactua com os propósitos do Senhor, ao contrário, confia em seus próprios meios para governar. E governam mal.
Entretanto, aquelas pessoas que temem ao
Senhor, guardam sua esperança em seu amparo e no socorro que vem de Deus. Não
podemos desistir mesmo diante de uma realidade perversa, com política corrupta
e injusta que parece nos cercar.
Oremos por nosso país, nossos governantes, por nosso povo.
Na expectativa e confiança de que o Senhor seja Deus e faça de nós uma nação feliz.
Por: Ronayre
Nunes
Amanda
de Lima Baptista Leite
Editado por: Joel Silva
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