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Síndrome do Pensamento Acelerado


Comentei nos capítulos anteriores alguns mecanismos do processo de construção de pensamentos. Desse modo, um terreno foi preparado para falar mais especificamente sobre o grande mal do século: a Síndrome do Pensamento Acelerado.

Assim como tive o privilégio de descobrir a Síndrome do Circuito Fechado da Memória, que está na base de agressões domésticas, bullying, conflitos profissionais, suicídio, guerras e outras formas de violência, tiveram a felicidade de desvendar a mais penetrante e “epidêmica” síndrome que atinge as sociedades modernas: a Síndrome do Pensamento Acelerado.

Ao mesmo tempo, no entanto, tive a infelicidade de saber que grande parte das pessoas de quase todas as idades é acometida em diferentes níveis por ela, incluindo as crianças, ora tratadas como gênios, ora como hiperativas. Destruímos a infância das crianças sem perceber.

Pensar é bom, pensar com consciência crítica é melhor ainda, mas pensar excessivamente é uma bomba contra a qualidade de vida, uma emoção equilibrada, um intelecto criativo e produtivo.

 

O pensamento acelerado

Não apenas o conteúdo pessimista dos pensamentos é um problema que afeta a qualidade de vida, mas – o que não se sabia – também a velocidade exagerada desses pensamentos depõe contra ela. Editar ou acelerar sem controle o pensamento é o sinal mais evidente da falha do Eu como gestor psíquico. Ninguém suportaria por muito tempo ver um filme cujas cenas rodassem rapidamente. Mas suportamos por anos nosso pensamento rodar seu “filme”. O custo físico e psíquico disso é altíssimo.

Estudar a Síndrome do Pensamento Acelerado, bem como causas, sintomas, consequências e mecanismos de superação, deveria fazer parte do currículo de todas as escolas, da pré-escola à pós-graduação. Mas não temos tempo para explorar o mundo que nos tece como seres pensantes. A educação “conteudista” estressa os nobilíssimos professores e seus alunos. E, para piorar, compromete a criatividade e a saúde emocional.

Qualquer leigo sabe que uma máquina não pode trabalhar em alta rotação continuamente, dia e noite, pois corre o risco de aumentar sua temperatura e fundir suas peças. Mas é quase inacreditável que nós, seres humanos, não tenhamos a mínima consciência de que pensar exageradamente e sem nenhum autocontrole é uma fonte de esgotamento mental.

Crianças e adolescentes estão esgotados mentalmente. Pais e professores estão fatigados sem saber a causa. Profissionais das mais diversas áreas já acordam sem energia e carregam seu corpo durante o dia.

A humanidade tomou o caminho errado; estamos nos estressando rápida, intensa e globalmente na era dos computadores e da internet. Estamos levando a psique a um estado de falência coletiva e não percebemos o mal do século.

Mesmo se o conteúdo for positivo, culto, interessante, o aceleramento do pensamento por si só gera um desgaste cerebral intenso, produzindo a mais importante ansiedade dos tempos modernos, com a mais rica sintomatologia. Não precisamos ter tido uma infância doente para sermos adultos ansiosos; basta termos uma mente hiperacelarada, que adoeceremos.

Há muitos tipos de ansiedade, como a pós-traumática, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), a síndrome de burnout, o transtorno do pânico, porém a ansiedade produzida pela SPA é mais abrangente, contínua e “contagiante”.

 

Abaixo, relaciono alguns dos sintomas:

I - Ansiedade

II - Mente inquieta ou agitada

III - Insatisfação

IV - Cansaço físico exagerado; acordar cansado

V - Sofrimento por antecipação

VI - Irritabilidade e flutuação emocional

VII - Impaciência; tudo tem que ser rápido

VIII - Dificuldade de desfrutar a rotina (tédio)

IV - Dificuldade de lidar com pessoas lentas

VI - Baixo limiar para suportar frustrações (peVI quenos problemas causam grandes impactos)

VII - Dor de cabeça

VIII - Dor muscular

IX - Outros sintomas psicossomáticos (queda de cabelo, taquicardia, aumento da pressão arterial etc.)

X - Déficit de concentração

XI - Déficit de memória

XII - Transtorno do sono ou insônia.

 

Uma das características mais marcantes da Síndrome do Pensamento Acelerado é o sofrimento por antecipação. Ficamos angustiados por fatos e circunstâncias que ainda não aconteceram, mas que já estão desenhados em nossa mente. Mesmo quem detesta filme de terror cria, com frequência, um filme fantasmagórico em sua mente.

 

Seu Eu sabota sua tranquilidade.

Todos os professores no mundo sabem, embora não entendam a causa, que, do final do século XX para cá, crianças e adolescentes estão cada vez mais agitados, inquietos, sem concentração, sem respeito uns pelos outros, sem prazer em aprender.

Por que muitos acordam fatigados? Porque gastam muita energia pensando e se preocupando durante o estado de vigília. O sono deixa de ser reparador, não consegue repor a energia na mesma velocidade.

E os sintomas físicos, por que surgem? Quando o cérebro está desgastado, estressado e sem reposição de energia, procura órgãos de choque para nos alertar.

Nesse momento, aparece uma série de sintomas psicossomáticos, como dores de cabeça e muscular, que representam o grito de alerta de bilhões de células suplicando para que mudemos nosso estilo de vida. Mas quem ouve a voz do seu corpo?

E o esquecimento? Por que temos sido uma plateia de pessoas com déficit de memória? Porque nosso cérebro tem mais juízo que nosso Eu. Percebendo que não sabemos gerenciar nossos pensamentos, que vivemos esgotados, o cérebro usa mecanismos instintivos que bloqueiam as janelas da memória na tentativa de que pensemos menos e poupemos mais energia.

Frequentemente, nos congressos de educação, pergunto aos professores se eles têm déficit de memória. A resposta é sempre a mesma: quase todos dizem que sim. Então faço um alerta em tom de brincadeira, mas sério.

 

O déficit de memória atinge as mais diversas pessoas nos mais variados níveis.

Há pessoas tão esquecidas que têm dificuldade de lembrar até o nome dos colegas de trabalho, onde colocaram a chave do carro, onde o estacionaram.

Esquecimentos corriqueiros são um clamor positivo do cérebro nos avisando que a luz vermelha acendeu, que a SPA asfixiou nossa mente a tal ponto que está comprometendo seriamente a qualidade de vida. O déficit de memória corriqueiro é uma proteção cerebral e não um problema, como muitos médicos pensam.

Reitero: o cérebro bloqueia certos arquivos da memória numa tentativa de diminuir o excesso de pensamentos produzidos pela SPA. Uma pessoa muito estressada e com SPA pode gastar mais energia do que dez trabalhadores braçais.


Sábio é o que faz muito gastando pouca energia.

De que adianta ser uma máquina de trabalhar se perdemos as pessoas que mais amamos, se não temos uma existência tranquila, encantadora, motivadora? As pessoas que têm um trabalho intelectual excessivo, como juízes, promotores, advogados, executivos, médicos, psicólogos, professores, desenvolvem a SPA mais intensamente. As pessoas mais dedicadas e eficientes estão, com frequência, mais fortemente estressadas.

 

Algumas das causas da SPA são:

I - Excesso de informação

II - Excesso de atividades

III - Excesso de trabalho intelectual

IV - Excesso de preocupação

V - Excesso de cobrança

VI - Excesso de uso de celulares

VII - Excesso de uso de computadores.

 

O excesso de informação é a principal causa da SPA. No passado, o número de informações dobrava-se a cada dois ou três séculos; hoje, dobra-se a cada ano.

Achávamos que essa avalanche de informações, que advém da TV, escola, videogames, smartphones, jornais, empresas, não era um problema tão significativo, mas hoje sabemos que o fenômeno RAM arquiva tudo no córtex cerebral e sem autorização do Eu, saturando a Memória de Uso Contínuo.

A MUC é o centro consciente da memória. Metaforicamente, representa o centro de circulação de um ser humano numa grande cidade. Em seu cotidiano, ele frequenta no máximo 2% das ruas, avenidas, lojas. Eventualmente, sai para áreas periféricas, que, na Teoria da Inteligência Multifocal, chamamos de Memória Existencial, ou Memória Inconsciente, como já mencionei.

Se saturarmos a MUC, passando para 5 ou 10%, expandiremos os níveis da ansiedade vital e superestimularemos o fenômeno do autofluxo, que, por sua vez, começará a ler rápida e descontroladamente a memória e a produzir pensamentos numa velocidade nunca vista. Gera-se, assim, a Síndrome do Pensamento Acelerado.

Usarei novamente a metáfora da cidade para explicar esses fenômenos inconscientes, que atuam em milésimos de segundo. Todos temos nosso centro de circulação numa cidade. Na cidade de São Paulo, uma pessoa frequenta uma ou duas farmácias. Mas há centenas de farmácias, e em bairros distantes. Se, para comprar um medicamento, uma pessoa tivesse de ir a inúmeras farmácias e seguir as mais diversas trajetórias, demoraria talvez um dia, talvez uma semana. E poderia prejudicar sua saúde.

Do mesmo modo, quando alargamos excessivamente a MUC, o centro de circulação da “cidade da memória”, desenvolvemos um trabalho mental desgastante e pouco produtivo. Nas empresas, muitas pessoas se informam e pensam muito, porém com pouca profundidade. As ideias originais desaparecem.

A TIM estuda não apenas o processo de construção de pensamentos, mas também, entre outros, o processo de formação de pensadores. Estou convicto de que não é o excesso de informações e de pensamentos que determina a qualidade das ideias. Einstein tinha menos informações que a maioria dos engenheiros e físicos da atualidade, e foi muito mais longe. É a maneira como reorganizamos os dados, e não o excesso deles, que determina o grau de criatividade.

Selecionar as informações é fundamental. Mas, nesta sociedade urgente, somos péssimos para selecionar o cardápio da nossa mente. Engolimos tudo e rapidamente, sem digerir. Como não se estressar drasticamente? Estamos destruindo nossos funcionários nas empresas, asfixiando os professores nas salas de aula, enfartando os médicos nos hospitais.

Vamos falar agora sobre os filhos da humanidade. Nós, adultos, bem ou mal, ainda suportamos os sintomas da SPA, mas e as crianças?

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