Lapsariano Moderado

 

Nem Supralapsarianismo, Nem Sublapsarianismo
nem tão pouco Arminiano

 

Lapsariano Moderado

 

É óbvia a existência do mal no mundo. Duas perguntas surgem: Como pode um Deus santo permitir o mal moral? Como pode um Deus soberano permitir o homem ser livre?

Para responder estas duas perguntas, temos que partir de 4 verdades axiomáticas:

. Deus não é o autor do pecado;

. É indispensável que seja Deus quem toma a iniciativa da salvação;

. O homem é responsável por suas ações; e

. As ações de Deus são baseadas sobre Seu santo e sábio conselho.

 

TODOS os verdadeiros crentes, os verdadeiros salvos concordam que Deus opera todas as coisas segundo o conselho de Sua vontade (Efé 1:11), concordam quanto a definição, base, propósito e conteúdo dos decretos de Deus:

. Deus determinou permitir o pecado;

. Deus determinou sobrepujar o pecado, para o bem;

. Deus determinou salvar do pecado;

. Deus determinou recompensar os que Lhe crêem e obedecem e servem, e punir os que Lhe descrêem e desobedecem; e

. Deus decretou a família e o governo humano; o chamado e missão de Israel; a fundação e missão da assembleia local; o Seu triunfo final.

Os calvinistas estão divididos em duas posições quanto à resposta (não dada diretamente na Bíblia) a perguntas sobre o POR QUE dos decretos de Deus, e quanto à ordem lógica (não dada diretamente na Bíblia) dos decretos de Deus antes da criação:

 

1. Supralapsarianismo

(Defende que o decreto de Deus para salvação foi "supra" [acima, anterior, independente] do "lapsus" [a queda do homem, em Adão])

(Todos os hipercalvinistas são desta posição, e quase todos supralapsarianistas são hipercalvinistas):

1) Deus decretou salvar certos homens e reprovar outros; Em conseqüência disso,

2) Deus decretou criar ambos; Em conseqüência disso,

3) Deus decretou permitir a queda de ambos; Em conseqüência disso,

4) Deus decretou enviar Cristo para redimir os eleitos; Em conseqüência disso,

5) Deus decretou enviar o Espírito Santo para aplicar esta redenção aos eleitos.

 

2. Sublapsarianismo (ou Infralapsarianismo)

(Defende que o decreto de Deus para salvação foi "sub", isto é, "infra" [abaixo, posterior, conseqüência] do "lapsus" [a queda do homem, em Adão])

1) Deus decretou criar o homem; Em conseqüência disso,

2) Deus decretou permitir a queda do homem; Em conseqüência disso,

3) Deus decretou eleger alguns dentre os homens caídos, para salvá-los, e deixar os restantes como eles estão (perdidos); Em conseqüência disso,

4) Deus decretou prover um redentor para os eleitos; Em conseqüência disso,

5) Deus decretou enviar o Espírito Santo para aplicar esta redenção aos eleitos.

 

Calvinismo Moderado

Afinal, o que é calvinismo moderado? Adianto que não tem nenhuma relação com o suposto “calvinismo moderado” de Norman Geisler exposto em “Eleitos, mas Livres”.

Calvinismo moderado é um termo cunhado historicamente para designar os calvinistas que acreditam que a expiação é limitada em propósito e não na extensão das pessoas representadas. Nós cremos na fórmula lombardiana que diz que “Cristo morreu suficientemente por todos, e eficientemente somente pelos eleitos”. Embora essa posição seja rapidamente rotulada como calvinismo de quatro pontos, não é correto chamá-la assim. Nós acreditamos nos cinco pontos, mas não na Expiação Limitada como definida e populariza por John Owen. Uma exposição calvinista moderada dos cinco pontos do calvinismo por Curt Daniel, anteriormente citado, pode ser encontrada clicando aqui.

Abaixo seguem algumas diferentes formas de se compreender a fórmula lombardiana "suficiente por todos, eficiente pelos eleitos", que demonstram a distinção do calvinismo moderado para outras formas de calvinismo (high ou hyper):

“1) Suficiência Limitada: Somente os pecados dos eleitos foram imputados a Cristo. Imputação limitada decorre da limitada representação legal devido à morte ser lida através das lentes do pacto da redenção. Os sofrimentos de Cristo eram uma parte da satisfação necessário, e, assim, seus sofrimentos foram medidos pela justiça da imputação (equivalentismo). Cristo sofreu tanto por tantos pecados. Sua morte é, portanto, apenas suficiente para o eleito. Não há nenhuma conexão necessária entre a oferta do evangelho e a morte que Cristo morreu. Alguns que sustentam essa visão negam a livre oferta. Normalmente está associada com o hiper-calvinismo, mas alguns poucos high calvinistas também defendem essa posição. A morte de Cristo é apenas suficiente para os eleitos pela ordenação de Deus

2) Suficiência Hipotética para Todos e Real para os Eleitos: Somente os pecados dos eleitos foram imputados a Cristo. Imputação limitada decorre da limitada representação legal devido à morte ser lida pelas lentes do pacto da redenção. A natureza da pessoa de Cristo determina o valor de sua satisfação, por isso é de valor infinito. Este valor infinito é necessário porque os eleitos, devido a seus pecados, são infinitamente culpados, e não porque a culpa do mundo foi imputada a Ele. A suficiência real (a que é realmente conta neste mundo) em Cristo corresponde à justa punição devida aos eleitos somente. O aspecto hipotético pertence aos não-eleitos. Se Deus tivesse, hipoteticamente, eleito mais pessoas, então não haveria nenhuma diferença no que Cristo fez. No entanto, a suficiência real é cercada pelo Decreto de Deus sobre os eleitos, ela não tem relação com os pecados dos não-eleitos. Não há nenhuma conexão necessária entre a oferta do evangelho e a morte que Cristo morreu. Esta visão é geralmente associada com o high calvinismo, mas também é sustentada por alguns hiper-calvinistas. A morte de Cristo é realmente suficiente para os eleitos pela ordenação de Deus, e hipoteticamente suficiente para os não-eleitos.

3) Suficiência Real para Todos e Propósitos Distintos: A culpa dos pecados de toda a humanidade foram imputados a Cristo quando Ele morreu. A imputação corresponde às exigências da lei no que diz respeito a cada pessoa. Cristo, em sua morte, remove as barreiras jurídicas que se colocam no caminho para qualquer pessoa ser perdoada por Deus. O Senhor quis que esta morte fosse uma provisão universal para toda a humanidade, a fim de que todos possam ser salvos, mas não desejou igualmente que todos sejam salvos. O comando para indiscriminadamente oferecer o evangelho a todos por meio do evangelho é baseado na disponibilidade real dessa suficiente satisfação para todo homem. Cristo realmente sofreu e morreu em Sua pessoa infinita a morte que era devida a todo homem. Esta visão é a associada com o calvinismo moderado”. (Tony Byrne)

Outro esclarecimento importante que deve ser feito é sobre o rótulo de que o calvinismo moderado seja amyraldismo. Normalmente isso ocorre porque Amyrald foi condenado por heresia (embora posteriormente absolvido) e ao fazer a associação tenta-se levar a posição ao descrédito antes que alguém possa apreciá-la. O que deve ser lembrado é que a acusação contra Amyrald foi contra sua suposta crença em decretos condicionais e não contra sua crença numa expiação universal. Mas mesmo a acusação sobre os decretos condicionais foi provada não ter fundamento, uma vez que a posição de Amyrald sobre o assunto não se referia a vontade secreta de Deus, mas à Sua vontade revelada. O Sínodo de Alancon (1637) deixa isso claro:

E quanto ao Decreto Condicional, dos quais se faz menção no citado Tratado da Predestinação, os referidos senhores Testard e Amyrald declararam que eles nunca compreenderam qualquer outra coisa além da vontade revelada de Deus na sua Palavra, de dar graça e vida aos crentes”

A verdade é que Amyrald era um calvinista moderado, e não que os calvinistas moderados sejam amyraldianos. Alguém que sustenta a visão de uma expiação limitada-ilimitada não precisa abraçar a suposta ordem dos decretos de Amyrald. Existem e existiram calvinistas moderados infralapsarianos e supralapsarianos. A verdade é que quase nenhum calvinista que acredita na expiação universal conhece suas obras. O teólogo que tem influenciado os calvinistas moderados ao longo dos tempos é John Davenant, grande teólogo inglês, o qual representou sua nação em Dort, por meio de sua obra “Dissertação sobre a Morte de Cristo”.

4. Sublapsarianismo (ou Infralapsarianismo) Atenuado:

(que deixa espaço para expiação ilimitada):

1) Deus decretou criar o homem; Em conseqüência disso,

2) Deus decretou permitir a queda do homem; Em conseqüência disso,

3) Deus decretou prover em Cristo redenção suficiente para todos; Em conseqüência disso,

4) Deus decretou eleger alguns dentre os homens caídos, para salvá-los, e deixar os restantes como eles estão (perdidos); (acredito que essa eleição foi conseqüência do pré-conhecimento de Deus, e que este pré-conhecimento de alguns significou especial amor por eles, antes da criação do mundo, e este pré-conhecimento de alguns outros significou pré-ciência de que creriam e receberiam Cristo); Em conseqüência disso,

5) Deus decretou enviar o Espírito Santo para assegurar a aceitação da redenção por parte dos eleitos.

 

Nem tão pouco “arminiano”

De forma resumida, podemos dizer que calvinismo e arminianismo são duas doutrinas da salvação, ou seja, são linhas de pensamento que ajudam cristãos a entender o processo de como o homem é salvo por Cristo.

Elas levam esses nomes em referência aos teólogos que defendiam as ideias. Enquanto o calvinismo se baseia nos ensinos de João Calvino, o arminianismo tem base nos pensamentos de Jacobus Arminius 

As duas correntes são conhecidas por terem 5 pontos de crença cada. Na Holanda, os discípulos de Arminius criaram e defenderam os 5 pontos do arminianismo frente ao conselho de igrejas do país. Para que essa nova doutrina fosse analisada, líderes e teólogos se reuniram em 154 sessões, conhecidas como Sínodo de Dort.

Ao final das análises, os líderes concluíram que os pensamentos de Armínio e seus seguidores eram heréticos, ou seja, não condiziam com a verdade bíblica.

Por isso, eles formularam um documento de reafirmação do que acreditavam, os 5 Pontos do Calvinismo.

 

No que as duas correntes diferem?

Agora que você conhece um pouco do panorama histórico do calvinismo e arminianismo, que tal entender a fundo quais as grandes diferenças entre essas correntes teológicas? Como falamos, os 5 pontos estão relacionados à salvação e à liberdade do homem de ir ou não a Cristo. Entenda melhor observando as explicações de cada ponto abaixo.

 

Vontade livre versus depravação total

O primeiro ponto de distinção é referente à vontade do homem para escolher ou não a Deus. Segundo os ensinos de Armínio, cada pessoa tem livre arbítrio para escolher seguir a Deus ou não. Sendo assim, para ser salvo, é o homem que deve se movimentar em direção a Cristo.

Em contraste, o calvinismo prega a depravação total, uma teoria que afirma que o homem é caído e escravo do pecado. Em Romanos 3:2, por exemplo, lemos que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Dessa forma, o ser humano é incapaz de buscar a Deus por vontade própria, precisando que Deus aja em sua vida para que ele creia em Cristo.

 

Eleição condicional versus incondicional

Em Efésios 1:4-7, Paulo escreve:

Como também [Deus] nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado, em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça, […].

A eleição é uma questão que está na Bíblia, mas recebe diferentes interpretações segundo calvinismo e arminianismo. Para o arminianismo, Deus elegeu para salvação aqueles que Ele sabia que aceitariam a salvação. Sendo assim, trata-se de uma eleição condicionada à ação do homem, que somente precisa ter fé para ser salvo.

Já para a doutrina calvinista, Deus escolhe entre os pecadores aqueles a quem Ele quer regenerar e salvar, para que a glória dEle seja manifestada. Dessa forma, a eleição não está condicionada à vontade do homem, mas a de Deus.

 

Expiação limitada versus ilimitada

O termo expiação está relacionado à redenção que Cristo proporcionou na cruz. Para os arminianos, a expiação foi ilimitada, ou seja, serviu para salvar a todos. No entanto, esse pensamento implica que aqueles que não aceitaram a Cristo tornaram a morte dEle um fracasso, já que não serviu para a salvação dos que não a desejam.

Isaías 53:11 diz que “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si.”

Sendo assim, o sacrifício de Jesus não seria desperdiçado, em vez disso, seria totalmente satisfatório. Segundo o calvinismo, trata-se de uma expiação limitada (ou definida), voltada para as pessoas que Deus já havia elegido segundo sua própria vontade. Dessa forma, sua morte teve total sucesso ao resgatar muitos da condenação.


Graça resistível versus irresistível

Efésios 2:8 afirma: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”. Sendo assim, a salvação pela graça é uma doutrina bíblica. No entanto, será que o homem pode recursar a graça de Deus em sua vida?

Calvinismo e arminianismo também divergem nesse ponto. Para arminianos, o ser humano pode resistir à ação do Espírito Santo em sua vida, ou seja, escolher não ser atraído por ela para a salvação em Cristo. Sendo assim, para ser salvo, primeiro o homem precisa escolher ir em direção a Deus e depois aceitá-lo.

Entretanto, se o homem é caído em pecado (depravação total), como ele pode ir voluntariamente em direção a Deus? Para os calvinistas, primeiro Deus age nos eleitos, mudando sua orientação pecaminosa. Apenas assim o homem consegue ter fé e ser atraído de forma irresistível pela graça de Deus.

 

Queda da graça versus graça preservadora

Outro dos pontos em que calvinismo e arminianismo têm visões diferentes é em relação à possibilidade da perda de salvação. Para o arminianismo, um homem pode deixar de ser salvo caso peque e não se arrependa e não persista nas boas obras.

Já o calvinismo entende que, já que todo processo de salvação é uma ação divina, uma pessoa não pode fazer nada para ser salva ou deixar de ser. A doutrina usa o termo “perseverança dos Santos”, que mostra que aqueles a quem Deus escolheu vão perseverar na obra que Ele mesmo começou. Eles não estão isentos de pecar, mas vão se arrepender pelo amor que têm a Cristo.

 

Por: Phillip R. Johnson

Editado por: Joel Silva

 

Fonte consultada:

Lectures in Systematic Theology, Thiessen.


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