Revelação Moral de Deus

 

Revelação Moral de Deus

 



I. CONCEITO DE REVELAÇÃO

Revelação: É o ato de manifestar, tornar conhecido, demonstrar algo a alguém;

Revelação Moral de Deus:

É o ato soberano, consciente e intencional pelo qual Deus torna conhecido seu Caráter Moral aos objetos de Sua Criação. Essa revelação acontece de duas formas: Subjetivamente e Objetivamente.

Subjetiva: Manifestação de Deus de forma não proposicional, intencional, particular e pessoal de modo que todo ser humano desfrute de um senso de justiça comum.

Objetiva: Auto-desvendamento de Deus de forma proposicional, intencional e completa pelo qual faz conhecido Seu Caráter por meio das Escrituras.

A revelação moral de Deus, objetiva ou subjetiva, é completamente verificada pela Palavra LEI. A Lei de Deus é a expressão final (completa, télica) do Caráter Moral de Deus, e nela encontra-se absolutamente todo o TEOR MORAL do Criador.

 

II. CONCEITO DE LEI

A. ORIGEM DO TERMO

Grego: Nomós: Lei. Conjunto de Instruções; Princípio de conduta de um governo; Sistema Legal;

O termo grego nomós é derivado de um outro termo grego interessante: nemo.

Nemo: Existem dois conceitos interessantes nesse termo: (1) Alimentar animais, fazer pastar o gado; (2) No Grego clássico é comumente utilizado no sentido de atribuição (distribuir, dispensar).

É possível, então, que a origem do Conceito de Nomos esteja relacionado com algo que é atribuído por alguém.

Latim: Lex: O Termo latino deriva do termo grego lego, como algo que foi dito por alguém.

Segundo essas observações, Augustus Hopinks Strong disse: “Todas estas derivações mostram que a concepção original que o homem tinha sobre a lei é a de algo que procede da volição“.

 

B. DEFINIÇÃO DO TERMO

Lei implica na existência moral e volitiva do Legislador

Lei é a expressão da vontade do legislador;

Lei é a expressão do caráter do legislador;

Lei é a determinação moral que tem poder para impor limites morais.

 

III. MANIFESTAÇÃO DA LEI MORAL DE DEUS

A. CONSCIÊNCIA

A Consciência é a demonstração final da Criação divina e da impressão do caráter moral de Deus presente em todos os seres humanos. A humanidade não está livre do conhecimento moral de Deus, pois está gravada no seu coração a norma da lei de Deus.

Rm.2.12-15.

Como um ser humano caído em um estado destrutivo de pecado pode proceder de acordo com a LEI MORAL DE DEUS? (Ex. Só falta ser crente).

“Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos“.

Gentios e a Prática Natural das Escrituras: O termo que nos chama a atenção é “natureza”. É possível que um gentio aja em conformidade com a Lei de Deus, sem dela ser conhecedor? Sim. O Termo para natureza não é um termo tão educado para Paulo, como vemos nos seguintes textos: Rm.1.26; Ef.2.3; NATUREZA como aquilo que é inato da humanidade (sinônimo da expressão “na carne” como demonstração da ausência do espírito, da salvação).

“Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho”

Norma da Lei: A tradução não parece apropriada aqui. O Termo Grego traduzido como ‘norma’ está ligado com realização, obra. A NVI utilizou o termo “exigências”, o que também parece um pouco exigente demais para o termo. O interessante é que Paulo testemunha um certo senso de justiça presente no homem, mesmo após a queda. Ou seja, a manifestação moral de Deus está presente em todo homem, como demonstração final da criação do homem. Um ponto interessante é que a presença do pecado na humanidade é capaz de fazer calar esse senso de justiça de tal forma que torna-se insensível ao conteúdo moral de sua própria constituição natural.

Gravada no coração: Literalmente: marcada com letras com coração. A impressão digital de Deus na humanidade é vista pelo carimbo da moralidade impressa em todos os seres humanos tal forma que a própria constituição do homem natural (sem Deus) está fadada à prestar contas dos seus próprios atos diante de Deus, em conformidade com sua própria concepção da verdade moral. O coração como a cede da intelectualidade, da volição e emoção hebraica é também o centro da expressão moral de Deus.

Testemunhando também a consciência e os pensamentos: A consciência humana não é o ambiente da impressão moral de Deus, antes, a consciência é testemunha, corrobora, ou suporta por testemunho fidedigno essa verdade estampada na criação. Os pensamentos também são testemunhas dessa verdade. Paulo quando refere-se a essa verdade utiliza um termo interessante que reflete o produto do processo cognitivo, a reflexão, a razão. Ou seja, a própria reflexão humana, sensata, é testemunha da verdade da impressão digital na moralidade humana. Entretanto, tal testemunho, ora favorece, ora desfavorece o comportamento. É por isso que o mais depravado (prático) dos pecadores ainda resta ambiente para o remorso e o arrependimento. Quando esse ambiente é completamente deteriorado, consideramos o deficiente moral como insano, onde seu próprio raciocínio lógico, ou sua razão e o produto dela, já não reflete mais a normalidade esperada de sua humanidade.

Destruição Moral da Consciência: Os fariseus testemunharam a presença da consciência como sinal da moralidade existente na humanidade (Jo.8.3-9). Jó, de modo diferente dos fariseus, atesta, mediante aprovação da sua consciência que manteve sua justiça (Jó.27.6). Paulo identifica a consciência como marcada pela moralidade (Rm.13.5). Paulo também buscar manter o a consciência pura diante de Deus (At.23.1; 24.16; cf. Rm.9.1; 1Tm.1.5; 2Tm.1.3), como sinal de que a mesma poderia ser pervertida (1Co.4.4). Tal boa consciência pode ser abandonada e resultar no naufrágio da fé (1Tm.1.9). De forma interessante o autor de Hebreus aponta para o ato futuro de Deus em purificar a consciência daqueles que foram lavados pelo sangue de Cristo, mais uma demonstração de que o próprio cristão pode estar sujeito a deterioração da própria consciência. Outro sinal interessante relacionado à consciência é que a mesma pode ser completamente calada. Esse é o conceito que Paulo apresenta ao quando usa a expressão “consciência cauterizada” em 1Tm.4.2. Ora se o cristão pode rejeitá-la, fazê-la calar, é possível que pagãos vivam por fazê-lo, dependendo da situação em que vivem. Essa percepção parece ser refletida por Paulo quando diz que os descrentes e impuros tem sua consciência corrompida (Tt.1.15). Por essa razão a revelação moral de Deus atestada pela consciência pode tornar-se tão ineficaz.

Destruição Moral dos Pensamentos: Paulo apresenta o conceito de da renovação que o cristão deve ter com a própria mente (Rm.12.2) ; do cuidado que deve ter para não ser persuadido pela astúcia de outros e deixar a mente ser corrompida a ponto de abandonar a simplicidade devida a Cristo (2Co.11.3) e da promessa de que a Paz de Deus guardará nossa mente em Cristo Jesus. Isso demonstra a falibilidade que a humanidade, mesmo depois de regenerada, tem em manter íntegra sua mente. Por outro lado, Paulo apresenta um aspecto carnal na disposição mental, mesmo do regenerado (Cl.2.18), de forma que alguns, em nome do Ministério tem promovido enganos pois tem mente pervertida (1Tm.6.5) e reprováveis na fé (2Tm.3.8; cf. Tt.1.15). Coisas piores são vistas na mente dos que ainda não foram regenerados, pois a mente é o terreno fértil para o desenvilvimento da maldade (Lc.1.51; cf. Mt.9.4; Lc.5.22),de modo que mesmo no coração do sábio seja encontrada a frivolidade (1Co.3.20). Outro detalhe sobre a humanidade é que em modelo “defaut” ela está armada e apontada para a maldade, de modo que a vontade dos pensamentos é equiparada com a vontade da carne (Ef.2.3), e ainda são movidos pela soberba da ausência de Deus, por terem suas mentes enegrecidas pela ignorância que vivem do próprio Criador e pela dureza do próprio coração (Ef.4.17). Provavelmente, é na mente que vemos a maior rebeldia ao próprio Deus, de forma que o Ele mesmo é responsável por conduzir o homem a uma disposição mental reprovável para particarem coisas inconvenientes (Rm.1.28).

 

B. ESCRITURAS

As escrituras são a DEMONSTRAÇÃO PROPOSICIONAL da Lei Moral de Deus, de tal forma que seu conteúdo não apresenta ambigüidade conceitual na definição do ambiente prático da moral. As escrituras são o padrão pelo qual o comportamento humano é equiparado. Observe novamente o texto:

“Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos”

A que Lei Paulo refere-se quando diz ‘de conformidade com a lei‘? É provável que Paulo esteja considerando a TORÁ como revelação proposicional do caráter moral de Deus. Se isto é verdade, para Paulo o padrão a que devem ser comparados os diferentes comportamentos das diferentes pessoas está nas escrituras. Isso não tornaria o padrão pessoal de cada um como modelo de conduta, mas como um princípio pelo qual poderiam ser julgados e ainda encontrados como faltosos (eles servem de lei para si mesmos).

Por isso, na prática, encontramos pessoas que desconhecem as escrituras e vivem à margem da verdade e ainda são pessoas compatíveis com a LEI MORAL de Deus.

 

Outro detalhe que merece nossa atenção é que tal reconhecimento só seria viável se Deus manifestasse-se final e objetivamente por meio da sua Auto-Revelação de forma proposional. Caso isso nunca houvera acontecido como poderíamos descobrir a verdade sobre o comportamento ou a forma correta pelo qual deveríamos proceder diante desse Deus. Inclusive esse mesmo raciocínio foi encontrado entre aqueles que questionaram sobre esse assunto:

“Não é fácil conhecer [os deveres], a não ser que o próprio Deus, ou alguma pessoa que os tenha recebido dEle, ou obtenha através dos seus recursos, os ensine aos homens” Pitágoras

“Aguardamos com paciência até que tenhamos certeza do conhecimento do como devemos nos portar para com Deus e para com o homem. Aguardemos alguém, seja Deus, ou alguém inspirado, que nos instrua sobre os nossos deveres e que afastemos as trevas dos nossos olhos” Sócrates

A intelectualidade pagã foi capaz de demonstrar que é possível reconhecer a moralidade, mas ainda assim seria necessária mais uma demonstração, da parte de Deus, ou de alguém enviado por ele, para que evidenciasse qual é o modo de vida compatível com sua Pessoa, Caráter e Propósito.

 

CONCLUSÃO

“A deformidade moral do ser humano após a queda EXIGE uma demonstração proposicional da LEI MORAL DE DEUS”

Talvez seja essa a razão pelo qual o apóstolo Paulo diga:

“Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” Rm.7.7

A TORÁ, como demonstração do caráter moral de Deus, permanece como apresentação fidedigna da vontade de Deus, visto que nela obtemos o conhecimento específico do pecado. Paulo nesse texto demonstra a especificidade de tal reconhecimento quando apresenta a cobiça como modelo pelo qual todos nós descobrimos nossos próprios pecados. Essa é também a verdade expressa em Rm.3.20; 5.20.

Portanto, o Auto-devendamento do CARÁTER MORAL DE DEUS é o padrão absoluto para comparação da humanidade (o canon prático da vida cristã).


Share:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hernandes D. Lopes - Jó

Wayne Gruden

Ariovaldo Ramos