As duas milhas

 

As duas milhas



 

"Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas." (Mateus 5:41), a milha romana media em torno de mil passos (cerca de 1478 metros). A proposta de nosso Senhor Jesus Cristo está baseada em um costume dos povos do Oriente, que quando enviavam um emissário de um lugar para o outro, se requeria que um representante local viesse recebê-lo a determinada distância. No ano 64 a.C., as tropas romanas de Pompeu partiram para conquistar Jerusalém, que foi anexada ao Império como a Província da Judéia. Governada por Herodes, Jerusalém ampliou seus muros e embelezou suas ruas, mas a paz não durou muito.

Apenas cem anos depois, desatou-se a primeira guerra judaico-romana, no ano 66 d.C. As tropas do imperador Tito assolaram Jerusalém, destruíram o Segundo Templo e queimaram a cidade até as cinzas. Segundo o historiador Flávio Josefo, Jerusalém foi tão destruída que era difícil imaginar que algum dia ela tivesse sido habitada. Com a tomada veio também alguns decretos romanos, entre esses: a obrigação imposta sob os judeus em carregar as bagagens dos soldados legionários romanos por uma milha. O único vestígio do venerado Templo de Salomão é o Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado do mundo para os judeus.

Samuel Rutherford participou, como representante da Escócia, de uma das comissões da Assembléia de Westminster (1643-1647) que elaborou a Confissão de Fé de Westminster. O sistema de governo implantado por John Knox, mais tarde é alimentado por Rutherford que também foi Reitor da Universidade St. Andrews na Escócia.

Samuel Rutherford (1600-1661) foi um cristão escocês que escreveu o livro Lex Rex (A lei é Rei) defendendo que as leis são superiores ao governo. Seu livro abalou o pensamento filosófico e político de sua época porque propunha que os chefes de estado e demais autoridades não eram uma finalidade em si mesma, mas estavam debaixo do dever que as leis lhes impunham. O impacto do Lex Rex se deu porque o governo de um soberano (monarquia) tinha a tendência de ser a mão de ferro sobre seus súditos. De fato, não foi à toa que a reforma protestante reconhecia que uma forma mista de governo, com elementos da aristocracia e democracia era o que mais representava o governo requerido pela Bíblia, sendo que a monarquia era tida por Calvino como a pior forma de governo.

Schaeffer reflete o pensamento cristão sobre o direito e o poder quando lembra que, por causa de seu caráter, Deus mandou seu Filho para morrer a fim de que satisfizesse a justiça, mesmo ante o poder de esmagar Satanás. (Mt 3. 15; Rm 1. 17; 10. 4). “Então a justiça veio antes que o poder. Cristo morreu para que a justiça, baseada no que Deus é, fosse a solução”.2 Porque a redenção do homem não veio pela força, mas pela razão da justiça. Tanto a justiça deve permear todas as áreas do poder, quanto às leis (que devem ser as veias da justiça) devem ocupar o primeiro lugar entre os que detêm autoridade delegada por Deus. Então o governo exerce autoridade, mas não sem lei. Aquele misto de governo propalado pela reforma, em nossos dias é conhecido como democracia. Mas que caminho tomou a democracia recente? E quanto ao conteúdo das leis, que princípios elas refletem?          

 

A LEI SOCIOLÓGICA

As leis que regem uma nação não acontecem num vácuo. Elas são frutos de idéias sociais e filosóficas. Eis aí o que pode ser um grande problema! Dependendo de como se concebe as necessidades humanas, os governos podem aprovar leis que prestigiam ou proíbem a sociedade. Mas a base de conhecimento para que suas idéias virem leis é a antropologia, sociologia, psicologia, além; é claro, dos princípios das várias linhas do Direito como ciência. Uma porção de “ías” que, em grande parte, passam longe de construir a base para a real necessidade da sociedade.

Por que o que tem sido as tais ciências, além de uma gama complexa de descobertas em níveis de células, neurônios; etc? O que certas áreas do conhecimento humano tem rejeitado, de maneira quase absoluta, é que o homem é um ser caído por causa da queda, com uma alma carente de perdão e salvação. Ninguém deve desprezar o conhecimento (humanidades), pois quem não admira a boa música, a boa arte e a boa reflexão sobre o cosmos? Também não se deve abandonar o próximo (humanitário), mas amar até nosso inimigo (Mt 5. 44). Mas o que é o humanismo? O humanista Protágoras (séc. V a. C) dizia do homem como a medida de todas as coisas. Então, se o homem é o centro de tudo, pouco importa um governo Soberano! Resultado: Por exemplo, leis que aprovam o aborto são justificadas pelo prisma humanista do bem estar feminino, mas não se fala em responsabilidade, pois humanismo tem a ver com conforto social, mas crime... que crime? Mas por que isso é assim? Por causa da base filosófica dos que governam.

Quando pouco do conhecimento humanista aparece por trás das leis (o que é raro), no mínimo; a experiência é a base. Mas ainda assim, é uma base na experiência pecaminosa porque não existe uma lei suprema, senão a lei da minoria representativa que rejeita a lei moral e o conhecimento de Deus3. E se alguém reclamar que a minoria é representativa, ou seja, fala e decreta em nome de um todo maior, a resposta é: A maioria também é humanista e utilitarista.4 Finalmente, a lei do humanismo é não existir leis que refletem a ética de Deus. Esta independência da justiça e apego à vontade do povo (leis sociais) promove o caos que acaba levando o homem para bem longe da liberdade social. A única Verdade e o Único caminho — Cristo (Jo 14.6) é rejeitado para dar lugar aos Não-absolutos da chamada lei social, e são estas “Não-Há-Uma-ÚnicaVerdade” as vozes que falam mais alto na consciência dos que aprovam leis. 

 

E AQUELA SEGUNDA MILHA?

Como obedecer às leis que refletem o pensamento do mundo?

E se elas forem injustas?

Se as leis ajudam a promover a ordem de um Estado democrático, não seria anarquia questionar a lei? Como cristãos devemos ser exemplos em tudo, inclusive na vida civil, mas qual tem sido o nível de nossa fidelidade tributária?

Jesus disse:

Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha (literalmente significa mil passos ou cerca de 1.478 metros), vá com ele duas” (Mt 5. 41; cf. 1 Sm 8. 11-17).

 

O que isto tem a ver com obediência às leis civis?

No mundo romano o direito do Estado sobre o cidadão chegava a ponto de obrigá-lo, caso fosse necessário, ao transporte de mercadorias a longas distâncias a pé. Esse poder era atribuído aos cruéis soldados romanos e a obediência a eles quase sempre era a contra gosto. Então o “se alguém o forçar...” atenta, de modo geral, para todo tipo de serviço que devemos prestar ao próximo. E também tem a ver com o modo do domínio das autoridades sobre seus súditos.

 

Ele também tinha dito:

Se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa” (Mt 5. 40).

 

Jesus está contradizendo a lei? Por que na lei mosaica ninguém tinha direito sobre a roupa do pobre e, caso esta tivesse sido entregue em penhor, tinha que ser devolvida antes do pôr-dosol (Ex 23. 26, 27; Dt 24. 12, 13) porque poderia ser aquela a única veste do pobre contra o frio. A palavra “demanda” aponta para uma ação ou processo judicial que alguém instaura contra nós como requerimento de um suposto débito. Note: Jesus está falando de nossa reação a este processo judicial. Ele não está proibindo o direito a um processo legal, do qual devemos lançar mão diante de uma lesão ao nosso direito.5 Em resumo: Nossa postura diante da demanda deve ser a resposta branda e sem ressentimento. Não devemos odiar aquele que nos processou querendo tomar o que é nosso, mas amá-lo. É isto o que significa “dar também a capa” (Mt 5. 40). O oferecer a outra face, entregar também a capa, caminhar a segunda milha e dar a quem nos pede sem pedir nada em troca é uma forma ilustrada, (e não literal) do amor que se manifesta nos atos. Isto é a plena aplicação da lei de Deus e não a contradição da mesma.

Agora nos resta perguntar: A obediência às autoridades é incondicional? Se Jesus nos instrui a caminhar prazerosamente duas milhas com aquele que nos obrigou a uma, significa que este “ambiente de caminhada” com a autoridade é mudo? Ou seja, não existe mecanismos de avaliação e até de negociação com o poder quando as leis são arbitrárias?    

 

A OUTRA FACE, TAMBÉM A CAPA E NADA MAIS? RESISTO!

É sempre difícil enfrentar o governo, não apenas pela sua força, mas porque ele é ministro de Deus para o bem e se rebelar contra ele é insurgir contra o próprio Deus (Rm 13. 2). Devemos esperar que o governo sempre cumpra com seu dever, pois os magistrados, dizia Calvino, foram designados como “protetores e defensores da inocência, propriedade, honestidade e tranqüilidade públicas e seu único empenho deve ser o de garantir a paz e o bem-estar gerais”.6 Em meio a atual onda de violência que se espalha como epidemia, esta definição parece utopia, entretanto, o reformador está em sintonia com a idéia bíblica sobre a real tarefa do governo. Rutherford dizia que o magistrado civil exerce autoridade que o povo confiou a ele, portanto, a violação dessa confiança dá ao povo base legítima para resistência.7 Mesmo diante da complexidade desse assunto é preciso considerar com cuidado os meios desta resistência:

 

a) Os meios legítimos.

O que Francis Schaeffer disse sobre nossa atitude quanto a um governo injusto é digno de memorização: “Não tomar nenhuma decisão à vista do crescimento de um governo autoritário já é uma decisão”.8 Calvino disse: “Se, na ordem pública, existir alguma coisa que necessita de correção, os homens privados não devem criar distúrbios ou tomar o assunto em suas próprias mãos (...) devem, em vez disso, submeter a questão ao conhecimento do magistrado (superior), cuja mão é a única a estar livre”.9 O pronunciamento cristão é importante para esta sociedade caída, cujos absolutos de Deus, cada vez mais são desprezados. Uma proposta realmente válida, cujos ecos atinjam a consciência das autoridades políticas, vai muito além de uma mera “marcha para Jesus” que acaba deixando mais a marca da ostentação do que uma marca pacífica diante das injustiças sociais na forma de violências, desempregos, fome, etc. Educadores cristãos, teólogos, profissionais liberais, principalmente os profissionais do direito precisam levantar a voz quando uma lei, ou não é cumprida, ou não se encaixa com a justiça. Mas alguém pode afirmar: Deixando a Igreja em paz está tudo bem! Mas este pensamento é egoísmo porque estamos cercamos por sua sociedade caída e a Igreja, com sua pregação e defesa da justiça não pode se omitir. Além disso, a igreja inevitavelmente também paga o preço diante de leis arbitrárias.

      

b) Como deve ser a resistência

A ética calvinista quanto ao modo de obediência civil provê base para desobediência diante do exagero e do autoritarismo das autoridades. Calvino dizia que devemos desobedecer ao governo caso ele vá além da Constituição.10 Isto não chega nem perto da anarquia, pois esta nunca é recomendada, além de ser antibíblica. Mas há um certo limite em que há não apenas o direito, mas ainda o dever de desobedecer ao Estado. Isto é feito em forma de manifestação pacífica. Ela deve ser adotada com base legal e não à revelia da lei. É exigir a manutenção da lei com base na própria lei. Homens como William Wilberforce e John Weslei lutaram vitoriosamente por libertação da escravatura e melhores condições sociais sem, contudo; andarem a margem da lei, mas na lei.

Para atingir este propósito precisamos da ação eficiente e duradoura de homens cujo caráter se identifica com o de José do Egito e Daniel (Gn 41. 37-41; Dn 1. 4; 3. 12-18). Isto indica que não precisamos, necessariamente, ser maioria; basta uma minoria consciente. Schaeffer defende a preparação e a ação para esta influência: “não basta só conhecer a cosmovisão correta, a cosmovisão que nos diz a verdade sobre o que existe, mas também agir conscientemente de acordo com aquela visão de modo a influenciar a sociedade o máximo que pudermos em todas as suas áreas e aspectos e por toda a nossa vida, na total extensão dos nossos dons individuais e coletivos”.

 

Observação

O que isso significava? Significava que a primeira milha era uma obrigação! Uma imposição romana! A segunda milha que jesus pede para andar, não fazia parte da lei romana! Jesus apenas pede para mais a frente!

Então a segunda milha seria uma opção nossa? Fica a nosso critério? Só que a segunda milha Jesus está nos mostrando dois modelos de servos!

O primeiro grupo: só faz porque é obrigado! O segundo grupo: faz além do que lhe pedem!

O texto traz duas revelações:

A primeira revelação: fala do livre arbítrio! Você faz se quiser! A segunda revelação: fala da expectativa que Deus tem de nós!

A primeira milha representa o cumprimento do dever! Para nós já fizemos o que nos foi mandado fazer e está tudo bem! A segunda milha representa superar os nossos alvos!

Superar nossos limites! Superar os nossos objetivos! Sair do nosso comodismo! Crescer! Avançar! A segunda milha mostra o amor de Deus em nossa vida! Exige nosso sacrifício! Exige renuncia! Exige doação!

A primeira milha os discípulos ajudavam Jesus a fazer a obra! A segunda milha agora eram os discípulos que iriam fazer a obra que Jesus confiou a eles! Eles precisavam sair do natural e viver o sobrenatural!

Precisamos mesmo caminhar a segunda milha? O que me impede de caminhar a segunda milha? É a arrogância! O orgulho! A incredulidade! Os meus interesses! A minha murmuração! O meu comodismo!

O evangelho da primeira milha é quando escuto a palavra! O evangelho da segunda milha é quando sou transformado! A primeira milha pode até nos levar para o céu! Mas não tem poder de levar ninguém!

A primeira milha é o caminho mais congestionado! É o caminho da desculpa! O caminho da ociosidade! O caminho onde todos estão de braços cruzados!

A segunda milha é o caminho da excelência! Do galardão! Da glória! Do trabalho! Do amor!  O caminho da paciência e da tolerância! É servir com mais intensidade!

Nm. 13 - Fala de 12 espias observando os gigantes! Na volta 10 ficaram temerosos! Dez espias só conseguiram andar a primeira milha!

Os outros dois (Josué/Calebe) incentivaram a prosseguir! A conquistar Canaã! Eles não tiveram medo de enfrentar os gigantes! Só esses dois andaram a segunda milha!

Mt. 19 – Fala encontro de jesus com um jovem rico! Ele queria herdar a vida eterna! Esse jovem fala para jesus as coisas boas que fazia!

Jesus então testa o jovem! Jesus pede que venda tudo e dê aos pobres e o siga! A resposta do jovem foi surpreendente! Ele não gostou do que jesus falou para ele! Jesus sabia que esse jovem passou a vida inteira andando a primeira milha! O amor dele não estava em Deus mas sim na sua riqueza!

Jesus convidou ele a andar a segunda milha! Mas ele desistiu! Ele vai embora! A bíblia não fala mais desse jovem!

Como posso saber se estou andando a primeira ou a segunda milha? A bíblia responde claramente:

Primeira milha: dizimar! O fato de devolver 10% não é mérito! Isso já é de Deus! A segunda milha é além do dízimo eu também oferto a a Deus!

Primeira milha: ler a bíblia! A segunda milha é estudar a bíblia!

Primeira milha: vir para a igreja! A segunda milha é se esforçar para entrar no céu! 

Primeira milha: estou convencido do evangelho! A segunda milha é eu estar convertido!

Primeira milha: estar alerta para o pecado! A segunda milha é vigiar e não cair no laço do pecado!

Primeira milha: sou instruído na palavra! A segunda milha é viver e pregar aquilo que aprendi!

Primeira milha: não odiar o irmão! A segunda milha é amar e perdoar meus inimigos!

Primeira milha: viver para cristo! A segunda milha é morrer por cristo!

Primeira milha: não criticar! A segunda milha diz para eu elogiar!

Primeira milha: preocupar com minha salvação! A segunda milha fala que devo me preocupar com a salvação dos outros!

Primeira milha: não cometer pecado! A segunda milha diz para aborrecer o pecado!

Primeira milha: estar em paz bom minha consciência! A segunda milha é estar em paz com a consciência de Deus!

Jesus nos convida a não sermos servos só de fachada! Veja o que Jesus falou:

Lc 17-10 – assim também vós quando fizerdes tudo que vos foi mandado dizei: somos servos inúteis porque fizemos somente o que devíamos fazer!

Jesus está querendo dizer -  se nós planejarmos fazer 100 coisas durante o dia e se  conseguimos fazer essas 100 coisas, para Jesus não passamos de servos inúteis!

Uma pergunta para meditarmos: será que estou andando na primeira ou na segunda milha? Ou será que não andei nem na primeira milha quanto mais na segunda milha?

José andou a primeira milha na sua casa! A segunda milha ele andou no egito dando testemunho do Deus de israel!

Todo tempo Jesus nos convida a deixarmos de andar só na primeira milha! O amor de Jesus nos ensina a não amarmos as pessoas por interesse! Amor não é moeda para se negociar! 

Tem muito servo que só sabe andar na primeira milha! É muito mais fácil!

Lembre-se: Jesus fez questão de andar sempre a segunda milha!

A decisão é sua!

 

 

  


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