John Wycliffe (1328-1384) foi um teólogo, professor e reformador religioso do século XIV. Foi considerado o precursor de Lutero e Calvino. Propôs uma reforma religiosa, na Inglaterra, que só iria se concretizar dois séculos depois. Nasceu em Yorkshire, Inglaterra, provavelmente no ano de 1328. 1346 foi estudar Teologia, Filosofia e Legislação Canônica em Oxford. Com 26 anos tornou-se mestre do Colégio Balliol, de Oxford. Com 1361 foi ordenado pela Igreja católica, passando a exercer a função de vigário em Fillingham. Voltou para Oxford, onde conclui o bacharelado em Teologia, em 1365 e o doutorado em 1372.
Formação
Com 18 anos Wycliffe foi estudar Teologia,
Filosofia e Legislação Canônica em Oxford. Com 26 anos tornou-se mestre do
Balliol, College de Oxford. Em 1361 foi ordenado pela Igreja católica, passando
a exercer a função de vigário em Fillingham. Em 1363 voltou para Oxford, onde
concluiu o bacharelado em Teologia, em 1365 e recebeu o grau de doutor em 1372.
Contexto histórico
Nessa época, a Inglaterra era governada por
"Eduardo III" (que reinou de 1327 a 1377) e a Carta Magna obrigava o
rei a compartilhar o governo com o Parlamento. Porém, o Parlamento ampliou seu
poder, funcionando como "Corte de Justiça", com direito de aprovar
impostos, legislar e inspecionar a administração, impondo seu controle ao poder
real. De 1309 a 1376 o papado permaneceu instalado em Avignon, na França. E
desde 1337 esses dois países travavam uma guerra política que duraria cem anos.
Diante de toda essa situação, o Parlamento inglês procurava impedir a cobrança
dos impostos eclesiásticos, pois os valores recolhidos pela igreja enriqueciam
os inimigos franceses. Mesmo dentro desse clima, o papa Urbano V, em 1365,
reclamou os impostos que não eram pagos havia 35 anos.
O que defendia Wycliffe
Ainda em 1374, Wycliffe foi convidado pelo
Parlamento para encabeçar as discussões, com os representantes do papa Gregório
XI, sobre as taxações papais, pois a fama do teólogo já era grande. O
Parlamento, com base na argumentação de Wycliffe, declarou que a submissão da
Inglaterra a uma autoridade estranha era ilegal, pois havia sido decidida sem
anuência da nação. Com sua argumentação ganhou hostilidade do clero e favores
do Governo inglês. Foi nomeado reitor de Lutterworth, em Leicestershire, cargo
que manteve até a morte. Ainda em 1374, Wycliffe recebeu uma missão que o levou
a Bruges, Bélgica, na qualidade de delegado do Governo, na incumbência de
tratar da questão papal das “provisões”. Segundo elas, era o direito
tradicional do Santo Padre de nomear quem quisesse para cargos eclesiásticos.
Wycliffe foi contra, mas não conseguiu nada de prático. Após a morte de Eduardo
III, seu neto Ricardo II tinha apenas 9 anos, mas seu tio John de Lancaster ou
de Gaunt, assumiu papel de destaque na vida política inglesa, e nele Wycliffe
encontrou apoio para agir com maior liberdade.
As reformas de Wycliffe
John Wycliffe dedicou-se em traduziu a Bíblia para o inglês, a fim de torná-la acessível ao povo. Atacou a hierarquia eclesiástica, clamando por sacerdotes pobres, e isso teve repercussões ainda maiores em sua popularidade. O alto clero, de modo geral, provinha da nobreza e acumulava os benefícios de seus altos postos na Igreja com as heranças das famílias feudais e já não exercia mais as atividades de caridade e muito menos mantinha voto de pobreza. O alto clero Intervinha nos negócios do Estado e sua vida decorria em ambiente de luxo. Os votos de castidade e pobreza eram ignorados O baixo clero provinha, em grande parte, das camadas mais humildes da população, era pobre e frequentemente analfabeto. Tudo isso era abertamente criticado por John Wycliffe. Suas críticas à Igreja desempenharam importante papel por ocasião da "Legislação Antipapal", aprovada pelo Parlamento em 1376.
Em 1376, publicou “Sobre a Propriedade Privada” no qual afirmava, que todos os direitos, inclusive o da propriedade, emanavam de Deus, que os bens terrenos do clero deviam ser tomados e a Igreja devia se dedicar apenas aos assuntos espirituais. Dizia:
“Qualquer, propriedade na mão do clero é basicamente pecaminosa”.
Afirmava que a possibilidade de usufruto
particular de uma propriedade devia ser resolução atribuída ao Estado e não à
Igreja. Pressupunha a necessidade de encampação pelo Estado das terras
pertencentes à Igreja. No ano seguinte, o bispo de Londres o convocou,
juntamente com seu protetor, John de Gaunt, para depor em um processo em que
era acusado de “erro de pregação”. O julgamento não se realizou, pois os homens
fieis a Gaunt atacaram a guarda pessoal do bispo e Wycliffe se viu livre da
Catedral de São Paulo, onde iria depor.
O papa Gregório XI emitiu cinco bulas
condenando dezoito conclusões de Wycliffe e ordenando sua prisão até a apuração
dos fatos. Mesmo com sua liberdade ameaçada, mais uma vez o reformador
compareceu perante o Parlamento para criticar a saída de valores ingleses para
as mãos da Igreja.
A Igreja e dois Papas
Enquanto isso, a Igreja se dividia. Clemente
VII fora eleito para papa pelo clero francês, em Avignon, e Urbano VI
reconduzia a sede do papado para Roma. O choque entre os dois papas era o que
John Wycliffe precisava para chamar os papas de Anticristo. Voltou-se contra
todos os dogmas da Igreja: absolvição dos pecados, a hóstia, tudo era alvo para
os ataques de Wycliffe. À medida que Wycliffe radicalizava, passava a ser um
entrave à política exterior britânica e Gaunt pediu que ele silenciasse.
Abriu-se um abismo entre Wycliffe e o Parlamento.
Últimos anos e morte
O fervor popular por Wycliffe, despertado por suas ideias cada vez mais críticas sobre as desigualdades sociais, fez crescer a desconfiança que lhe devotava a nobreza, que antes lhe apoiava. Os efeitos da guerra se fazia sentir com mais força entre os mais humildes. A baixa produção, o desemprego e a peste negra deixou um panorama de miséria. O Governo só tomava medidas de proteção aos interesses da nobreza. As doutrinas de Wycliffe serviram de respaldo ideológico para os camponeses, que liderados por Wat Tyler invadiram Londres. A situação só se acalmou com a morte de Tyler e a supressão da servidão, a maior reivindicação do trabalhador rural. Os camponeses saíram de Londres com a libertação dos presos e a promessa de outras medidas. Mas logo a seguir o rei revogou a supressão da servidão. Wycliffe foi condenado pelo arcebispo de Canterbury, embora mantivesse o cargo de reitor. Prosseguiu com seus trabalhos e no fim da vida escreveu “Trialogus”, súmula de suas teorias.
John Wycliffe faleceu em Lutterworth,
Inglaterra, no dia 31 de dezembro de 1384, em consequência de um derrame
cerebral. Em 1415, o Concílio de Constança ordenou que seus restos mortais
fossem queimados e as cinzas jogadas nas águas do rio Swift, que banha
Lutterworth.
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