C. A Infinidade de
Deus.
Infinidade é a perfeição de Deus pela qual Ele
é isento de toda e qualquer limitação. Ao atribuí-la a Deus, negamos que haja
ou que possa haver quaisquer limitações do Ser divino e dos Seus atributos.
Isto implica que Ele não é limitado de maneira nenhuma pelo universo, por este
mundo caracterizado pela relação tempo-espaço, e que Ele não fica encerrado no
universo. Isto não implica Sua identidade com a soma total das coisas
existentes, nem exclui a coexistência das coisas finitas e derivadas, comas quais
Ele mantém relação.
A infinidade de Deus deve ser concebida como
intensiva, antes que extensiva, e não deve ser confundida com extensão
ilimitada, como se Deus estivesse espalhado pelo universo todo, uma parte aqui,
outra ali, pois Deus não tem corpo e, portanto, não tem extensão espacial.
Tampouco deve ser considerada como um conceito meramente negativo, embora seja
perfeitamente verdadeiro que não podemos formar uma idéia positiva da
infinidade. É uma realidade em Deus e só por Ele compreendida plenamente.
Distinguimos vários aspectos da infinidade de Deus.
1. SUA PERFEIÇÃO ABSOLUTA.
Esta é a infinidade do Ser Divino considerada
em si mesma. Não deve ser considerada num sentido quantitativo, mas
qualitativo; ela qualifica todos os atributos comunicáveis de Deus. O poder
infinito não é um quantum absoluto, mas sim, uma santidade qualitativamente
livre de toda limitação ou defeito. O mesmo se pode dizer do conhecimento
infinito, da sabedoria infinita, do amor infinito e da justiça infinita. Diz o
dr. Orr: “Talvez possamos dizer que, em última análise a infinidade de Deus é:
(a) interna e qualitativamente, ausência de toda limitação e defeito;(b)
potencialidade ilimitada”. Neste sentido da palavra, a infinidade de Deus é
simplesmente idêntica à perfeição do Seu divino Ser. A prova bíblica disto
acha-se em Jó 11.7-10; Sl 145.3; Mt 5.48.
2. SUA ETERNIDADE.
A infinidade de Deus em relação ao tempo é
denominada eternidade – Sua eternidade. A forma em que a Bíblia apresenta a
eternidade de Deus é simplesmente a de duração pelos séculos sem fim, Sl 90.2;
102.12; Ef 3.21. Devemos lembrar, porém, que ao falar como fala, a Bíblia
emprega linguagem popular, e não a linguagem da filosofia. Geralmente pensamos
na eternidade de Deus da mesma maneira, a saber, como duração infinitamente
prolongada, para trás e para diante. Mas este é apenas um modo popular e
simbólico de representar aquilo que, na realidade, transcende o tempo e dele
difere essencialmente. A eternidade, no sentido estrito da palavra, é adstrita
àquilo que transcende todas as limitações temporais. Que o termo se aplica a
Deus nesse sentido é ao menos ensinado em 2 Pe 3.8. “O tempo”, diz o dr. Orr,
“estritamente falando, tem relação com o mundo de objetos existentes em
sucessão. Deus preenche o tempo; Ele está em cada partícula dele; mas a Sua
eternidade , todavia, não é realmente este estar no tempo.
É antes, aquilo com o que o tempo forma um
contraste”. Nossa existência é assinalada por dias, semanas, meses e anos; não
é assim a existência de Deus. A nossa vida se divide em passado, presente e
futuro, mas não há essa divisão na vida de Deus. Ele é o eterno “Eu Sou”. A sua
eternidade pode ser definida como a perfeição de Deus pela qual Ele é elevado.
Acima de todos os limites temporais e de toda sucessão de momentos, e tem a
totalidade da Sua existência num único presente indivisível. A relação da
eternidade com o tempo constitui um dos mais difíceis problemas da filosofia e
da teologia, talvez de impossível solução em nossa condição atual.
3. SUA IMENSIDADE.
A infinidade de Deus também pode ser vista com
referência ao espaço, sendo, então, denominada imensidade. Esta pode ser
definida como a perfeição do Ser Divino pela qual Ele transcende todas as
limitações espaciais e, contudo, está presente em todos os pontos do espaço com
todo o Seu Ser. Ela tem um lado negativo e um lado positivo, negando todas as
limitações do espaço ao Ser Divino, e afirmando que Deus está acima do espaço e
ocupa todas as partes deste com todo o Seu Ser. As últimas palavras são acrescentadas
para evitar a idéia de que Deus se difunde pelo espaço, como se uma parte do
Seu Ser estivesse num lugar e outra parte noutro. Distinguimos três modos de
presença no espaço. Os corpos ocupam o espaço circunscritivamente, porque são
limitados por ele; os espíritos finitos ocupam o espaço definidamente, visto
que não estão em toda parte, mas somente num dado e definido lugar; e, em
distinção de ambos estes modos, Deus ocupa o espaço repletivamente, porque ele
preenche todo o espaço. Ele não está ausente de nenhuma parte do espaço, nem
tampouco está mais presente numa parte que noutra.
Em certo sentido, os termos “imensidade” e
“onipresença”, como são aplicados a Deus, denotam a mesma coisa e, portanto,
podem ser considerados sinônimos. Todavia, há um ponto de diferença que deve
ser observado cuidadosamente. “Imensidade” aponta para o fato de que Deus
transcende todo o espaço e não está sujeito às suas limitações, ao passo que
“onipresença” denota que, não obstante, Ele preenche todas as partes do espaço
com todo o Seu Ser. O primeiro salienta a Transcendência, e o último, a
imanência de Deus. Deus é imanente em todas as Suas criaturas, na Sua criação
inteira, mas de modo nenhum é limitado a esta. No que diz respeito à relação de
Deus com o mundo, devemos evitar, por um lado, o erro do panteísmo, tão
característico de grande parte do pensamento atual, com a sua negação da
transcendência de Deus e a sua suposição de que o Ser de Deus é realmente
substância de todas as coisas; e, por outro lado, o conceito deísta de que Deus
está de fato de que Deus está de fato presente na criação per potentiam (com o
Seu poder), não porém per essentiam et naturam (com a essência e natureza do
Seu Ser), e age sobre o mundo à distância.
Apesar do fato de que Deus é distinto do mundo
e não pode ser identificado com ele, não obstante está presente em cada parte
da Sua criação, não somente per potentiam, mas também per essentiam. Não
significa, porém, que ele está igualmente presente, e presente no mesmo sentido
em todas as Suas criaturas. A natureza da Sua permanência está em harmonia com
a das Suas criaturas. Ele não habita na terra do mesmo modo como habita no céu,
nem nos animais como habita no homem, nem na criação inorgânica como na orgânica,
nem dos ímpios como nos piedosos, nem na Igreja como em Cristo. Há uma infinda
variedade nas maneiras pelas quais ele é imanente em Suas criaturas, e na
medida em que elas revelam Deus aos que têm olhos para ver. A onipresença de
Deus é revelada claramente na Escritura. O céu e aterra não podem contê-lo, 1
Rs 8.27; Is 66.1; At 7.48, 49; e ao mesmo tempo Ele preenche ambos e é Deus
acessível, Sl 139.7-10; Jr 23.23, 24; At 17.27, 28.
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