Ulrico
Zuínglio
Na lateral do lado externo da
Catedral da Água (Wasserkirche) na pequena ilha do rio Limmat, em Zurique,
Suíça, fica um monumento com a estátua de um clérigo do século 16. Chama a
atenção o fato de ele estar segurando um livro – tudo indica ser uma Bíblia –
em sua mão direita, próxima ao centro do peito, encontrando, quase apoiando, no
pulso da mão esquerda. Com esta mão, ele segura uma espada apontada ao chão e
que parece ajudar manter o seu equilíbrio. Uma cena não muito típica para
retratar um reformador do século 16, especialmente aos que não conhecem muito
de sua história. Quem foi esse clérigo, por que uma estátua em sua homenagem e
qual foi a sua contribuição para a Reforma Protestante do século 16?
Na base da estátua está a
inscrição Ulrich Zwingli MCDLXXXIV I IANUAR MDXXXI XI OCTOBER – Ulrico Zuínglio
(01/01/1484 – 11/10/1531). Foi importante figura das reformas do século 16 na
Suíça, apesar de não ser tão conhecido quanto Martinho Lutero e João Calvino. A
estátua já nos dá uma noção do tipo de reformas e contribuição de Zuínglio.
Zuínglio foi ordenado padre em
1506, pastoreou a paróquia de Glaurus até ser transferido para Zurique em 1519.
Foi um estudioso e provavelmente o mais humanista dos reformadores. Passou a
questionar algumas práticas da igreja, inclusive o jejum, a abstinência, o
celibato, a doutrina do purgatório e outros ensinos da igreja. Contudo, para
Zuínglio essas reformas eram muito mais motivadas por uma reflexão intelectual
em consequência de seu humanismo e nem tanto por uma questão estritamente
religiosa e de piedade pessoal, como foi, por exemplo, para Lutero.
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A estátua se justifica pela
singularidade de sua contribuição de unir as mudanças de caráter eclesiástico
com mudanças na sociedade. O historiador Philip Schaff sintetiza a perspectiva
da reforma de Zuínglio,
Zuínglio objetivava a reforma
de toda a vida religiosa, política e social das pessoas, baseada nas Escrituras
e pelo poder dela. Para ele, ser patriota, cidadão responsável e cristão era
uma mesma coisa. Ele se posicionou na perspectiva da teocracia do Antigo
Testamento. O pregador é um profeta: seu dever é instruir, exortar, consolar,
repreender o pecado em todas as camadas da sociedade, e erigir o reino de Deus;
sua arma é a Palavra de Deus. O dever do magistrado civil é obedecer ao
evangelho, proteger a religião, punir a impiedade.
Quando as tensões políticas e
religiosas entre protestantes e católicos se acentuaram, Zuínglio participou
ativamente de tentativas de paz. Em 1529, cantões católicos e protestantes
chegaram a um tratado de paz em Cappel, Suíça. Apesar de não ter contentado
Zuínglio completamente, “o primeiro e mais importante dos 18 Artigos do tratado
reconheceu pela primeira vez na Europa o princípio de paridade ou igualdade
legal entre as igrejas católico romanas e protestantes”. Na Alemanha algo
semelhante só ocorreu 26 anos depois, mesmo assim só foi finalmente
estabelecida depois da Guerra dos Trinta Anos e do tratado de Westphalia em
1648.
Essa perspectiva da Reforma
foi levada adiante também por Calvino em Genebra. Zuínglio não viveu para ver
as transformações sociais, políticas e religiosas na Suíça, mas se entregou
integralmente às suas convicções teológicas e compreensão do papel da igreja e
do ministro na sociedade. Foi também seu engajamento com a sociedade e as
questões políticas que o levou à morte em 1531 em campo de batalha, não só como
capelão, mas envolvido pessoalmente nos conflitos armados.
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