O café

 

O café



Etiópia, África. Mil anos atrás. Não há como provar cientificamente quem descobriu o café, mas a versão mais aceita é a lenda de um pastor chamado Khaldi. Ele notou que as cabras, depois de comer os frutos vermelho-amarelados de um tipo de arbusto, ficavam muito mais saltitantes e aguentavam acompanhar as longas distâncias percorridas. Então, ele mesmo provou e se sentiu muito mais disposto!

No judaísmo recomenda-se não beber café nos dias antes de Yom Kipur. O café possui cafeína. Pessoas que estão acostumadas a consumir cafeína em grandes quantidades podem sentir dores de cabeça devido à sua falta no Dia de Jejum.

A princípio, os povos etíopes consumiam a fruta de café crua, misturada com gordura animal. Mais tarde, no intuito de usar o café com fins medicinais, surgiu a ideia de beber o café como infusão, deixando a fruta em água fervente.

Os hábito de tomar café se consolidou mesmo entre os monges, que o bebiam para ajudar a mantê-los acordados durante os longos períodos de oração e leitura. Assim, os primeiros arbustos do gênero Coffea foram plantados dentro dos monastérios islâmicos no Yemen entre 1250 e 1600.

A cultura de consumir o café começou a se consolidar, então, por toda a Arábia, que monopolizou a venda do café no século XVI. Os árabes sabiam do potencial econômico da planta, por isso não permitiam que nenhuma semente fosse exportada.

O café é comum no nosso cotidiano, mas, até 300 anos atrás, só se conseguiria uma planta roubando! De acordo com o folclore indiano, um respeitado monge chamado Baba Budan estava em peregrinação à Meca quando conheceu e se apaixonou pelo café. Ele escondeu sete grãos verdes em suas vestimentas e, assim, conseguiu levar o café para a Índia, sendo reconhecido até hoje pela sua coragem.

Na Arábia e na Turquia foram abertas as primeiras cafeterias do mundo, em Meca e Constantinopla. A cultura do café se espalhou de tal maneira que causou preocupação no governo, e chegou a ser proibido o consumo de qualquer alimento torrado com a cor próxima a carvão. O objetivo da lei era fazer com que as pessoas parassem de se reunir para beber café; afinal, esses encontros eram o combustível perfeito para fomentar uma rebelião.

A solução encontrada pelos turcos foi muito simples: criaram a torra clara!  E você pode conferir mais sobre a relação entre esse povo e o café no post sobre o delicioso Café Turco, aqui mesmo no blog da u.Coffee. No século XV chegou a existir uma lei que permitia uma mulher pedir divórcio caso seu marido não lhe desse café todos os dias!

 

Chegada à Europa

O café chegou na Europa em 1615 denominado por “vinho árabe”, originado da palavra “Qahwa”. Durante a expansão do Império Otomano, viajantes europeus se encantavam pela bebida, mas não podiam nem pensar em levar grãos verdes para suas terras. A proteção árabe era tanta que estrangeiros nem podiam se aproximar das plantações!

Em 1616, entretanto, os holandeses conseguiram levar mudas de Mocka para Amsterdã e as cultivaram em estufas. Em seguida a prática de torrar e moer café foi se espalhando também pela Europa e várias cafeterias foram abertas, em sintonia com a Revolução Científica e o surgimento do Barroco. Era a Idade da Razão – uma época de mudanças culturais, políticas, sociológicas – e o café combinava com tudo isso!

A primeira cafeteria foi a Pasquar Rosee, em Londres (1652). O sucesso foi tão grande que donos de tavernas locais, médicos e vendedores de vinho tentaram boicotar o surgimento de cafeterias, alegando que promoviam perda de tempo, conversas triviais e que a bebida era venenosa. Mas o povo gostava tanto que não havia mais como o governo impedir! Mais tarde abriram o Le Procope em Paris (1686) e o Florian Piazza San Marco, em Veneza (as duas últimas existem até hoje).

 

Cafeteria na Grécia

Pausa para contar o surgimento da primeira cafeteria de Viena – essa história merece ser lembrada! Durante uma guerra em 1683, a cidade estava prestes a ser tomada pelo Império Otomano. Então um jovem polaco chamado Georg F. Kolschitzky, que falava turco fluentemente, atravessou o acampamento dos inimigos vestindo o uniforme deles e cantando canções turcas. Assim ele conseguiu pedir reforços ao duque da Lorena (França) e os vienenses venceram a batalha.

Os turcos abandonaram várias sacas de café no porto e essa foi a recompensa dada a Kolschitzky, que abriu a Hof Zur Blauen Flasche, a primeira cafeteria de Viena! Foi lá que surgiu o café vienense, bebido até hoje com leite, açúcar e chocolate.

E então algo marcante aconteceu. Os holandeses presentearam o Rei Luís XIV com um presente raríssimo: uma pequena planta fértil, que foi preservada nos jardins de Versailles.

A História conta que um soldado da marinha francesa chamado Gabriel de Clieu, em 1723, roubou um pedacinho da planta do rei, que ficava protegida na estufa real. De Clieu era um homem ambicioso, e acreditava no potencial econômico do café. Por isso, enfrentou uma turbulenta jornada pelo oceano Atlântico, com direito a ataque pirata, tentativa de roubo, tempestades e falta de água para levar a pequena muda à Martinica, no Caribe.

No final das contas, a aventura desse soldado foi um sucesso! O café se multiplicou e rendeu frutos, de modo que o sucessor Luís XV o parabenizou pelos seus feitos e, a partir daí, o café se espalhou pela América Central.

Até o final daquele século o café começou a ser plantado em Java (colônia holandesa na época), e a Arábia perdeu seu monopólio. Cafeterias foram abertas pelos holandeses em Nova Amsterdã (Nova York), na América no Norte, e na Filadélfia.

Com plantações espalhadas pelo mundo, os europeus difundiram para sempre o tesouro árabe enquanto criavam uma demanda de mercado cada vez maior. Começaram a cultivar café na África, Suriname, Sumatra, Indonésia, Jamaica, entre muitos outros.

Para se ter uma ideia do quão difundida a cultura do café já estava, veja isso: em 1732, o compositor Sebastian Bach compôs a “Kaffee Kantate”, a cantata do café, a pedido do dono de uma cafeteria alemã. A obra conta a história de um pai que pedia à filha para parar de tomar café e chega até a lhe oferecer um marido para que ela pare. Ela aceita se casar, mas não abre mão do verdadeiro amor, o café.

 

E o Brasil?

Se tem alguém no mundo que é bom no que faz, somos nós – o Brasil – falando de café!

Além de sermos os maiores produtores e exportadores há 150 anos, estamos na segunda posição entre maiores consumidores da bebida. Nossa legislação trabalhista e ambiental em relação ao café é uma das mais exigentes do mundo.

A planta do gênero Coffea gera mais de 8 milhões de empregos e só em 2017 gerou receita de 5,24 bilhões de dólares para o País (Dados do Ministério da Agricultura e ABIC). É claro que tem muita história envolvida nisso, não é? Vamos conferir!

 

Como o café chegou ao Brasil

Como explicado, as plantas de café eram um bem tão precioso que às vezes eram cultivadas dentro de muralhas para que ninguém as roubasse. Podemos dizer que o modo como as primeiras sementes vieram para o Brasil foi fruto de um plano… ardiloso…

O Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta foi enviado em 1727 às Guianas como uma espécie de diplomata para exigir o cumprimento do Tratado de Utrecht (que dizia respeito à fronteira entre as colônias). Mas, na verdade, a tarefa principal era conseguir sementes férteis para o Brasil.

Para alcançar seu objetivo, Palheta se aproximou da Madame d’Orvilliers, esposa do governador de Caiena (capital da Guiana Francesa na época). Não cabe citar neste post as entrelinhas dessa relação, mas o que se sabe é que o militar retornou ao Brasil portando um vistoso buquê de flores, presente da própria Madame, contendo clandestinamente grãos de café dentro.

 

Trajetória do café no Brasil

Cultivados no Pará, tais sementes se multiplicaram facilmente. Foi no sudeste, no entanto, que o café começou a tomar grandes proporções. Entre 1760 e 1780, o desembargador Castelo Branco cultivou café no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Minas Gerais em larga escala.

Em 1779 exportou-se café pela primeira vez, e rapidamente essa commodity (bem manufaturado em larga escala para ao comércio externo) se tornou de grande importância para a economia, sendo um investimento independente da Coroa e que mudou nossa História até os dias de hoje.

O Brasil do século XIX foi financiado pela cafeicultura: estradas e ferrovias foram construídas para escoamento da produção, recebemos imigrantes de vários lugares do mundo (especialmente da Itália), avanços tecnológicos em todos os setores e o pontapé inicial para instaurar a indústria e a urbanização.

Das matas da Tijuca para o vale do Rio Paraíba, para depois Campinas, Minas Gerais, Espírito Santo… rios de dinheiro fluíam dos cafezais e, nessa época, foram construídas enormes fazendas com sedes luxuosas. 70% da produção mundial de café estava por conta do Brasil, e nossos recursos se apoiaram nisso.

Os estados de São Paulo e Minas Gerais foram os que mais enriqueceram, fomentando a política do “Café com Leite”, que alternava os presidentes da República apenas entre paulistas e mineiros.

Não podemos deixar de citar o importantíssimo papel das mulheres, especialmente na colheita e beneficiamento. Assumindo jornadas duplas de trabalho, muitas vezes os nomes femininos nem apareciam nos contratos (que levavam os nomes dos maridos). As esposas dos barões também administravam as fazendas na ausência dos esposos e cuidavam de todos os processos.

Até que, em 1930, o café brasileiro passou pela fase mais difícil; era a época da quebra da Bolsa de Nova York. Uma vez que os países europeus já estavam se recuperando da 1ª Guerra Mundial, as importações de produtos norte americanos diminuíram drasticamente, de modo que a economia dos Estados Unidos entrou em uma crise grave.

Como o Brasil perdeu naquele momento seu maior comprador de café, nossa economia também foi seriamente afetada. O que o governo fez foi comprar toneladas de café dos produtores e queimá-las para diminuir a oferta no mercado. Apesar do desperdício, o ato manteve o preço do café estável e impediu crises mais graves.

A partir desse desequilíbrio na cafeicultura foi que os olhos de investidores se viraram para outro setor e as indústrias despontaram cada vez mais, especialmente no sudeste.

Enquanto isso, fora do Brasil a primeira máquina automática de espresso foi criada pelo italiano Francesco Illy. A Nestlé lançou o café solúvel em 1838, que em 1942 passou a fazer parte do kit de alimentação dos soldados nos EUA. No país, a cultura das cafeterias se expandiu fortemente.

 

Você e o café

Tomar café é um hábito cultural, que existe em muitas partes do mundo e também no Brasil. Por isso, falar sobre esse tema gera muita controvérsia. Mas afinal, quais são os efeitos da cafeína no organismo? Vale a pena seguir a cultura se ela coloca nossa saúde em risco?

É sobre isso que vamos falar neste artigo. Então, continue a leitura para entender qual é o efeito da cafeína e tomar sua decisão de forma consciente. Confira!

 

O que é a cafeína?

A cafeína é um fitoquímico com ação estimulante presente em cerca de 63 plantas, entre elas o fruto do guaraná, cola, chá-mate, chá preto, sementes do cacau e do café.

A maior preocupação não é a  presença da cafeína das plantas, mas o seu uso em grande quantidade em vários produtos destinados para todas as idades.

A cafeína é a substância psicoativa de maior uso hoje. Está presente em alimentos, bebidas energéticas, doces, chás, remédios.

Um estudo publicado pela Associação Médica Americana concluiu que a cafeína é adicionada a refrigerantes por sua natureza viciante, buscando aumentar o consumo.

O estudo foi realizado por cientistas da Universidade John Hopkins e mostrou que a maioria das pessoas que toma refrigerantes não consegue notar a diferença entre bebidas com e sem cafeína. Durante a pesquisa, somente 8% de um grupo de 25 adultos conseguiu detectar a cafeína em refrigerantes.

O restante nem sequer notou a diferença entre bebidas com e sem cafeína, até que os níveis da substância fossem aumentados a níveis além dos aprovados pelo órgão que controla drogas e alimentos nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA).

A pesquisa também mostrou que uma média de 70% dos refrigerantes possuem cafeína nos Estados Unidos e que as versões sem cafeína correspondem a uma média de 5% das vendas. Portanto, a preferência pelos refrigerantes cafeinados não está relacionada a uma possível melhora no sabor, e sim ao fato de que ela realmente vicia.

 

Por que a cafeína pode ser considerada uma droga?

Muitas vezes se entende, pelo senso comum, que para se desenvolver um vício é necessário um consumo exagerado de uma substância. No caso da cafeína, não é assim. A  simples ingestão de 100 mg de cafeína por um período pequeno de 7 dias já é  o suficiente para a formação do vício.

É importante ressaltar que não estamos falando apenas do café, mas também de outras substâncias que possuem a cafeína em sua composição, desde chás, doces até remédios. Evitar ao máximo o consumo dessa substância é a melhor maneira de não desenvolver o vício.

 

Quais são os efeitos do café sobre o corpo?

Evitar os prejuízos que vêm junto com o consumo da cafeína também é muito importante. O consumo de cafeína causa dependência.

Muitos buscam o café pelo seu efeito de estimulação do Sistema Nervoso Central. Ele é conhecido por diminuir a fadiga, aumentar o estado de alerta e também estimular a broncodilatação.

Mas existem outros sintomas que atingem o organismo. A cafeína induz ao aumento da respiração. Em doses elevadas atinge também o sistema cardiovascular aumentando a contratilidade do coração.

O consumo excessivo pode levar a palpitações, convulsões, dores no estômago e na cabeça, perda de apetite, insônia, vômito, náusea, depressão, falta de potência, entre outras coisas.

Mas será que é seguro utilizar a cafeína em doses moderadas? Mesmo as doses com moderação podem provocar sensações intensas de ansiedade, pânico ou medo em alguns indivíduos.

Mesmo pessoas que relatam um uso leve ou moderado de cafeína sentem tensão, ansiedade e disforia depois de ingerirem 400mg ou mais da substância.

O consumo diário de 600mg de cafeína, o que seriam aproximadamente 6 xícaras de café, pode gerar a dependência moderada, assim como letargia, irritabilidade e cefaleia.

Uma xícara de café tem aproximadamente 50 a 150mg de cafeína. Já em uma xícara de chá ou refrigerante se encontra entre 35 a 50mg da substância.

A cafeína é tão intensa que não é preciso um consumo muito grande para chegar a resultados bem prejudiciais. O consumo de 5g a 12g de cafeína pode ser letal. Os sintomas podem incluir até mesmo arritmias cardíacas, convulsões, coma, edema pulmonar, parada cardiorrespiratória.

Em casos extremos como esses, o tratamento é a descontaminação gastrointestinal e de suporte. Para alguns pacientes, é preciso utilizar medicamentos anticonvulsivantes durante a crise.

Mesmo a tolerância a bebidas que contém cafeína pode levar a dependência moderada e até à intoxicação a longo prazo.  

 

Por que dizemos que o café faz mal se ele promove a sensação de bem-estar?

O consumo de cafeína, a princípio, causa uma sensação de bem-estar, um aumento de energia e estímulo. Entretanto, qualquer pessoa que já consumiu de maneira moderada um produto com  alto teor de cafeína já sentiu a dificuldade para deixar esse hábito.

A síndrome de abstinência é a prova do quão prejudicial é a cafeína para o organismo. A  síndrome se manifesta em um período de 12h após o início da sensação gerada pelo consumo e vai atingir seu pico por volta de 24 até 48h após o consumo, podendo durar até uma semana.

Um sintoma bastante comum é a cefaleia, que é seguida pela irritabilidade, ansiedade, fadiga, sonolência, náusea e até mesmo vômito.

 

Como o café contribui para problemas de saúde atuais?

A cafeína tem uma ligação direta com diversos problemas de saúde modernos como a insônia, ansiedade e hipertensão arterial. Como você pode perceber, eles afetam tanto a saúde física quanto a saúde mental.

O primeiro ponto que precisamos considerar é como a cafeína se relaciona ao surgimento ou agravamento da hipertensão arterial. Poucos minutos após o consumo, a pressão arterial já aumenta.

Esse processo não é natural e nem saudável. Ele é acompanhado pelo aumento dos batimentos cardíacos por causar uma maior liberação de adrenalina

A cafeína também tem um forte impacto no sono. Ela tem a capacidade de se ligar aos mesmos receptores da adenosina, inibindo sua atividade e acelerando a atividade neural.

Podemos dizer que é como se a cafeína enganasse o cérebro bloqueando os receptores e fazendo com que a sensação de sono e fadiga cesse, só que momentaneamente.

O efeito de uma xícara de café, por exemplo, é de  cerca de 6 horas. Quando o efeito passa  e seu corpo “pede” mais cafeína, o sono é afetado negativamente. Com o desequilíbrio hormonal surge a insônia, a ansiedade e também irritabilidade.

 

O café traz algum benefício à saúde?

Aqueles que defendem o uso da cafeína, em grande medida pelo consumo do café, acreditam que seu uso traz benefícios para o corpo. Isso se deve ao fato de que o café tem alguns antioxidantes em sua composição, chamados polifenóis.

Mas é importante destacar que esses antioxidantes estão presentes de forma abundante em alimentos que contribuem muito para a saúde, como o mirtilo, as maçãs vermelhas, as groselhas, amoras e uvas pretas e também nas oleaginosas, nas ervas e nas hortaliças.

Os polifenóis são substâncias importantíssimas para prevenção de doenças cardiovasculares, na atividade anti-inflamatória e na prevenção da diabetes e obesidade.

Quando ingerimos essa substância por meio de alimentos saudáveis, trazemos não apenas os benefícios dos próprios polifenóis para o corpo, mas também outros benefícios que potencializam a saúde, como o consumo de vitaminas essenciais.


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