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O cristão e a música
A
Bíblia aborda a música como uma forma de expressão e comunicação, seja no
contexto do culto religioso, da vida cotidiana ou da celebração espiritual. A
música, ao longo da história cristã, tem sido utilizada para louvor, adoração,
ensino e expressão emocional, tanto em contextos religiosos quanto em
experiências pessoais.
Claro
que não! Simples e objetivamente: um cristão não deve ouvir música do mundo.
“Nossa, Zágari, agora você foi radical, pegou pesado!”, você poderia dizer.
Calma. Antes de discordar do que escrevi e me crucificar, é importante que
entenda exatamente o que estou querendo dizer. É que há um ponto nevrálgico
nessa discussão: temos de compreender precisamente o que é “música do mundo” –
que não necessariamente é o que se costuma chamar por aí de “música do mundo”.
Pois música “secular” é uma coisa, música “do mundo” pode ser outra
completamente diferente. E aí nós temos uma questão interessante a debater.
Que, para solucionar, temos que pensar sempre dentro da Bíblia.
(Só
um alerta, em amor: essa questão não se define em 3 ou 4 parágrafos. Por isso,
este será um post longo e, se você estiver sem tempo de ler ou não tiver
paciência de ler textos compridos, sugiro que nem vá adiante. Mas, se quiser
prosseguir, vamos juntos, passo a passo.)
1.
O que a Bíblia chama de “mundo”?
Primeiro
temos que compreender o que a Biblia chama de “mundo”. No contexto das
Escrituras, “mundo” (do gregokosmos) é todo um sistema de valores e práticas
que se opõem ao Evangelho, ou seja, àquilo que Jesus ensinou. Ao Reino de Deus.
Às boas-novas de salvação. Logo, tudo o que contraria os genuínos ensinamentos
cristãos, a ética cristã, a moral cristã, os conceitos bíblicos é… do mundo. E,
nesse sentido, não é “mundo” com significado de “universo” ou “planeta terra”,
mas no sentido de tudo aquilo que, em resumo, levaria Jesus a fazer careta.
2.
Os cristãos não devem se misturar com o que é do mundo
Tendo
entendido o que é “mundo” segundo a Biblia, vamos ao segundo passo: provar
biblicamente que Jesus e o que é do mundo não se misturam. E, logo, que o
cristão e o que é do mundo não se misturam. Para isso, vamos à Palavra de Deus:
1 João 2:15 – “Não ameis o mundo nem as coisas
que há no mundo. Sealguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele”.
João
1:10 – “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito porintermédio dele, mas o
mundo não o conheceu”.
1 Jo 4.4,5 – “Filhinhos, vós sois de Deus e
tendes vencido os falsosprofetas, porque maior é aquele que está em vós do que
aquele queestá no mundo. Eles procedem do mundo; por essa razão, falam daparte
do mundo, e o mundo os ouve”.
João
3:17 – “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o
mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”.
João
15:19 – “Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia,
não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos
odeia”.
Há
muitas outras passagens, como a famosa Jo 3.16, mas, para não tornar este texto
demasiadamente enfadonho, acredito que essas já são suficientes para demonstrar
essa realidade: se você é cristão, se você é sal da terra e luz do… mundo… não
deve se misturar ao que vai contra Cristo e aos ensinamentos de Cristo.
E
tudo o que vai contra Cristo… É mundo.
Até
aqui tudo bem? Ficou claro que, segundo a Biblia, o cristão não deve se
misturar com valores anticristãos, ou seja, mundanos? Ok então, vamos adiante.
3.
O que é música “do mundo”?
Seguimos
para o terceiro e fundamental passo: dedinir o que exatamente é “música do
mundo” – aquela que, pelo que já vimos pelos dois passos anteriores, tem de ser
evitada pelo cristão. “Música do mundo” seria, então, aquela que contraria o Evangelho, que se opõe
aos ensinos de Jesus, que leva aos ouvidos (e, em seguida, ao cérebro e, como
consequência, ao coração e à alma) mensagens que batem de frente com a ética de
Cristo, com as boas-novas do Reino de Deus. Então, o conceito de “música do
mundo” está ligado diretamente a aquilo que determinada canção diz: seus
valores, sua filosofia, seus ensinamentos.
Portanto,
biblicamente, uma música ser ou não do mundo não tem nada a ver com estilo
musical, instrumentos utilizados, melodia, harmonia ou ritmo. Tem a ver com
MENSAGEM. Com o que ela diz. Com o que ela defende. Com o que ela ensina.
Tendo
compreendido isso, vamos falar a respeito de alguns mitos e algumas verdades
sobre música “do mundo” e música “cristã”:
Fato
1) A Bíblia não determina cantarmos ou ouvirmos apenas músicas religiosas
Embora
todos amemos e devamos louvar, elogiar o Senhor em canções e reconhecer quem
Ele é e faz, a Bíblia não afirma diretamente em nenhuma passagem que o cristão só
pode ouvir músicas que falem de Deus ou que sejam louvores. Pelo contrário, uma
leitura atenta dos livros de Salmos,
Cântico dos Canticos e até mesmo Jó, por exemplo, demonstram que a exaltação da
criação de Deus, do amor, de sentimentos
belos são algo lícito ao povo de Deus. O Salmo 150 infere que louvar deve ser
uma explosão de amor pelo Criador. Mas não
há proibição bíblica de cantar o amor de um homem pela mulher que ama,
por exemplo. Assim, não é antibíblico (logo, não é pecado) eu escrever uma poesia de amor para minha amada
ou mesmo uma que exalte as belezas da cidade onde vivo e em seguida musicar
esses versos. Poderia, por exemplo,
cantar…
Eu
sei que vou te amar
Por
toda a minha vida eu vou te amar
Em
cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente,
eu sei que vou te amar
ou
Cidade
maravilhosa,
Cheia
de encantos mil!
Cidade
maravilhosa,
Coração
do meu Brasil!
Jardim
florido de amor e saudade,
Terra
que a todos seduz,
Que
Deus te cubra de felicidade,
Ninho
de sonho e de luz.
…e
não estaria cometendo absolutamente nenhum pecado. Simplesmente porque nada do
que a letra dessas músicas diz contraria o Evangelho, se opõe aos ensinos de
Jesus, leva ao coração mensagens que batem de frente com a ética de Cristo, com
as boas-novas do Reino de Deus. Então a conclusao lógica e bíblica é que
músicas de amor, canções que exaltam belezas naturais ou até mesmo que, sei lá,
contem uma história sobre dois capiaus em visita a uma fazenda – e muitos
outros tipos de músicas seculares que não necessariamente são cantadas em
igrejas, gravadas por cantores supostamente cristãos ou que sejam tocadas em
rádios ditas “evangélicas” – são “música do mundo”. Simplesmente porque não se
encaixam na definição bíblica de “mundo”. Não contrariam a Bíblia. Não se opõem
a Cristo. Não ensinam nada diferente do que está nas Sagradas Escrituras.
São
músicas seculares? Sim. São músicas que não necessariamente falam de Deus ou de
seus feitos? São. Mas são músicas que contrariam Cristo ou o Evangelho? Não.
Então, evidentemente não são louvores ou músicas sacras, mas também não são
músicas “do mundo”, ou seja, músicas pecaminosas.
Fato
2) Muitas músicas seculares são sim “do mundo” e devemos evitá-las
Aí
você pode estar pensando “Uhu! Então liberou geral! Posso ouvir o que quiser!”.
Nananinanão. Não é bem assim. Biblicamente você pode ouvir uma música que não
necessariamente fale de Deus, mas você SEMPRE tem que prestar atenção na letra
das músicas, na MENSAGEM que elas transmitem. Se essas músicas apregoam valores
antibíblicos, porque aí sim elas são músicas do mundo. E aqui vou dar exemplos
práticos. Em pleno Rock in Rio, li no twitter uma cristã dizendo que estava
triste porque não poderia assistir ao show dos Titãs. Por isso, decidi tomar
esse grupo como exemplo. Bem, os Titãs têm músicas cujas mensagens são
claramente antibíblicas. E, por definição, são “música do mundo”. Por exemplo,
comecemos com a música mais óbvia, chamada Igreja. Leia com atenção a letra,
com especial atenção ao que está em negrito:
Eu
não gosto de padre
Eu
não gosto de madre
Eu
não gosto de frei.
Eu
não gosto de bispo
Eu
não gosto de Cristo
Eu
não digo amém.
Eu
não monto presépio
Eu
não gosto do vigário
Nem
da missa das seis.
Não!
Não!
Eu
não gosto do terço
Eu
não gosto do berço
De
Jesus de Belém.
Eu
não gosto do papa
Eu
não creio na graça
Do
milagre de Deus.
Eu
não gosto da igreja
Eu
não entro na igreja
Não
tenho religião.
Não!
Não!
Não gosto! Eu não gosto!
Não!
Não gosto! Eu não gosto!
Agora…
você, que é cristão, me responda sinceramente: você cantaria essa música
achando que “não tem nada a ver”? Se alegrando, sorrindo e pulando? Isso é algo
que uma pessoa lavada e redimida pelo sangue daquele que foi à Cruz pelos
pecadores sai cantando feliz da vida? Haveria anjos ao redor se alegrando? Você
responda.
Vamos
a outra: Homem Primata. Selecionei um trecho:
Eu
aprendi
A
vida é um jogo
Cada
um por si
E
Deus contra todos
Você
vai morrer
E
não vai pro céu
É
bom aprender
A
vida é cruel…
E
aí, crente? Cantamos e nos alegramos cantando isso? “Deus contra todos”? Por
favor, apenas pare um minuto para pensar no que você está cantando: “Deus
contra todos“! Como assim?!
Para
completar o pacote, só mais uma, da qual extraio um trecho: Epitáfio
O
acaso vai me proteger
Enquanto
eu andar distraído
O
acaso vai me proteger
Enquanto
eu andar…
O
acaso? Mas se a Bíblia diz que há um Deus que controla todas as coisas, como
seria possível que “o acaso” protegesse alguém? Biblicamente, “acaso” é um
conceito que não existe. Logo, Epitáfio traz uma mensagem antibíblica. E, logo,
lamento informar, é música do mundo.
Usei
os exemplos do Titãs porque é um grupo bem conhecido e você possivelmente já
cantou essas canções (e outras que são tão chulas que nem me atrevo a escrever
a letra aqui), como eu mesmo já cantei milhares de vezes antes de Jesus me
converter, fui a shows, comprei os CDs. Só que aí somos salvos, o Espírito
Santo passa a habitar em nós e começa a nos convencer do pecado, da justiça e
do juízo. E você, que é salvo, sabe como essas coisas nos incomodam, não é? Aí
você começa a ouvir as MENSAGENS que grupos como os Titãs passam em músicas
como essas (e olha que só citei três, hein) e algo faz um clique no teu
espírito sobre esse papo “careta”, “radical”, “ortodoxo” e “fundamentalista” de
“não ouvir música do mundo”.
Mas,
para não ficarmos falando somente de uma banda, deixe-me pegar apenas um outro
exemplo de um universo de grupos e cantores que poderiam pegar: o conhecido
Barão Vermelho. Seleciono uma música que tem um título bem sugestivo e que era
a minha preferida deles antes de Jesus me justificar, chamada Nunca existiu
pecado. Reproduzo as 3 primeiras estrofes:
A
rapidez velha do tempo
Revive
inquisições fatais
Um
novo ciclo de revoltas
E
preconceitos sexuais
Por
mais liberdade que eu anseie
Esbarro
em repressões fascistas
Mas
tô a margem disso tudo
Desse
mundo escuro e sujo
Não
tenho medo de amar
Pra
mim nunca existiu pecado
Essa
vida é uma só
Nesse
buraco negro eu não caio.
Ou
seja, Barão Vermelho está defendendo por meio da mensagem dessa letra que:
1.
Não existe pecado;
2.
O Cristianismo é sexualmente preconceituoso;
3.
A ética de Cristo é uma “repressão fascista” porque contraria aquilo que o
pecador deseja fazer;
4.
Quem afirma que existe pecado (obviamente nós, cristãos) representa um “mundo
escuro e sujo”;
5.
A defesa da ideia de que existe pecado é um “buraco negro”.
Agora
me diga você: em sua opinião, a letra dessa música contraria o Evangelho, se
opõe aos ensinos de Jesus, leva ao coração mensagens que batem de frente com a
ética de Cristo, com as boas-novas do Reino de Deus… ou não? Se a sua resposta
foi “sim”, então essa é uma música “do mundo”. Portanto, chegamos aqui à grande
conclusão: segundo os padrões bíblicos, “música do mundo” NÃO é sinônimo de
“música secular”. Logo, as músicas do mundo sim, devemos evitar. As seculares,
não necessariamente.
Fato
3) Não existe um estilo musical chamado “música evangélica”
O
que existe é música feita a partir de realidades bíblicas. E que podem ser
feitas em diferentes estilos. “Vem com Josué lutar em Jericó…”, por exemplo, é
rock. “Aquele que tem sede busca beber da agua que Cristo dá…” por sua vez, é
axé. Cassiane em geral tem muito forró. E por aí vai. Logo, não existe nenhum
estilo “maldito” ou, como diz um amigo meu, “não existe dó maior ungido e sol
sustenido endemoninhado”. Se você for analisar com cuidado, verá que “música
evangélica” no imaginário popular é:
●
Música cantada em igreja;
●
Música cantada por cantor que frequenta igreja (dito “cantor evangélico”);
●
Música gravada por grupo de louvor de igreja;
●
Música que toca em rádio “evangélica”;
●
Música lançada por gravadora “evangélica”;
●
Música que consta em algum hinário tradicional.
Só
que, desses itens, alguns são muito duvidosos. Das músicas cantadas em igrejas,
muitas carregam em si heresias e são músicas “do mundo” (calma, falaremos em
detalhes sobre isso daqui a pouco). Eu conheço pessoalmente “cantores
evangélicos” que vivem como pagãos, são pecadores, só estão atrás dos bens
materiais que sua notoriedade pode lhes proporcionar. Conheço “grupos de
louvor” que tocam pela fama e o dinheiro e não por um desejo real de louvar o
Senhor. Sei que muitas “rádios evangélicas” só existem para gerar lucro e poder
para seus donos, que por sua vez vivem vidas pecaminosas e totalmente fora do
Evangelho. Conheço os bastidores de certas “gravadoras evangélicas” onde o
ambiente é tão mundano que nenhum funcionário confia em sair pra almoçar e deixar
a bolsa em cima da mesa, pois ocorrem furtos ali dentro. E entenda: eu conheço.
Não ouvi falar. Sei o que estou dizendo.
Portanto,
dizer que só podemos ouvir “música evangélica” (se por “música evangélica”
entendermos o que mencionamos acima) é uma afirmação cheia de buracos.
Fato
4) Fazer versões de músicas seculares com letras cristãs não é pecado
Pelo
contrário, é uma prática muito, mas muito mais usual em nossos hinários do que
você imagina. Uma enorme quantidade das músicas contidas em hinários como a
Harpa Cristã e o Cantor Cristão, por exemplo, originalmente eram canções
entoadas em prostíbulos (não vou dizer quais para que da próxima vez que você
for cantá-las não as considere indignas). Os músicos que tocavam nessas casas
de pecado se convertiam, pegavam as melodias que conheciam (muitas das tinham
letras originais que falavam sobre encher a cara de uísque e vinho, além de
coisas similares), punham letras cristãs e passavam a cantá-las durante os
cultos, nas igrejas. Isso é histórico, basta você estudar um pouco sobre isso
que vai comprovar, não estou inventando nada disso.
E
não só músicas de bordel. Músicas seculares de outras linhas também. O hino 185
da Harpa Cristã, por exemplo, é o Hino Nacional da Inglaterra com uma letra
cristã: “Vem tu, ó Rei dos reis, buscar os teus fiéis…“. Já o conhecido hino
“Os guerreiros se preparam para a batalha…” é o Hino Nacional das Ilhas Fiji,
você sabia? O tradicionalíssimo hino “Vencendo vem Jesus” (Glória, glória.
Aleluuuuuia!) é uma versão de uma música militar da época da guerra civil
americana chamada “John Brown”s Body”, que exaltava os esforços de um homem na
guerra. Um mulher cristã ouviu a melodia, gostou e pôs um letra cristã. E, a
partir daí, começamos a cantar em nossas igrejas, Deus sempre foi louvado
maravilhosamente por intermédio dessa canção, a entoamos ainda hoje e o religare
do homem com o Criador ocorre perfeitamente – apesar da origem pagã da música.
Ou você achava que essa música desceu do céu trazida por um anjo numa bandeja
de prata? Não, muitas músicas que consideramos “hinos sagrados” (e são!!!) têm
origem secular e são adaptações feitas para o canto religioso.
Mais
recentemente há exemplos como o do cantor Marco Aurélio, que gravou “Caminhada”
(“Eu vi Jesus, Jesus me viu, no mesmo instante me redimiu…“). Ela nada mais é
do que a canção “My Way”, cantada por músicos como Frank Sinatra e Elvis
Presley. E por aí vai. A pergunta é: essas versões deixam de ser válidas ou
dignas de serem cantadas em cultos e igrejas como hinos congregacionais porque
originalmente eram seculares? De jeito nenhum. Pois tornaram-se músicas com
MENSAGENS cristãs.
Fato
5) Muita música dita “evangélica” é “do mundo”
E
aqui chegamos ao ponto mais polêmico de todos. Só porque uma música foi
composta ou é cantada por alguém que se apresenta como cristão isso não quer
dizer que ela transmita valores biblicamente corretos. Há muitas e muitas
músicas “evangélicas” que são “do mundo”. Exemplo: tem um conhecido grupo
gospel (que inclusive saiu brigado de sua igreja) cujo vocalista (que agora já
saiu da banda para seguir carreira solo) na “ministração” antes de começar uma
de suas mais cantadas músicas em igrejas fala como se estivesse orando a
seguinte frase (está registrada inclusive no CD):
–
Nós queremos um romance contigo, Senhor.
Peraí.
“Romance” com Deus? O Todo-Poderoso Criador dos Céus e da Terra agora virou o
quê? Nosso namoradinho? Desculpem-me, mas isso é antibíblico e, logo, mundano.
Outro
exemplo: um conhecido corinho cantado em muitos louvores, às lágrimas, por
muitos de nós, diz a seguinte coisa:
Diante
dEle se dobram os reis
E
se prostram para O adorar
Nem
os anjos que O cercam louvando
Se
permitem sua face olhar
Só
tem um detalhe: essa letra é antibíblica. Mateus 18.10 diz: “Cuidado para não
desprezarem um só destes pequeninos! Pois eu lhes digo que os anjos deles nos
céus estão sempre vendo a face de meu Pai celeste”. Então temos que decidir se
os anjos contemplam a face de Deus ou não. Eu fico com a Bíblia, que diz que
sim, os anjos contemplam a face de Deus, ao contrário do corinho. E se o
corinho diz algo que vai contra o que está na Bíblia, desculpem, é “música do
mundo”. “Ah, Zágari, você está sendo radical, o resto da música é perfeito ,
afinal, é um louvor tão bonito…”, alguém poderia dizer. Bem, aí entram 1 Co 5.6
e Gl 5.9, que dizem que, biblicamente, um pouco de fermento leveda toda a
massa. Nesse sentido sou radical sim: basta uma única e pequena heresia na
letra de um “corinho”, de um “hino” ou de um “louvor” (como você preferir
chamar) para o descartarmos dos nossos cultos.
Isso
sem falar dos chamados “corinhos do fogo”, muito habituais nas igrejas
pentecostais não-reformadas. Tem um que diz “O fogo santo está queimando, o
Espírito Santo está batizando“, referindo-se ao que os pentecostais chamam de
“batismo no Espírito Santo” e os tradicionais de “plenitude do Espírito”,
seguindo a linha defendida por teólogos como John Stott. Fato é que,
biblicamente, o responsável por esse fenômeno é Jesus, o Deus Filho, e não o
Espírito Santo. Outro ensino antibíblico e, portanto, “do mundo”.
Fato
é que toda letra de cânticos (congregacionais ou não) “evangélicos” deve ser
submetida ao crivo bíblico. O certo não é o que a pessoa sente, se ela fica
emocionada, arrepiada ou se chora: o certo é o que está de acordo com a Bíblia. Como afirmou o Pr. Isaltino Gomes Coelho
Filho em palestra durante um Encontro de Músicos, na PIB de Manaus, “Raramente
se fala de Jesus, e, quando se fala, dá para notar que Jesus é muito mais um
conceito para dentro do qual as pessoas projetam seus sonhos de consumo ou de
classe média do que o Redentor e Salvador. A linguagem é horrorosa: mergulhar
nos teus rios, beber nos teus rios, voar nas asas do Espírito, estar apaixonado
por Jesus, subir acima dos querubins… uma série de expressões que não fazem
sentido algum”, afirmou Pr. Isaltino. E, convenhamos, com toda razão.
Cantamos
na igreja sem saber o que estamos cantando, por ignorância teológica e porque
determinada música toca na rádio, é de um grupo famoso, está na moda e o povo
gosta. Por exemplo, no “corinho” abaixo…
Quero
subir ao Monte santo de Sião
E
entoar o novo cântico ao meu Deus
Mais
que palavras minha vida eu quero entregar
Purifica
o meu coração para entrar em Tua presença
contemplar
a Tua grandeza
…o
que as pessoas não sabem por desconhecimento bíblico é que o “monte santo de
Sião”, segundo Hebreus 12.22-24, é um símbolo do Evangelho, da Igreja de Deus.
Consequentemente, todo cristão já está no “monte santo de Sião”. E, por isso,
não há teologicamente, segundo o Novo Testamento, por que “subir” nele. Mais um
equívoco bíblico. Também cantamos em nossas igrejas:
Eu
só quero Te amar,
Eu
só quero ver Tua face
Quero
Tocar Seu coração
Eu
só quero Te amar,
Eu
só quero ver Tua face
O
mesmo cantor tem outro corinho que diz:
Quero
te ver, quero te ver
Eu
quero te tocar,
eu
quero te abraçar
Quero
te ver
Detalhe:
é importante repararmos que o cantor está dizendo que quer ver Deus e sua face
EM VIDA e não no porvir. Só que se nós formos ler Êxodo 33.20, é claríssimo e
inequívoco o que Deus diz a Moisés: “Não me poderás ver a face, porquanto homem
nenhum verá a minha face, e viverá”. Então o que estamos pedindo nesses
corinhos é para ver a face de Deus e morrer? Algo está biblicamente errado e,
se formos analisar, estamos fazendo pedidos mundanos a Deus. Como eu “quero te
ver” se Ele diz na Biblia que “homem nenhum verá a minha face , e viverá”?
Instinto suicida?
Em
João 12.45 e João 14.9 Jesus afirma claramente a forma de ver o Pai: ver a Ele
próprio, Jesus. “Quem me vê a mim vê o Pai”. Logo, é buscando Cristo e sua
pessoa em espírito que temos acesso a Deus, não tem nada a ver com “eu só quero
ver a tua face”. No discurso de Pedro no dia de Pentecostes em At 2.28, ele
deixa claro que contemplar Deus face a face só ocorrerá na eternidade: “Com a
tua face me encherás de júbilo”. A face de Deus é biblicamente inalcançável
nesta vida. Logo, por que ficamos cantando pedindo para”ver sua face”, já que
isso biblicamente não é possível – logo, é antibíblico? Pronto, não me odeie
por dizer isso, mas a falta de canonicidade nessas afirmações de corinho tornam
músicas como essas…músicas “do mundo”.
Conclusão
Falar
sobe música “evangélica”, “do mundo”, “sacra”, “cristã” ou “secular” é um
assunto muito sensível. Pois mexe com muitas ideias pré-concebidas, com muitas
práticas que mutidões adotaram por décadas em sua vida de devoção, é contrariar
crenças e práticas. Para um pastor, chegar à concusão de que um corinho que ele
cantou por anos em sua igreja é música “do mundo” e, assim, removê-lo do rol de
canções que são executadas no culto não é uma tarefa fácil. Exige oração,
humildade e temor sincero a Deus. Para uma ovelha que anatemizou durante anos
músicas seculares achando que “rock é coisa do diabo” e de repente descobrir
que bandas de “rock gospel” como Oficina G3 têm letras e mensagens muito mais
bíblicas do que certos hinos de 200 anos de idade exige quebrantamento.
Não
estou falando aqui de estilo musical. Pois a Bíblia não fala de estilo. Logo,
estilo é um assunto restrito aos gostos pessoais e não tem a ver com doutrinas
e teologia. Se uma música deve ter bateria ou não, se ela pode ser acelerada ou
não, se é rock, forró, bolero, valsa ou o que for, não importa. Simplesmente
porque biblicamente não importa. O tal gênero “música evangélica” não existe.
Cada “música evangélica” carrega um estilo próprio, seja esses que já mecionei,
seja algum diferente, como black music, hip hop, blues, bossa nova, sertanejo,
jazz, new wave, pop, reggae, samba, ska ou qual for. Dizer que “música tal não
é do mundo porque é estilo evangélico e não rock” é uma inverdade. Pois há
músicas evangélicas que são rock. E – repetindo – estilo musical só depende de
uma única coisa: gosto pessoal. Não tem nada a ver com Bíblia. Se estou errado,
por favor que alguém me prove nas Sagradas Escrituras.
Sendo
assim, nós temos de nos voltar para o que interessa: a MENSAGEM. A pergunta que
devo sempre me fazer é “o que essa música está dizendo contraria algo da
Bíblia?“. Se a resposta for “não”, defendo que é uma música que pode ser ouvida
por um cristão. Pois vai trazer alegria, paz, prazer. Sendo ela secular ou
religiosa. Ouvir Mozart, Bach, Haendel, Mendelssohn ou uma boa ária de ópera,
por exemplo, pode acalmar a alma de alguém em estresse e assim criar uma
condição em seu coração que lhe permitirá orar a Deus com muito mais entrega.
Eu já entrei muitas vezes na presença de Deus ouvindo o violinista judeu Itzhak
Perlman executar ao violino o tema do filme “A Lista de Schindler”, por
exemplo. Chorei. Me derramei. E fui muito mais sincero e entregue a Deus do que
se tivesse posto para ouvir um desses CDs de pop brega evangélico.
A
ao fazermos a pergunta “o que essa música está dizendo contraria algo da
Bíblia?” temos de estar preparados para sofrer. Pois vamos perceber que muito
do que cantamos em nossas igrejas é música “do mundo” pela simples razão de que
afirma coisas que a Bíblia não diz.
Sei
que o que aqui escrevi contraria a crença de muitos. Certa vez, ao ministrar
numa Escola Dominical uma aluna ficou tão ofendida pela verdade que falei de
que hinos da Harpa Cristã vinham de bordéis que se levantou e se retirou da
sala. Sei que isso mexe com convicções e emoções. Mas não posso jamais fugir do
que as Sagradas Escrituras dizem. Não podemos fugir da verdade. São as
Escrituras que devem sempre nos nortear – e não aquilo que ficou estabelecido
pela cultura popular (em especial a cultura popular evangélica) ao longo das
décadas. E falo como evangélico, não sou desses pastores e teólogos revoltados
que inventaram agora que ser “evangélico” é palavrão. Nada disso. Falo como
filho da Reforma Protestante, herdeiro de Jesus e também de reformadores como
Lutero e Calvino. Não renego minhas origens. Sou cristão, de tradição
evangélica e me orgulho disso.
Para
terminar, volto ao início de nosso texto, para a pergunta-título deste artigo.
Se você me perguntar “um cristão deve ouvir música do mundo?”, eu vou voltar a
afirmar: “Claro que não!”. Pois o cristão deve sempre caminhar de acordo com as
Sagradas Escrituras.
E,
TENDO A LIBERDADE DE OUVIR MUSICAS SECULAR OU RELIGIOSA, TER PRUDÊNCIA, se uma música, secular ou religiosa, traz em
si ensinamentos antibíblicos… meu irmão, minha irmã, jogue o CD fora.
Por:
Maurício Zágari
Editado
por: Joel Silva
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