A Maçonaria e o Presbiterianismo

 

A relação entre a maçonaria e o

presbiterianismo no século XIX

 


 

No século XIX, ocorreram  grandes  mudanças  na Europa  e, com o tempo, em todo o mundo; as novas ideias trazidas por essas mudanças chegaram, também, ao Brasil. Elas renovaram a sociedade brasileira em vários aspectos, inclusive no religioso. A Maçonaria chegou ao Brasil nesse contexto, trazendo consigo o lema que forma a sua base: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Por isso, no desenvolvimento da História, vemos sua influência em muitos eventos; com destaque especial para a Revolução Francesa. Ela foi trazida para o Brasil por estudantes que retornaram da cidade de Coimbra com novos ideais; são eles que colocam em prática as ideias que estavam ocorrendo na Europa. Enquanto isso, os imigrantes protestantes chegaram a solo brasileiro e iniciaram suas atividades religiosas, ganhando espaço por meio do auxilio de maçons e de Lojas Maçônicas. Assim, o papel exercido pela Maçonaria no Brasil, especificamente, como auxílio ao Presbiterianismo, foi de grande importância para a inclusão e desenvolvimento da tradição reformada até os nossos dias.

 

INTRODUÇÃO

Quando estudamos a trajetória da Maçonaria, percebemos que esteve presente em alguns acontecimentos históricos. Provavelmente, a Revolução Francesa seja o exemplo mais lembrado, uma vez que os ideais de “Igualdade, Liberdade e Fraternidade” eram comuns aos revolucionários e aos maçons. Eric 1. Hobsbawm diz:

Não obstante, um surpreendente consenso de ideias gerais entre um grupo social bastante coerente deu ao movimento revolucionário uma unidade efetiva. O grupo era a “burguesia”; suas ideias eram as do liberalismo clássico, conforme formuladas pelos “filósofos” e “economistas” e difundidas pela Nlaçonaria e associações informais (2004, p. 90).

Além disso, tendo por objetivo unir todas as religiões do mundo, a Maçonaria entrou em choque com a Igreja Católica, e, como resultado deste conflito, houve a elaboração de um primeiro documento, iniciando o distanciamento entre as duas instituições: a Constituição Apostólica (Bula Papai) in eminenti apostolatus specula (de 28 de abril de 1738), do papa Clemente XII (1730— 1740) (TERRA, 1996), afirma em parte de seu texto:

Por isto proibimos seriamente, e em virtude da santa obediência, a todos e a cada um dos fieis de Jesus Cristo de qualquer estado, grau, condição, classe, dignidade e preeminência quer sejam, laicos ou clérigos, seculares ou regulares, ainda os que mereçam uma menção particular, ousar ou presumir sob qualquer pretexto [...] entrar nas ditas sociedades de franco-maçons ou as chamadas de outra maneira (COLUSSI, 2002, p. 13).

Esta Bula Papai foi suficiente para difundir uma imagem e um conceito subversivos a respeito da Maçonaria, fato que ocorre até os dias atuais.

O presente artigo não visa a defender e nem atacar os Maçons e nem os simpatizantes da sublime ordem, mas promover um poouco mais de conhecimento a todos os que se interessam pelo assunto e mostrar que a Maçonaria, com a proposta de unir os homens e as religiões, contribuiu para o avanço e fixaçáo de um ramo do Cristianismo em solo brasileiro: o Presbiterianismo.

Desta forma, amparados em fontes secundárias, abordaremos a “Relação entre Maçonaria e Presbiterianismo”, apresentando algumas das várias formas em que, amigavelmente, a Maçonaria contribuiu para a inclusão desta tradição reformada no Brasil do século XIX.

Sabe-se que a Maçonaria tem por objetivo Ievar adiante o seu lema: Igualdade, Liberdade e Fraternidade. Assim, propomo-nos a apresentar neste artigo alguns fatos históricos que comprovam a relação amigável entre a Maçonaria e o Presbiterianismo neste Brasil do século XIX.

Ao analisarmos o trabalho presbiteriano em solo brasileiro, sem dúvida alguma, não podemos desconsiderar a contribuição que a Maçonaria ofereceu para a inclusão do Presbiterianismo no Brasil. Em carta datada em 3 de fevereiro de 2007, endereçada ao Dr. Athos Vieira de Andrade, o Prof. Waldyr Carvalho Luz afirma:

[...] Forçoso me é reconhecer que a Nlaçonaria deu aos pregadores, nos primórdios da Igreja Presbiteriana do Brasil, preciosa cobertura e apoio, quando forte era a oposição e hostilidade por parte da Igreja dominante e das autoridades adversas (apud ANDRADE, s.d., p. 22).

Essa contribuição tornou-se bastante estreita, e não passou despercebida pelo clero católico da época, que se opôs à inclusão das novas religiões - no caso, o Presbiterianismo.

 

1. A RELAÇÃO ENTRE A MAÇONARIA E O PRESBITERIANISMO

Quando o primeiro pastor presbiteriano Rev. Ashebel Green Simonton (1833—1867) chegou ao Brasil, em 12 de agosto de 1859, encontrou, na província de Sáo Paulo, “cerca de 700 alemães que se diziam protestantes” (GUEIROS, s.d., p. 140). Com a preocupação de reuni-los, Simonton procura um salão para a prática de trabalhos religiosos, porém sem sucesso. Chega a negociar o salão da Loja Maçônica “Amizade”. Mas, por dificuldades financeiras, desiste de usar o local. Porém, os Maçons paulistas insistem para que Simnonton continue a realizar os trrabalhos religiosos, e oferecem a ele o salão da Loja gratuitamente. Andrade, citando a obra: Antimaçonaria e os movimentos fundamentalistas do século XX, obra de Descartes de Souza Teixeira, faz o seguinte relato:

Um episódio em São Paulo, registrado independentemente, por dois historiadores, Prof. David Gueiros e Castellani, sáo paradigmáticos da cooperação que existia no segundo Império entre os imigrantes protestantes e os maçons. Parte do que se conhece resulta de documentação deixada pelo Rev. Ashbel G. Simonton, missionário presbiteriano pioneiro, e analisada pelo Prof. Gueiros. Simonton relatava que Sáo Paulo já contava com muitos protestantes em 1860, dada a grande colônia de alemães (Luteranos) e Ingleses (provavelmente Presbiterianos, Episcopais e Metodistas). Cerca de 700 alemães se diziam protestantes luteranos.

Provavelmente era na ocasião o maior contingente de protestantes na cidade, no meio de uma colônia de germânicos, que, num raio de 45 Km do centro, estimava-se em 6.000 pessoas. Conforme ainda o relato de Simonton, os protestantes — com dificuldades em encontrar na cidade um local para os seus cultos e mesmo impossibilitados de erigir templos próprios — chegaram a optar pelo aluguel de um salão cedido por uma loja maçônica. Citando depoimento de Rev. Hõzel, pastor daquela comunidade, Simonton dizia que, por dificuldades financeiras, impossibilitados de pagar o aluguel aos maçons, haviam desistido de usar o salão. Os maçons paulistas, entretanto, insistiram que os serviços religiosos continuassem e chegaram a oferecer o salão gratuitamente ao vigário. Estudos e pesquisas recentes, revelando a história da mais antiga das lojas maçônicas da cidade de São Paulo, “AMIZADE”, realizados por José Castellani e Cláudio Ferreira, permitiram extrair preciosa informação sobre os cultos dos protestantes em São Paulo. A ata da Sessão da loja, datada de 15 de maio de 1858, contém a seguinte informação, aqui destacada “in verbis”:

“[...] O tronco de propostas produziu uma peça de arquitetura propondo que se empreste, para os domingos, aos nossos Irmãos Protestantes, para celebrarem os atos de sua religião, as salas externas desta Templo. Requerida e concedida foi a proposta aprovada...e dando a palavra a bem da Ordem em geral e da Loja, o Ir. H. Schroeder agradece à Loja o empréstimo das salas aos nossos Ilr. Protestantes; ao que respondeu o Ir. Venerável [...]”

“O   episódio   em   si   mesmo   é   testemunho   exemplar da convivência materna existente entre os maçons e protestantes na época. É especialmente revelador denominar os “Irmáos Protestantes”. A loja, além de contar com vários clérigos católicos, conforme o registro de Castellani, contava com “Irmãos Protestantes” também. Esse relacionamento estendeu-se por longo tempo, atravessando mesmo o período inicial da República. Os maçons prosseguiram oferecendo apoio à expansão do protestantismo no Brasil. Pastores e leigos, protestantes (presbiterianos e episcopais) integravam muitas lojas maçônicas. O Prof. Gueiros em seu trabalho já referido cita alguns nomes de pastores e líderes presbiterianos e de outras denominações que foram maçons” (apud ANDRADE, 2004, p. 55, 56).

Através do registro acima, vemos a Maçonaria se relacionando de forma amigável e contribuindo para a inclusão do Presbiterianismo, cedendo seu saláo para a realização de reuniões religiosas   dos presbiterianos. Além   deste episódio, outros fatos da História oferecem informações sobre o relacionamento entre Maçonaria e Presbiterianismo.

Um dos grandes   nomes que aqui citaremos, e que fez parte do quadro de pastores da Igreja Presbiteriana, é o de Miguel Rizzo Júnior, filho de imigrantes italianos, que chegou ao Brasil ainda adolescente. Por volta do ano de 1880, o missionário Rev. John Boyle (1845—1892) chega à cidade de Cajuru, onde encontra forte oposição, por parte do catolicismo, para desenvolver seu trabalho religioso. Por onde quer que passasse, o Rev. Boyle não tinha sucesso, pois o padre da cidade proibiu o povo de dar ouvidos, atender ou se comunicar com um certo pregador visitante. Com medo das advertências do vigário, a população prontamente obedeceu e ignorou a presença do Rev. Boyle.

Contudo, o Rev. Boyle encontra certo Maçom chamado Miguel Rizzo o qual Ihe deu a devida atenção. Foi este maçom que Ihe cedeu seu auditório para a realização dos serviços presbiterianos. Esta amigável acolhida resultou na conversão do Maçom ao Presbiterianismo, que, posteriormente, viria a se tornar o respeitável pregador e pastor presbiteriano: Rev. P'ligueI Rizzo Júnior.

Foi assim que o evangelho entrou na pequena cidade de Cajuru. Um maçom que não era crente abriu as portas de sua casa para abrigar o perseguido missionário JOHN BOYLE. O Maçom MIGUEL RIZZO, imigrante italiano, converteu-se com toda sua família que foi batizada e recebidos (os maiores) por pública profissão de fé por outro pastor presbiteriano MAÇOM, o grande pregador ÁLVARO REIS (ANDRADE, 2004, p. 41).

O estado do Paraná também é palco do histórico relacionamento entre a Maçonaria e o Presbiterianismo. A cidade de Guarapuava foi o local das pregações Presbiterianas realizadas pelo Rev. Roberto Lenington (1833—1903), maio de 1886. Essas pregações eram realizadas na casa do Maçom, o “tenente Francisco de Paula Pletz” (ANDRADE, 2004, p.51). tais uma vez, vemos o Presbiterianismo iniciando-se na casa de um Maçom.

Mas a contribuição da Maçonaria não para nesse fato. A relação que a Maçonaria desenvolveu com o Presbiterianismo foi além do que imaginamos. Dois anos após a organização da Igreja Presbiteriana de Guarapuava, as instalações locais náo se encontravam em condições básicas para o uso. Observando o que se poassava, o Maçom e membro da igreja, Francisco de Paula Pletz encaminha solicitação à Loja Maçônica de Guarapuava, para usar as dependências com fins religiosos. A Igreja é atendida.

Andrade relata da seguinte forma: Nós abaixo assinados, membros da Sociedade Beneficente Philantropia Guarapuavana, considerando   que o edifício que a mesma possui nesta cidade à Rua da Matriz, esquina com a travessa da Cadeia, ainda não concluído e achando- se bastante deteriorado, necessitando urgente de reparos e conclusão; considerando mais que vários membros desta sociedade são também membros da Igreja Evangélica desta cidade, de comum acordo resolvem o seguinte: fica o edifício acima referido, de hoje em diante, pertencendo a partes iguais e em comum para a mesma Sociedade e a Igreja Evangélica desta cidade, para nele celebrarem suas reuniões e estabelecer escolas, não podendo dito edifício ter outro destino que não seja os que são peculiares a ambas as associações: culto ao Supremo Criador, instrução e beneficência. Como indenização a Igreja obriga-se a fazer os necessários reparos no edifício até sua conclusão (2001 apud 2004, p. 51).

Há, porém, outros fatos que não podemos deixar de identificar e registrar sobre a chegada do Presbiterianismo ao estado do Paraná, em especial na cidade de Guarapuava. O Rev. Júlio Andrade Ferreira, em seu livro Histõria da Igreja Presbiteriana do Brasil, conta:

Para Castro foi o Rev. Lenington, e de lá, acompanhado de José Lagos, foi a Tibagi e Guarapuava, onde teve grande dificuldade de obter uma sala em que pudesse pregar, mas os maçons, afinal, concederam-lhe a sua. Um dos chefes maçônicos que o ajudaram nesses arranjos, dissera-lhe que náo estava interessado em assistir às reuniões. Um domingo, porém, voltando de uma caçada de papagaios, ao passar, ouviu que havia pregação. Entrou para descansar. Qual não foi sua surpresa ao encontrar o missionário pregando para dois membros de 12 e 14 anos, um dos quais preto. [...]. Tenente Pletz, o maçom, disse que náo prestou atenção ao sermão, mas pensou: “A religião deste homem deve ter alguma coisa que preste, visto que deixou sua terra a mais de 6.000 milhas de distância, através do mar, e viajou ainda a cavalo através de nossos trilhos intermináveis, simplesmente para pregar sua religião a dois rapazotes. Vou examinar melhor esta religião”. Ele o fez, converteu-se e, por oito anos, os cultos foram celebrados em sua casa. No ano seguinte, 1885, fazia Lenington sua terceira visita a Guarapuava, onde catorze a quinze pessoas queriam professar. Abandonavam o jogo, a bebedeira, a idolatria (FERREIRA, 1992, vol. 1, p. 262, grifo nosso).

Os fatos históricos mostram-nos que a Igreja Presbiteriana de Guarapuava iniciou-se em uma casa que não estava comprometida com o Presbiterianismo, a casa de Francisco de Paula Pletz, maçom que veio a conhecer a nova religião em 1886, e tempos depois se converte a ela. Foi na casa desse maçom que a Igreja Presbiteriana se reuniu durante oito anos, tendo sua organização em 17 de fevereiro de 1889, pelo já citado Rev. Modesto Perestelo Barros de Carvalhosa.

Um fato ainda nos chama a atenção nessa história registrada. A construção da Igreja não se encontrava em condições básicas para o seu uso. A Nlaçonaria, em especial a Aug. Loja í'4aç. Philantropia Guarapuavana estendeu, mais uma vez, seu braço para que, em uma colaboração harmoniosa, reunissem os presbiterianos em suas dependências.

A cidade de Sorocaba (SP) também foi palco da realização histórica do avanço e fixação do Presbiterianismo no Brasil.

O jornal Imprensa Evangélica foi um poderoso instrumento para a divulgação do Presbiterianismo. Tal foi a repercussão desse jornal que, segundo o jornal O Cruzeiro do Brasil, “[...] estavam usando um jornal, o mais poderoso dos meios para espalhar seu crime” (13 de novembro de 1864 apud GUEIROS, s.d., p.148). Em sua edição de 20 de Janeiro de 1869, o jornal Impressa Evangélica publica um aviso aos assinantes:

Os Srs. Assinantes das províncias que tiverem correspondentes na Corte poderão satisfazer as suas dívidas na Corte, na typographia — Perseverança — 91, Rua do Hospício, em São Paulo em casa do Rev. H. W. de. Kee, rua nova de S. José nO 1: em Sorocaba com o II mo. Sr. José de Souza Bertholdo; em Lorena com o II mo. Sr. Ianoel José Carneiro; em Brotas com o Rev. R. Lenington, exigindo o competente recibo (ANDRADE, 2004, p. 56).

 

E ainda, na segunda edição de 2 de outubro de 1869:

Nesta casa vendem-se Bíblias e Novos Testamentos em todas as línguas.

“Há também depósitos em:

-           LORENA — casa do Sr. Manoel José Carneiro, Largo Imperial.

-           SOROCABA — Casa do Sr. José Antônio de Souza Bertholdo, Pateo de S. Bento.

-           PARÁ — casa dos Srs. Carlos Seid & Comp., Rua Formosa” (apud, ANDRADE, 2004, p.56).

 

Segundo relato de Simonton :

A 6 de fevereiro cheguei de volta a Sorocaba e encontrei uma caixa de Bíblias à minha espera. Combinei de mandar um estoque de Bíblias ao Sr. Abreu, para a feira. Meu outro agente, Nlarciano da Silva, tinha mandado consultar o bispo (por meio do vigário), sobre a possibilidade de venda desses livros. Nlostrou-se atônito com a nenhuma importância que eu dava a bispos, papas, e quejandos; como católico, via- se no dever de oferecer-lhes. O vigário se declarou pronto a ajudar na distribuição das Bíblias, se o bispo desselicença (1982, p. 169).

Um fato que chama a nossa atenção são os endereços dos depósitos de Bíblia. Observemos: em Lorena, casa do Sr. Manoel José Carneiro; em Sorocaba, casa do Sr. José Antonio de Souza Bertholdo; no Pará, casa dos Srs. Carlos Seidi e Comp., rua formosa. Deste registro podemos notar que foi a Loja Maçônica Perseverança III que ajudou e contribuiu para a fixação do Presbiterianismo no Brasil:

Estes quatro registros mostram que os vendedores de Bíblias eram: Sr. José Antonio de Souza Bertholdo, Sr. Marciano da Silva e Sr. Abreu. O pastor jubilado Rev. Nlateus Benevenuto Júnior que, por muitos anos pastoreou a Igreja Presbiteriana de Sorocaba, após criteriosa pesquisa feita nos arquivos da Loja Maçônica “Perseverança III rr daquela cidade, constatou que estes três cidadãos que se dispuseram a instalar em suas próprias residências um depósito de Bíblias eram Maçons filiados àquela Loja. Assim, foram os maçons de Sorocaba que, servindo como vendedores de Bíblias, deram suporte ao nosso primeiro missionário presbiteriano   (Simonton) para realizar o seu trabalho de distribuição de Bíblias. José Bertholdo, ouvindo a pregação de Simonton e lendo a Bíblia que ele já conhecia na Loja Maçônica, converteu- se ao Presbiterianismo. Naquele ano de 1869, em sua casa residencial, o Rev. Blackford organizou a Igreja Presbiteriana de Sorocaba. (Andrade, 2004, p.57, grifo nosso).

Assim, náo somente concedendo suas casas e suas lojas para as reuniões presbiterianas, os maçons serviram à Igreja Presbiteriana como vendedores de Bíblias e suas casas para depósitos delas. tais uma vez, a Igreja Presbiteriana contou com a ajuda dos maçons.

 

Ainda vale ressaltar as palavras de Lyra:

Sobre a infância do evangelho em Sorocaba, há, nos arquivos da Loja Perseverança III, o registro de uma série de acontecimentos memoráveis que muito devem enaltecer a Maçonaria aos olhos da Igreja Cristá. Esses acontecimentos se prendem, quase todos, às multifárias atividades dessa benemérita Instituição, na defesa dos evangélicos oprimidos naquele rincão de nossa pátria. Distingui-se entre elas, a figura venerada do ilustre maçom, Ubaldino do Amaral, daquela oficina heróica. Foi de tal monta a atuação da Subl. Ord., em Sorocaba, que foram conseguidas todas as garantias para os evangélicos e o braço único de que Deus se serviu para esse fim nobilíssimo, foi o da Nlaçonaria através daquela Loja (1971, p. 251).

No estado de Minas Gerais, em especial a cidade de Cabo Verde, a Igreja Presbiteriana também contou com a contribuição da Nlaçonaria, abrindo as portas de sua Loja aos missionários presbiterianos.

Cabe registrar o relato do Dr. Jorge Lasmar, em sua obra A História do Grande Oriente de Minas Gerais e Outras Histórias, citado por Andrade:

Outras de gloriosa tradição, a Loja maçônica, Aug. Resp. e Sub. Loj. Sim. Deus e Caridade, 59, da cidade de Cabo Verde, lá no sul de Nlinas, fundada em 16 de julho de 1875. Essa Loja, por circunstâncias diversas, foi obrigada a suspender suas atividades em momentos de sua existência. Voltando sempre ao trabalho [...].

Entre os muitos obreiros que passaram pela “Deus e Caridade”, dois pertencentes à história da cidade e do Brasil: o primeiro, o Coronel Oscar Ornelas, que pertencia ao Quadro de Obreiros no fim do século passado; o segundo, o capitão José Vicente de Paiva Mendes, heroi da guerra do Paraguai. [...]

Curiosamente, a presença   de evangélicos   presbiterianos na cidade de Cabo Verde está ligada à Maçonaria local que prestigiou a instalação dessa igreja, enfrentando a animosidade e a natural intolerância daquele tempo. [...]

Em 20 de agosto de 1879, existindo ambiente propício, chegou a Cabo Verde o Revdo. Joáo Boyle, acompanhado pelo colportor Jacob Felipe Wengenton. Os presbiterianos começaram a ganhar terreno e procuravam se reunir. As dificuldades eram notórias, ante as circunstâncias da época. A Loja Maçônica “Deus e Caridade” não fugiu ao seu título distintivo. Havia presbiterianos entre os Irmãos do Quadro, e a Loja cedeu a sala do seu templo para as reuniões, onde compareciam cerca de 60 pessoas para ouvir o Pastor João Boyle, em pregações que se repetiam dias seguintes. [...]

Antonio de Pádua Dias tornou-se presbítero e sempre procurou desenvolver na cidade de Cabo Verde sua fé religiosa. O templo presbiteriano foi erguido com os esforços do Capitão José Vicente de Paiva Mendes que fazia parte da Loja. No ano de 1904, uma tempestade desabou sobre a cidade de Cabo Verde. Entre os prédios destruídos estava o templo. Em 1907, três anos depois, o Coronel Oscar Ornelas, também da “Deus e Caridade”, conseguiu do Poder Municipal, por doação, um terreno no Largo do Rosário, onde um novo templo seria construído.

A construção durou dois anos. Em setembro de 1909 o templo passou pela cerimônia de dedicação, quando o Coronel Oscar Ornelas foi ordenado presbítero, no dia 31 de outubro [...] (2000 apud 2004, p. 58, 59).

Não podemos negar a contribuição que a Loja Naçõnica Deus e Caridade estendeu ao missionário protestante para que tivesse todas as possibilidades de pregar o evangelho em Cabo Verde.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Gostaríamos de citar todos os fatos, mas não o faremos para que o curioso espírito de pesquisa seja despertado no leitor. Entretanto, cremos que os relatos aqui expostos já são suficientes para demonstrar que a Maçonaria se relaciona muito bem com instituições religiosas. E, de acordo com o que pudemos pesquisar, observamos que tanto a Igreja Presbiteriana como a Maçonaria se relacionam no sentido de contribuir para o desenvolvimento das religiões em solo brasileiro.

Desta forma, baseados na história, podemos afirmar que a Maçonaria foi a grande amiga e a grande auxiliadora das novas ideias, inclusive religiosas, sobretudo quando a Igreja Presbiteriana se viu perseguida pela Igreja Romana.

 

REFERÊNCIAS

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OUTRAS FONTES

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DOCUMENTOS ELETRÔNICOS DISPONIVEIS NAINTERNET

HYPERLINK http://www.geocities.com/pesquisas_brasil/ abordagem. html. Acesso em 11/09/2007.

SPOLADORE, Hércules. Maçonaria Contemporânea, Abordagem Histórica, Disponível em http://www.geocities.com/pesquisas_ brasil/abordagem.html. Acesso em 11/09/07.

Por: Wilson Ferreira de Souza Neto.

Editado Por: Joel Silva


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