No transcurso do tempo foram elaborados alguns
argumentos em favor da existência de Deus. Acharam ponto de apoio na teologia,
especialmente pela influência de Wolff. Alguns deles já tinham sido sugeridos,
em essência, por Platão e Aristóteles, e outros foram acrescentados
modernamente por estudiosos da filosofia da religião. Somente os mais comuns
podem ser apresentados aqui.
1. O ARGUMENTO ONTOLÓGICO.
Este argumento foi apresentado em várias formas
por Anselmo, Descartes, Samuel Clark, e outros. Foi apresentado em sua mais
perfeita forma por Anselmo. Este argumenta que o homem tem a idéia de um ser
absolutamente perfeito; que a existência é atributo de perfeição; e que,
portanto, um ser absolutamente perfeito tem que existir. Mas é evidente que não
podemos tirar uma conclusão quanto à existência real partindo de um pensamento
abstrato. O fato de que temos uma idéia de Deus ainda não prova a Sua
existência objetiva.
Além disto, este argumento pressupõe
tacitamente como já existente na mente humana o próprio conhecimento da
existência de Deus que teria que derivar de uma demonstração lógica. Kant
declarou, com ênfase, insustentável este argumento, mas Hegel o aclamou como um
grande argumento em favor da existência de Deus. Alguns idealistas modernos
sugeriram que ele poderia ser proposto de forma um tanto diferente, como a que
Hocking chamou, “O registro da experiência”. Em virtude podemos dizer: “Tenho
idéia de Deus: portanto, tenho experiência de Deus”.
2. O ARGUMENTO COSMOLÓGICO.
Este argumento tem aparecido em diversas
formas. Em geral se apresenta como segue: Cada coisa existente no mundo tem que
ter uma causa adequada; sendo assim, o universo também tem que ter uma causa
adequada, isto é, uma causa indefinidamente grande. Contudo, o argumento não
produz convicção, em geral.
Hume questionou a própria lei de causa e
efeito, e Kant assinalou que, se tudo que existe tem uma causa adequada, isto
se aplica também a Deus, e, assim, somos suposição de que o cosmo teve uma
cauda única, uma causa pessoal e absoluta, e, portanto, não prova a existência
de Deus. Esta dificuldade levou a uma construção ligeiramente diversa do
argumento como, por exemplo, a que B.P.Bowne fez. O universo material aparece
como sistema interativo e, portanto, como uma unidade que consiste de várias
partes. Daí, deve haver um Agente Integrante que veicule a interação das várias
partes ou constitua a base dinâmica da existência delas.
3. O ARGUMENTO TELEOLÓGICO.
Este argumento também é causal e, na verdade, é
apenas uma extensão do imediatamente anterior. Pode ser exposto da seguinte
forma: Em toda parte o mundo revela inteligência, ordem, harmonia e propósito,
e assim implica a existência de um ser inteligente e com propósito, apropriado
para a produção de um mundo como este. Kant considera este argumento o melhor
dos três que mencionamos, mas alega que ele não prova a existência de Deus, nem
de um criador, mas somente a de um grande arquiteto que modelou o mundo. É
superior ao argumento cosmológico no sentido de que explicita aquilo que não é
firmado no anterior, a saber, que o mundo contém evidências de inteligência e
propósito.
Não se segue necessariamente que este ser é o
Criador do mundo. “A prova teológica”. Diz Wright. “indica apenas a provável
existência de uma mente que, ao menos em considerável medida, controla o
processo do mundo, suficiente para explicar a quantidade de teleologia que nele
transparece”. Hegel considerava este argumento válido, mas o tratava como um
argumento subordinado. Os teólogos sociais dos nossos dias rejeitam-no,
juntamente com todos os outros argumentos, como puro refugo, mas os neoteístas
o aceitam.
4. O ARGUMENTO MORAL.
Como os outros argumentos, este também assumiu diferentes formas. Kant tomou seu ponto de partida no imperativo categórico, e deste deferiu a existência de alguém que, como legislador e juiz, tem absoluto direito de dominar o homem. Em sua opinião, este argumento é muito superior a qualquer dos outros. É o argumento em que se apóia principalmente, em sua tentativa de provar a existência de Deus. Esta pode ser uma das razões pelas quais este argumento é mais geralmente reconhecido do que qualquer outro, embora nem sempre com a mesma formulação.
Alguns argumentam baseados na desigualdade
muitas vezes observada entre a conduta moral dos homens e a prosperidade que
eles gozam na vida presente, e acham que isso requer um ajustamento no futuro
que, por sua vez, exige um árbitro justo. A teologia moderna também o usa
amplamente, em especial na forma de que o reconhecimento que o homem tem do
Sumo Bem e a sua busca de uma ideal moral exigem e necessitam a existência de
um ser santo e justo, não torna obrigatória a crença em um Deus, em um Criador
ou em um Ser de infinitas perfeições.
5. O ARGUMENTO HISTÓRICO OU ETNOLÓGICO.
Em geral este argumento toma a seguinte forma: Entre todos os povos e tribos da terra há um sentimento religioso que se revela em cultos exteriores. Visto que o fenômeno é universal, deve pertencer à própria natureza do homem. E se a natureza do homem naturalmente leva ao culto religioso, isto só pode achar sua explicação num ser superior que constituiu o homem um ser religioso. Todavia, em resposta a este argumento, pode-se dizer que este fenômeno universal pode ter-se originado num erro ou numa compreensão errônea de um dos primitivos progenitores da raça humana, e que o culto religioso referido aparece com mais vigor entre as raças primitivas e desaparece à medida que elas se tornam civilizadas.
Ao avaliar estes argumentos racionais, deve-se
assinalar antes de tudo que os crentes não precisam deles. Sua convicção a
respeito da existência de Deus não depende deles, mas, sim, da confiante
aceitação da auto-revelação de Deus na Escritura. Se muitos em nossos dias estão
querendo firmar sua fé na existência de Deus nesses argumentos racionais, isto
se deve em grande medida ao fato de que eles se negam a aceitar o testemunho da
palavra de Deus. Além disso, ao usar estes argumentos na tentativa de convencer
pessoas incrédulas, será bom ter em mente que de nenhum que nenhum deles se
pode dizer que transmite convicção absoluta. Ninguém fez mais para
desacreditá-los que Kant. Desde o tempo dele, muitos filósofos e teólogos os
têm descartado como completamente inúteis, mas hoje os referidos argumentos
estão recuperando apoio e o seu número está crescendo. E o fato de que em
nossos dias tanta gente acha neles indicações satisfatórias da existência de
Deus, parece indicar que eles não são inteiramente vazios de valor. Têm algum
valor para os próprios crentes, mas devem ser denominados testimonia, e não
argumentos. Eles são importantes como interpretações da revelação geral de Deus
e como elementos que demonstram o caráter razoável da fé em um ser divino. Além
disso. Podem prestar algum serviço na confrontação com os adversários. Embora
não provem a existência de Deus além da possibilidade de dúvida e a ponto de
obrigar o assentimento, podem ser elaborados de maneira que estabeleçam uma
forte probabilidade e, por isso, poderão silenciar muitos incrédulos.
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