IV. Os nomes de Deus
B. Os Nomes do Velho Testamento e Seu
Significado
1. „EL, „ELOHIM, „ELYON. O nome mais simples
pelo qual Deus é designado no Velho Testamento é o nome „El, possivelmente
derivado de „ul, quer no sentido de ser primeiro, ser senhor, quer no de ser
forte e poderoso. O nome „Elohim (sing. „Eloah) deriva provavelmente da mesma
raiz ou de „alahh, estar ferido pelo temor; portanto, mostra Deus como o Ser
forte e poderoso, ou como objeto de temor. O nome raramente ocorre no singular,
exceto na poesia. O plural deve ser considerado como intensivo e, portanto,
serve para indicar plenitude de poder. O nome „Elyon é derivado de „alah,
subir, ser elevado, e designa Deus como alto e exaltado Ser, Gn 14.19,20; Nm
24.16; Is 14.14. Encontra-se especialmente na poesia. Contudo, estes nomes não
são nomina propria, no sentido estrito da palavra, pois também são empregados
com referência a ídolos, Sl 95.3; 96.5; a homens, Gn 33.10; Êx 7.1; e a
governantes, Jz 5.8; Êx 21.6; 22.8-10; Sl 82.1.
2. „ADONAI. Este nome
relaciona-se com os anteriores, quanto ao seu significado. É derivado de dun
(din) ou de „adan, ambos os quais significam julgar, governar e , assim,
revelam Deus como Governante todo-poderoso, a quem tudo está sujeito e com quem
tudo está sujeito e com quem o homem se relaciona como servo. Nos primeiros
tempos, era o nome com o qual Israel normalmente se dirigia a Deus. Com o tempo
foi suplantado pelo nome Jeová (Yahweh). Todos os nomes mencionados até aqui
descrevem Deus como Altíssimo, o Deus transcendente. Os nomes subseqüentes
mostram que este Ser exaltado condescendeu em estabelecer relação com as Suas
criaturas.
3. SHADDAI e ‟EL-SHADDAI. O nome Shaddai é
derivado de shadad, ser poderoso, e indica que Deus possui todo o poder no céu
e na terra. Segundo outros, porém, é derivado de shad, senhor. Num ponto
importante difere de „Elohim, o Deus da criação e da natureza, em que Shaddai
considera a Deus como sujeitando todos os poderes da natureza e fazendo-os
subservientes à obra da graça divina. Embora dê ênfase à grandiosidade de Deus,
não apresenta como objeto de temor e terror, mas como fonte de bem-aventurança
e consolação. É o nome com o qual Deus apareceu a Abraão, o pai dos que crêem,
Êx 6.2.
4. YAHWEH e YAHWEH TSEBHAOTH. É especialmente no
nome Yahweh, que gradativamente superou os nomes anteriores, que Deus se revela
o Deus da graça. Sempre foi tido como o mais sagrado e o mais distintivo nome
de Deus, o nome incomunicável. Os judeus temiam supersticiosamente usá-lo, visto
que liam Lv 24.16 como segue: “Aquele que mencionar o nome de Yahweh será
morto”. Daí, ao lerem as Escrituras, substituíram-no por „Adonai ou por
„Elohim; e os massoretas, embora deixando as consoantes intactas, ligaram a elas
as vogais de um destes nomes, geralmente o de „Adonai. A verdadeira derivação
do nome, e sua pronúncia e sentido de origem, estão mais ou menos perdidos na
obscuridade. O Pentateuco liga o nome ao verbo hebraico hayah, ser, Êx 3.13,
14. Da força dessa passagem podemos supor que, com toda probabilidade, o nome
deriva de uma forma arcaica daquele verbo, a saber, Hawah. No que se refere à
forma, pode ser considerado como a terceira pessoa do imperfeito de qal ou de
hiphil, mais provavelmente de qal. O sentido é explicado em Êx. 3.14, onde se
traduz, “Eu sou o que sou” ou “Eu serei o que serei”. Assim interpretado, o
nome indica a imutabilidade de Deus. Contudo, não se tem tanto em vista a
imutabilidade do Seu Ser essencial, mas mormente a imutabilidade de Sua relação
com o Seu povo. O nome contém a segurança de que Deus será para o povo dos dias
de Moisés o que foi para os seus pais – Abraão, Isaque e Jacó. Salienta a
fidelidade pactual de Deus, é Seu nome próprio par excellence, Êx 15.3; Sl
83.19; Os 12.6; Is 42.8, e, portanto, não é empregado com referência a ninguém
mais, senão unicamente com referência ao Deus de Israel. O caráter exclusivo
deste nome transparece do fato de que nunca ocorre no plural nem com sufixo.
Yah e Yahu são formas abreviadas dele, formas que nunca se acham principalmente
em nomes compostos.
Muitas vezes o nome Yahweh é fortalecido pelo
acréscimo de Tsebhaoth. Orígenes e Jerônimo o consideravam uma aposição, porque
Yahweh não admite condição de construto. Mas esta interpretação não tem
suficiente suporte e dificilmente propicia um sentido inteligível.
É deveras difícil determinar a que se refere o
vocábulo tsebhaoth. Há três opiniões principais:
a. Os exércitos de Israel. Pode-se muito bem pôr
em dúvida o acerto desta maneira de ver. A maior parte das passagens citadas em
apoio desta idéia não prova o ponto; somente três delas contém um indício de
prova, a saber, 1 Sm 4.4; 17.45; 2 Sm 6.2, ao passo que uma delas, 2 Rs 19.31,
é muito desfavorável a este ponto de vista. Enquanto o plural tsebhaoth é
empregado para designar os exércitos do povo de Israel, o exército é
normalmente indicado pelo singular. Isto milita contra a noção, inerente a esta
teoria, de que, no nome em consideração, o termo se refere ao exército de
Israel. Além disso, é evidente que, pelo menos nos Profetas, o nome “Senhor dos
Exércitos” não se refere ao Senhor como Deus de guerra. E se o sentido do nome
mudou, o que foi que ocasionou a mudança?
b. As estrelas. Mas, ao falar do
exército dos céus, as Escrituras sempre empregam o singular, e nunca o plural.
Além do mais, as estrelas são chamadas o exército do céu, mas nunca o exército
de Deus.
c. Os anjos. Esta interpretação
merece preferência. O nome Yahweh Tsebhaoth acha-se muitas vezes em contextos
em que os anjos são mencionados: 1 Sm 4.4; 2 Sm 6.2; Is 37.16; Os 12.4, 5; Sl
80.1, 4, 7, 14, 19; 89.6, 8. Os anjos são repetidamente descritos como um exército
que circunda o trono de Deus, Gn 28.12; 32.2; Js 5.14; 1 Rs 22.19; Sl 68.17;
103.21; 148.2; Is 6.2. É verdade que neste caso o singular é também usado no
geral, mas esta objeção não é grave, pois a Bíblia indica também a existência
de várias divisões de anjos, Gn 32.2; Dt 33.2; Sl 68.17. Ademais, esta
interpretação está em harmonia com o significado do nome, que não tem matiz
marcial, mas expressa a glória de Deus como Rei, Dt 33.2; 1 Rs 22.19; Sl 24.10;
Is 6.3; 24.23; Zc 14.16. Então, o Senhor dos Exércitos é Deus como o Rei da
glória, cercado de hostes angelicais, governa o céu e aterra no interesse do
Seu povo e recebe glória de todas as Suas criaturas.
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