C. Atributos Morais.
Os atributos morais de Deus são geralmente
considerados como as perfeições divinas mais gloriosas. Não que um atributo de
Deus seja em si mesmo mais perfeito e mais glorioso que outro, mas,
relativamente ao homem, as perfeições morais de Deus refulgem com um esplendor
todo seu. Geralmente são discutidos sob três títulos: (1) a bondade de Deus;
(2) a santidade de Deus; e (3) a justiça de Deus.
1. A BONDADE DE DEUS.
Esta geralmente é tratada como uma concepção genérica, incluindo diversas variedades que se distinguem de acordo com os seus objetos. Não se deve confundir a bondade de Deus com Sua benevolência, que é um conceito mais restrito. Falamos que uma coisa é boa quando ela corresponde em todas as suas partes ao ideal. Daí, em nossa atribuição de bondade de Deus, a idéia fundamental é que Ele é, em todos os aspectos e por todos os modos, tudo aquilo que deve ser como Deus, e, portanto, corresponde perfeitamente ao ideal expresso pela palavra “Deus”. Ele é bom na acepção metafísica da palavra, é perfeição absoluta e felicidade perfeita em Si mesmo. É neste sentido que Jesus disse ao homem de posição: “Ninguém é bom senão um só, que é Deus”, Mc 10.18; Lc 18.18, 19.
Mas, desde que Deus é bom em Si mesmo, é também
bom para as Suas criaturas e, portanto, pode ser chamado a fons omnium bonorum.
Ele é a fonte de todo bem, e assim é apresentado de várias maneiras na Bíblia
toda. O poeta canta: “Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a
luz”, Sl 36.9. Todas as boas coisas que as criaturas fruem no presente e
esperam no futuro, fluem para elas deste manancial inexaurível. E não somente
isso, mas Deus é também o summum bonum, o sumo bem, para todas as Suas criaturas,
embora em diferentes graus e na medida em que correspondem ao propósito da sua
existência. Na presente conexão, naturalmente damos ênfase à bondade ética de
Deus e a seus diferentes aspectos, como determinados pela natureza dos seus
objetos.
a. A bondade de Deus para com Suas
criaturas em geral.
Esta pode ser definida como a perfeição de Deus que O leva a tratar benévola e
generosamente todas as Suas criaturas. É a que o Criador sente para com as Suas
criaturas dotadas de sensibilidade consciente como tais. O salmista a exalta
com as bem conhecidas palavras: “O Senhor é bom para todos, e as suas ternas
misericórdias permeiam todas as suas obras... Em ti esperam os olhos de todos,
e tu, a seu tempo, lhes dás o alimento. Abres a tua mão e satisfazes de
benevolência a todo vivente”, Sl 145.9, 15, 16. Este benévolo interesse de Deus
é revelado em Seu cuidado pelo bem-estar da criatura e corresponde à natureza e
às circunstâncias da criatura. Varia naturalmente em grau, de acordo com a
capacidade que os seus objetos têm de recebe-lo. E embora não se restrinja aos
crentes, somente estes manifestam apropriada apreciação das bênçãos que dela
provêm, desejo de usa-las no serviço do seu Deus e, assim, desfrutam-na em
medida mais rica e mais completa. A Bíblia refere-se a esta bondade de Deus em
muitas passagens, como Sl 36.6; 104.21; Mt 5.45; 6.26; Lc 6.35; At 14.17.
b. O amor de Deus. Quando a bondade de
Deus é exercida para com as Suas criaturas racionais, assume o caráter mais
elevado de amor, e ainda se pode distinguir este amor de acordo com os objetos
aos quais se limita. Em distinção da bondade de Deus em geral, o Seu amor pode
ser definido como a perfeição de Deus pela qual Ele é movido eternamente à Sua
própria comunicação. Desde que Deus é absolutamente bom em Si mesmo, Seu amor
não pode achar completa satisfação em nenhum objeto falto de perfeição
absoluta. Ele ama as Suas criaturas racionais por amor a Si mesmo, ou, para
expressá-lo doutra forma, neles Ele se ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua obra
e Seus dons. Ele nem mesmo retira completamente o Seu amor do pecador em seu
estado pecaminoso atual, apesar de que o pecado deste é uma abominação para
Ele, visto que, mesmo no pecador, Ele reconhece um portador da Sua imagem. Jo
3.16; Mt 5.44, 45. Ao mesmo tempo, Ele ama os crentes com amor especial, dado
que os vê como Seus filhos espirituais em Cristo. É a estes que Ele se comunica
no sentido mais rico e mais completo, com toda a plenitude da Sua graça e
misericórdia. Jo 16.27; Rm 5.8; 1 Jo 3.1.
c. A graça de Deus. A significativa
palavra “graça” é uma tradução do termo hebraico chanan e do grego charis.
Segundo a Escritura, é manifestada não só por Deus, mas também pelos homens,
caso em que denota o favor de um homem a outro, Gn 33.8, 10, 18; 39.4; 47.25;
Rt 2.2; 1 Sm 1.18; 16.22. Nestes casos não implica necessariamente que o favor
é imerecido. Em geral se pode dizer, porém, que a graça é a concessão de
bondade a alguém que não tem nenhum direito a ela. É este particularmente o
caso em que a graça a que se faz referência é a graça de Deus. Seu amor ao ser
humano é sempre imerecido e, quando mostrado a pecadores, estes são até
privados dele. A Bíblia geralmente emprega apalavra para indicar a imerecida
bondade ou amor de Deus aos que perderam o direito a ela e, por natureza, estão
sob a sentença de condenação. A graça de Deus é a fonte de todas as bênçãos
espirituais concedidas aos pecadores. Como tal, lemos a seu respeito em Ef 1.
6.7; 2.7-9; Tt 2.11; 3.4-7. Embora a Bíblia fale muitas vezes da graça de Deus
como graça salvadora, também faz menção dela num sentido mais amplo, como em Is
26.10; Jr 16.13. A graça de Deus é da maior significação prática para os
pecadores. É pela graça que o caminho da redenção foi aberto para eles, Rm
3.24; 2 Co 8.9, e que a mensagem da redenção foi levada ao mundo, At 14.3. pela
graça os pecadores recebem o dom de Deus em Jesus Cristo, At 18.27; Ef 2.8.
Pela graça eles são justificados, Rm 3.24; 4.16; Tt 3.7, são enriquecidos de
bênçãos espirituais, Jo 1,16; 2 Co 8.9; 2 Ts 2.16, e finalmente herdam a
salvação, Ef 2.8; Tt 2.11. Vendo-se absolutamente sem méritos próprios ficam na
total dependência da graça de Deus em Cristo. No modernismo teológico, com sua
crença na bondade inerente do homem e em sua capacidade de bastar-se a si
próprio, a doutrina da salvação pela graça tornou-se praticamente um “acorde
perdido”, e mesmo a palavra “graça” foi esvaziada de toda significação
espiritual e desapareceu dos discursos religiosos. Só foi conservada no sentido
de “graciosidade”, coisa inteiramente externa. Felizmente há algumas evidências
de uma renovada ênfase ao pecado, e de uma recém-despertada consciência da
necessidade da graça divina.
d. A misericórdia de Deus. Outro importante aspecto da bondade e amor de Deus é a Sua misericórdia ou terna compaixão. A palavra hebraica mais geralmente empregada para esta perfeição é chesed. Há outra palavra, porém, que expressa uma terna e profunda compaixão, a saber, a palavra racham, às vezes lindamente traduzida por “terna misericórdia”. A Septuaginta e o Novo Testamento empregam a palavra grega eleos para designar a misericórdia de Deus. Se a graça de Deus vê o homem como culpado diante de Deus e, portanto, necessitado de perdão, a misericórdia de Deus o vê como um ser que está suportando as conseqüências do pecado, que se acha em lastimável condição, e que, portanto, necessita do socorro divino. Pode-se definir a misericórdia divina como a bondade ou amor de Deus demonstrado para com os que se acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos. Em Sua misericórdia Deus se revela um Deus compassivo, que tem pena dos que se acham na miséria e está sempre pronto a aliviar a sua desgraça. Esta misericórdia é generosa, Dt 5.10; Sl 57.10; 86.5, e os poetas de Israel se dedicam em entoar canções descrevendo-a como duradoura e eterna, 1 Cr 16.34; 2 Cr 7.6; Sl 136; Ed 3.11.
No Novo Testamento é muitas vezes mencionada ao
lado da graça de Deus, especialmente nas saudações, 1 Tm 1.2; 2 Tm 1.1; Tt 1.4.
Repetidamente se nos diz que essa perfeição divina é demonstrada para com os
que temem a Deus, ex 20.2; Dt 7.9; Sl 86.5; Lc 1.50. Não significa, porém, que
se limita a eles, conquanto a desfrutem em medida especial. As ternas
misericórdias de Deus estão sobre todas as Suas obras, Sl 145.9, e até os que
não O temem compartilham delas, Ez 18.23, 32; 33.11; Lc 6.35, 36. Não se pode
apresentar a misericórdia de Deus como oposta à Sua justiça. Ela é exercida
somente em harmonia com a mais estrita justiça de Deus, em vista dos méritos de
Jesus Cristo. Outros termos empregados para expressar a misericórdia de Deus
são “piedade”, “compaixão”, “benignidade”.
e. A longanimidade de Deus. A longanimidade de
Deus é ainda outro aspecto da Sua grande bondade ou amor. O hebraico emprega a
expressão „erek „aph, que significa literalmente “grande de rosto” e daí também
“lento para a ira”, enquanto que o grego expressa a mesma idéia com a palavra
makrothymia. É o aspecto da bondade ou amor de Deus em virtude do qual Ele
tolera os rebeldes e maus, a despeito da sua prolongada desobediência. No
exercício deste atributo o pecador é visto como permanecendo em pecado, não obstante
as admoestações e advertências que lhe vêm. Revela-se no adiantamento do
merecido julgamento. A Escritura fala da longanimidade de Deus em Êx 34.6; Sl
86.15; Rm 2.4; 1 Pe 3.20; 2 Pe 3.15. Um termo sinônimo, com uma conotação
ligeiramente diversa, é a palavra “paciência”.
2. A SANTIDADE DE DEUS.
A palavra hebraica para “ser santo”, qadash,
deriva da raiz qad, que significa cortar ou separar. É uma das palavras
religiosas mais proeminentes do Velho Testamento, e é aplicada primariamente a
Deus. A mesma idéia é comunicada pelas palavras hagiazo e hagios, no Novo
Testamento. Disto já se vê que não é correto pensar na santidade primariamente
como uma qualidade moral ou religiosa, como geralmente se faz. Sua idéia
fundamental é a de uma posição ou relação existente entre Deus e uma pessoa ou
coisa.
a. Sua natureza. A idéia escriturística da santidade de Deus é dupla. Em sentido original denota que Ele é absolutamente distinto de todas as Suas criaturas, e é exaltado acima delas em majestade infinita. Assim entendida, a santidade de Deus é um dos Seus atributos transcendentais e às vezes é mencionada como a Sua perfeição central e suprema. Não parece próprio falar de um atributo de Deus como sendo mais central e mais fundamental que outro; mas, se fosse permissível isto, a ênfase da Escritura à santidade de Deus pareceria justificar a sua escolha. Contudo, é evidente que, neste sentido da palavra, a santidade não é realmente um atributo moral, que possa ser coordenado com outros, como o amor, a graça e a misericórdia, mas é antes uma coisa de amplitude igual à de todos os predicados de Deus e a eles aplicável. Ele é santo em tudo aquilo que O revela, em Sua graça e bondade como também em Sua ira e justiça. Pode-se-lhe chamar “majestade-santidade” de Deus e passagens como ex 15.11; 1 Sm 2.2; Is 57.15 e Os 11.9 se referem a ela. É a santidade de Deus que Otto, em sua importante obra sobre o Santo (Das Heilige),1 considera como aquilo que é mais essencial em Deus, e que ele designa como “o numinoso”.1 Ele a considera como parte do não-racional em Deus, em que não se pode pensar conceptualmente, e que inclui idéias como “inacessibilidade absoluta” e “domínio absoluto” ou “majestade temível”. Desperta no homem um sentimento de nulidade absoluta, uma “consciência” ou “sentimento de condição de criatura” que leva a um auto-rebaixamento absoluto.
Mas a santidade de Deus tem também um aspecto
especificamente ético na Escritura, e é neste seu aspecto que estamos mais
interessados nesta conexão. A idéia ética da santidade divina não pode ser
dissociada da idéia da majestade-santidade de Deus. Aquela desenvolve-se a
partir desta. A idéia fundamental da santidade ética de Deus também é a de
separação, mas, neste caso, a separação é do mal moral, isto é, do pecado. Em
virtude da sua santidade, Deus não pode ter comunhão com o pecado, Jô 34.10; Hc
1.13. Empregada neste sentido, a palavra “santidade” indica a pureza majestosa
de Deus, ou a Sua majestade ética. Mas a idéia de santidade não é meramente
negativa (separação do pecado); tem igualmente um conteúdo positivo, a saber, o
de excelência moral, ou perfeição ética. Se o homem reage à santidade majestosa
de Deus com um sentimento de completa insignificância e temor, sua reação à
santidade ética revela-se num senso de impureza, numa consciência de pecado, Is
6.5. Otto reconhece também este elemento na santidade de Deus, embora acentue o
outro, e a respeito da resposta ele diz: “O simples temor, a simples
necessidade de refúgio face ao „tremendum‟, elevou-se aqui ao sentimento de que
o homem, em sua condição de „profano‟, não é digno de ficar na presença do
Santo, e de que a sua inteira indignidade pessoal poderia contaminar até mesmo
a própria santidade”.1 Esta santidade ética de Deus pode ser definida como a
perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e mantém a
Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em Suas
criaturas.
b. Sua manifestação. A santidade de Deus é
revelada na lei moral implantada no coração do homem e que fala por meio da
consciência e, mais particularmente, na revelação especial de Deus. Expressa-se
proeminentemente na lei dada a Israel. Essa lei, em todos os seus aspectos, foi
planejada para imprimir em Israel a idéia da santidade de Deus, e para leva-lo
a sentir fortemente a necessidade de levar vida santa. A este propósito atendem
símbolos e tipos como a nação, a terra santa, a cidade santa, o lugar santo e o
sacerdócio santo. Além disso, foi revelada na maneira como Deus recompensava a
observância da lei e visitava os transgressores com terríveis punições. A
suprema revelação da santidade de Deus foi dada em Jesus Cristo, que é chamado
“o Santo e o Justo”, At 3.14. Ele refletiu em Sua vida a perfeita santidade de
Deus. Finalmente, a santidade de Deus é também revelada na Igreja como o corpo
de Cristo. É um fato notável, para o qual muitas vezes se chama a atenção, que
se atribui santidade a Deus com muito maior freqüência no Velho Testamento que
no Novo, conquanto isto seja feito ocasionalmente no Novo Testamento, Jo 17.11;
1 Pe 1.16; Ap 4.8; 6.10. Isto se deve provavelmente ao fato de que o Novo
Testamento destina mais particularmente o termo para qualificar a terceira
Pessoa da Trindade Santa como Aquele cuja tarefa especial, na economia da
redenção, consiste em comunicar santidade ao Seu povo.
3. A JUSTIÇA DE DEUS.
Este atributo relaciona-se estreitamente com o
da santidade de Deus. Shedd fala da justiça de Deus como “um modo de Sua
santidade”, e Strong lhe chama simplesmente “santidade transitiva”. Contudo,
estes termos só se aplicam à geralmente denominada justiça relativa de Deus, em
distinção de Sua justiça absoluta.
a. A idéia fundamental de justiça. A idéia fundamental de
justiça é a de estrito apego à lei. Entre os homens ela pressupõe que há uma
lei à qual eles devem ajustar-se. Às vezes se diz que não podemos falar de
justiça em Deus, porque não há lei à qual Ele esteja sujeito. Mas, embora não haja
lei acima de Deus, certamente há uma lei na própria natureza de Deus, e esta
constitui o mais elevado padrão possível, pelo qual todas as outras leis são
julgadas. Geralmente se faz distinção entre a justiça absoluta de Deus e a
relativa. Aquela é a retidão da natureza divina, em virtude da qual Deus é
infinitamente reto em Si mesmo, enquanto que esta é a perfeição de Deus pela
qual Ele se mantém contra toda violação da Sua santidade e mostra, em tudo e
por tudo, que Ele é Santo. É a esta retidão que o termo “justiça” se aplica
mais particularmente. A justiça se manifesta especialmente em dar a cada homem
o que lhe é devido, em trata-lo de acordo com os seus merecimentos. A inerente
retidão de Deus é naturalmente básica para a retidão que Ele revela no trato de
Suas criaturas, mas é especialmente esta última, também denominada justiça de
Deus, que requer especial consideração aqui. Os termos hebraicos para “justo” e
“justiça” são tsaddik, tsedhek e tsedhakah, e os termos gregos correspondentes
são dikaios e dikaiosyne, todos os quais contêm a idéia de conformidade a um
padrão. Esta perfeição é repetidamente atribuída a Deus na Escritura, Ed 9.15;
Ne 9.8; Sl 119.137; 145.17; Jr 12.1; Lm 1.18, Dn 9.14; Jo 17.25; 2 Tm 4.8; 1 Jo
2.29; 3.7; Ap 16.5.
b. Distinções aplicadas à justiça de Deus. Há em primeiro lugar uma justiça rectoral de Deus. Esta justiça, como está implícito no nome, é a retidão que Deus manifesta como o Governador que exerce domínio tanto sobre o bem como sobre o mal. Em virtude de Sua justiça rectoral, Deus instituiu um governo moral no mundo, e impôs ao homem uma lei justa, com promessas de recompensa ao obediente e ameaças de punição ao transgressor. No Velho Testamento Deus sobressai proeminentemente como o Legislador de Israel, Is 33.11, e do povo em geral, Tg 4.12, e Suas leis são justas, Dt 4.8. A Bíblia refere-se a esta obra rectoral de Deus também em Sl 99.4 e Rm 1.32.
Estreitamente relacionada com a justiça
rectoral de Deus está a Sua justiça distributiva. Este termo habitualmente
serve para designar a retidão de Deus na execução da lei, e se relaciona com a
distribuição de recompensas e punições, Is 3.10, 11; Rm 2.6; 1 Pe 1.17.
É de duas classes:
(1) Justiça remunerativa, que se manifesta na
distribuição de recompensas a homens e anjos, Dt 7.9, 12, 13; 2 Cr 6.16; Sl
58.11; Mq 7.20; Mt 25.21, 34; Rm 2.7; Hb 11.26. É realmente uma expressão do
amor divino distribuindo a Sua generosidade, não com base em méritos
propriamente ditos, pois a criatura não pode dar prova de nenhum mérito
absoluto diante do Criador, mas segundo promessa e acordo, Lc 17.10; 1 Co 4.7.
As recompensas de Deus são fruto da sua graça e decorrem de uma relação pactual
estabelecida por ele.
(2) Justiça retributiva, que se relaciona com a
imposição de castigos. É uma expressão da ira divina. Enquanto que num mundo
isento de pecado não haveria lugar para a sua aplicação, necessariamente tem
proeminente lugar num mundo cheio de pecado. A Bíblia em geral dá mais ênfase à
recompensa dos justos que à punição dos ímpios; mas mesmo esta é bastante
proeminente, Rm 1.32; 12.19; 2 Ts 1.8, e muitas outras passagens. Deve-se notar
que, ao passo que o homem não merece a recompensa que recebe, merece a punição
que lhe é dada. A justiça divina está originária e necessariamente obrigada a
punir o mal, não porém a recompensar o bem, Lc 17.10; 1 Co 4.7; Jo 41.11.
Muitos negam a estrita justiça punitiva de Deus e alegam que Deus pune o
pecador para reforma-lo, ou para dissuadir outros de pecar; mas estas posições
não são sustentáveis. O propósito primordial da punição do pecado é a
manutenção do direito e da justiça. É certo que ela pode, incidentalmente,
servir para reformar o pecador e impedir que outros pequem, e, secundariamente,
isso pode estar incluído em seus propósitos.
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