Pare, observe-se,
enxergue-se!
As estatísticas nos
denunciam
Para muitos, incluindo médicos, advogados,
jornalistas, policiais, professores e funcionários de empresas, a mente é um
verdadeiro depósito de pensamentos perturbadores. Pesquisas revelam que 80% dos
jovens do mundo apresentam sintomas de timidez e insegurança. Se considerarmos a Síndrome do Pensamento
Acelerado como um transtorno de ansiedade, será difícil encontrar alguém que
tenha saúde psíquica plena. A humanidade tomou o caminho errado. Estamos
adoecendo rápida e coletivamente!
As pessoas que têm a SPA são frágeis? De modo
algum! São elas desinteligentes? Em hipótese alguma! Elas têm habilidades como
qualquer Homo sapiens, mas lhes falta a capacidade de proteger sua emoção e
gerenciar seus pensamentos. E quem tem depressão e outros transtornos é frágil?
Não! Sem dúvida os fatores metabólicos, como o déficit de serotonina, podem
estar na gênese de muitas doenças depressivas; ainda assim, independentemente
desses fatores, se o Eu estiver equipado para conhecer e desatar as armadilhas
da mente, terá mais capacidade de proteger o território da emoção e ser autor
da sua história.
SPA ou hiperatividade?
Como disse, muitos neurologistas, psiquiatras,
psicólogos e psicopedagogos, ao observar crianças e adolescentes agitados,
inquietos, com dificuldade de concentração e rebeldes a normas sociais, chegam
a diagnósticos errados, atribuindo tais comportamentos ao transtorno de déficit
de atenção ou hiperatividade, quando a grande maioria desses pacientes é vítima
da Síndrome do Pensamento Acelerado. Por não terem tido a oportunidade de
pesquisar o processo de construção de pensamentos, os profissionaisnão sabem que,
se superexcitarmos os “engenheiros” inconscientes que constroem pensamentos sem
a autorização do Eu, facilmente desenvolvemos a SPA.
Essa perturbadora síndrome produz alguns
sintomas semelhantes aos da hiperatividade, mas suas causas são diferentes. Na
hiperatividade, há um fundo genético; frequentemente, um dos pais é hiperativo.
Além disso, a agitação e a inquietação de uma pessoa hiperativa manifestam-se
já na primeira infância, enquanto na SPA a inquietação é construída pouco a
pouco, ao longo dos anos. Entre as causas da SPA estão o excesso de
estimulação, de brinquedos, de atividades, de informação.
O tratamento também é diferente em alguns
aspectos. Na SPA não há alteração metabólica. A falha é funcional e social,
está ligada ao processo de formação da personalidade e ao funcionamento da
mente e, portanto, deve ser corrigida com técnicas. Desacelerar a criança com
SPA é fundamental. Encorajá-la, por exemplo, a desenvolver atividades mais
lentas e lúdicas, como ouvir músicas tranquilas (música clássica), tocar
instrumentos, pintar, praticar esportes, fazer teatro, pode ser muito útil.
Crianças e adolescentes hiperativos também podem e devem aprender essas
práticas. Prescrever indiscriminadamente ritalina e outras drogas para quem tem
SPA pode ser um erro grave. Tanto os jovens hiperativos quanto os portadores da
SPA, se não aprenderem técnicas para gerenciar seus pensamentos e proteger sua
emoção, poderão repetir erros, desacelerar sua maturidade, se tornar
irritadiços, com baixo limiar para frustrações e baixa capacidade de se adaptar
a contrariedades, sofrer de insatisfação crônica, além de ter o rendimento
intelectual comprometido. Mas o que mais me preocupa na SPA, bem como na
hiperatividade, é a retração de duas funções vitais para o sucesso social,
profissional e afetivo: pensar antes de agir e colocar-se no lugar do outro
(empatia). Desenvolvê-las é fundamental e deveria ser a meta de todas as
escolas em todas as nações. Quem se preocupa com sua qualidade de vida e com a
saúde emocional dos seus filhos e alunos deve estudar a SPA detalhadamente.
Nós, adultos, ainda que sem consciência,
estamos cometendo um crime contra a saúde emocional dos pequenos. Publico meus
livros em mais de sessenta países não em busca da fama, que é efêmera e
superficial, mas para alertar a comunidade científica e a população em geral de
que nessa sociedade fast-food, onde tudo é rápido e pronto, alteramos
perigosamente o ritmo de construção de pensamentos. Como anda seu ritmo? A SPA
dificulta o processo de elaboração das informações como conhecimento, do
conhecimento como experiência e da experiência como função complexa da
inteligência, ou seja, pensar nas consequências, expor, e não impor, as ideias,
colocar-se no lugar dos outros, proteger a emoção e, principalmente, gerenciar
pensamentos.
Alguns jovens só conseguem perceber algo errado
em sua vida quando se tornamadultos frágeis, dependentes, ansiosos, cujos
sonhos foram enterrados nos becos da história. Alguns pais só conseguem
perceber a crise familiar depois que suas relações com os filhos estão
esfaceladas, sem respeito, afeto e amor. Alguns casais só percebem que sua
relação está falida depois que vivem o inferno dos atritos. Alguns
profissionais só conseguem perceber que não são produtivos, proativos,
criativos depois que perderam o encanto pelo trabalho, quando estão na lama da
frustração.
Observe que um simples barulho no carro já nos
perturba e nos faz ir ao mecânico. Entretanto, muitas vezes, nosso corpo grita
através de fadiga excessiva, insônia, compulsão, tristeza, dores musculares,
dores de cabeça e outros sintomas psicossomáticos, e, mesmo assim, não
procuramos ajuda. Você ouve o inaudível, a voz do seu corpo e da sua mente? Ou
só o que é audível? Alguns só ouvem a voz dos seus sintomas quando estão num
hospital, enfartados, quase mortos. Seja inteligente, respeite sua vida. Pare!
Pense! Observe-se! Enxergue-se! Nenhum psiquiatra ou psicólogo pode fazer isso
por você.
A vida é bela e breve como os orvalhos
Vivemos a vida como se ela fosse interminável.
Mas entre a meninice e a velhice há um pequeno intervalo de tempo. Olhe para a
sua história: não parece que você dormiu e acordou com essa idade? Para as
pessoas superficiais, a rapidez da vida estimula a viver destrutivamente, sem
pensar nas consequências dos seus comportamentos. Para os sábios, a brevidade
da vida convida-os a valorizá-la como um diamante de inestimável valor. Ser
sábio não significa ser perfeito, não falhar, não chorar e não ter momentos de fragilidade.
Ser sábio é aprender a usar cada dor como uma
oportunidade para aprender lições, cada erro como uma ocasião para corrigir
caminhos, cada fracasso como uma chance para recomeçar. Nas vitórias, os sábios
são amantes da alegria; nas derrotas, são amigos da interiorização. Você é
sábio? Viaja para dentro de si mesmo? A grande maioria de nós provavelmente
conhece no máximo a antessala da própria personalidade.
Uma das maiores complexidades da psicologia é
entender que a construção de pensamentos é multifocal, e não unifocal. Como
vimos, de acordo com a Teoria da Inteligência Multifocal, isso significa que
construímos pensamentos não apenas porque queremos construí-los
conscientemente, pela decisão do Eu, mas também por meio de outros três
fenômenos inconscientes: gatilho da memória (autochecagem), autofluxo e janelas
da memória.
Todos nós, quando dirigimos um veículo, temos
controle do acelerador, da direção, dofreio e de outros dispositivos. Imagine
que queiramos seguir uma trajetória, mas nosso carro segue outra; que desejamos
virar para a esquerda, e o carro vira para a direita. Esse fenômeno, que parece
assombroso, ocorre constantemente com o veículo da mente humana.
Nosso Eu não tem pleno controle dos
instrumentos que constroem milhares de pensamentos diários. Por isso, ora ele é
o protagonista, ora é mero espectador; ora ele constrói ideias belíssimas, ora
é vítima de pensamentos angustiantes que não confeccionou. Essa dança
intelectual entre ser diretor e espectador, motorista e passageiro, gerente e
cliente, acompanha toda a nossa história. É por isso que afirmei que drama e
comédia, risos e lágrimas, reações lúcidas e atitudes estúpidas fazem parte do
nosso currículo.
Se voltarmos à metáfora do teatro para entender
a mente humana, o Eu é ou deveria ser o ator principal do teatro psíquico, e os
três fenômenos inconscientes que também constroem pensamentos deveriam
trabalhar para o Eu brilhar, mas tais atores coadjuvantes teimam em roubar a
cena. O maior desafio do Eu é deixar de ser um espectador tímido e assumir no
palco seu papel fundamental como gestor da mente. Precisamos enfrentar o mal do
século.
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