Até o século XIX o Evangelho segundo Marcos
estava no esquecimento, um pouco deixado de lado. Os Padres da Igreja não tecem
nenhum comentário sobre o Evangelho segundo Marcos. Em 1943 com a “Divino
Afflante Spirito” o Evangelho Segundo Marcos toma sua importância. Pode-se
formular uma pergunta: quais são as razões para este aparente “esquecimento” do
Evangelho de Marcos?
As razões são as seguintes:
Pensava-se que o Evangelho de Marcos era uma
síntese das atividades de Pedro, pois Pedro é uma figura com bastante destaque
neste Evangelho, sendo descrito como uma pessoa sem mácula, é mostrado em
Marcos como uma pessoa ideal. Até o Concílio Vaticano II20 acreditava-se que o
Evangelho segundo Marcos era uma síntese do Evangelho segundo Mateus, e até
este Concílio não se tinha a divisão das leituras dos Evangelhos nas liturgias
dominicais como temos no presente (ano A, B e C)
A posição atual:
Hoje se sabe que o Evangelho segundo Marcos é o
Evangelho mais antigo, foi o primeiro a ser escrito e é o mais próximo do Jesus
“histórico”. Os escritos de Marcos serviram de fonte para os Evangelhos segundo
Mateus e Lucas.
3.1 - Autor
O autor do evangelho sinótico mais primitivo é
identificado pelo nome de Marcos que tem inúmeras citações nos Evangelhos e no
livro dos Atos dos Apóstolos. Assim temos:
- At 12,12: identifica Marcos com o cognome de
João Marcos;
- At 15,37 e Cl 4,10: Marcos – ou João Marcos –
primo de Barnabé;
- Mc 14,51-52: aparece um relato único em que
fala de um jovem que foge nu após uma tentativa de prisão (?), deixando para
trás um lençol que o envolvia; “muitos comentadores entenderam que este jovem é
o próprio evangelista.” Em 30 de setembro de 1943 – dia da comemoração da
memória de São Jerônimo –, por motivo do cinqüentenário da encíclica "Providentissimus
Deus"; o Santo Padre Pio XII (Eugenio Pacelli – pontífice no período
de 02 de março de 1939 até 09 de outubro de 1958) publicou a nominada encíclica
sobre os estudos bíblicos. Por sua extensão, e pela admirável clareza com que
expõe as normas que devem ser observadas no uso da Sagrada Escritura, o
importante documento adquire o alcance de uma verdadeira Carta Magna em matéria
de estudos e apostolado bíblicos. Concilio Ecumênico Vaticano II: de 1962 até
1965. Concílio de cunho pastoral convocado pelo Papa João XXIII (Angelo
Giuseppe Roncalli, papa de 28 de novembro de 1958 até 03 de junho de 1963) e
encerrado pelo Romano Pontífice Paulo VI (Giovanni Battista Montini,
pontificado de 21 de junho de 1963 até 06 de agosto de 1978).
3.2 - Data
O evangelho de Marcos é o mais primitivo e sua
redação deve ter ocorrido por volta do anode 65 d.C. aproximadamente, e
provavelmente em Roma, pois utiliza muitas expressões latinas, chegando mesmo a
nomear uma moeda de uso corrente em Roma (Mc 12,42: “quadrante”).
3.3 - Destinatários
É unânime que os destinatários do escrito de
Marcos deve ter sido a comunidade de Roma devido aos inúmeros latinismos
utilizados.
3.4 - Visão geral
O Evangelho Segundo Marcos é composto por 16
capítulos e apresenta a seguinte visão geral:
- Capitulo 1, 1-15: parte introdutória, onde o
objetivo de Marcos é apresentar
Jesus como o Filho de Deus;
- Capítulo 1,16 até 8,26: primeira parte do
Evangelho de Marcos que consiste em apresentar o que é o Reino de Deus e o que
se deve fazer para participar deste Reino. Há uma catequese de Jesus junto ao
povo
- Capítulo 8,27 até 13,37: segunda parte do
Evangelho de Marcos e neste bloco se encontram os anúncios da paixão com uma
catequese dirigida aos discípulos;
- Capítulo 14 até 16: parte final onde relata a
paixão, morte e ressurreição de Jesus.
3.5 - Alguns aspectos literários
Dentre as características do Evangelho de
Marcos destacam-se:
- é o relato que tem a linguagem mais simples
dos demais evangelhos;
- Marcos utiliza poucas expressões ou vocábulos
da língua hebraica, e quando usa procura explicar seus significados em virtude
da compreensão de seus destinatários (Mc 3,17; 5,41; 7,34; ...);
- também tendo em vista seus destinatários
Marcos usa poucas citações do Antigo Testamento e procura amenizar a relação
com os judeus;
- etc. 3.5.1 - Humanidade de Jesus O Evangelho
de Marcos tem como finalidade principal mostrar Jesus como o Filho de Deus (Mc
1,1; 15,39), mas é o evangelho que salienta com mais ênfase a natureza humana
de Jesus. Assim, podemos verificar uma série de sentimentos humanos de Jesus
que Marcos salienta:
- Mc 6,34: “Assim que ele desembarcou, viu uma
grande multidão e ficou
tomado de compaixão por eles, pois estavam como
ovelhas sem
pastor.”
- Mc 7,34: “Depois, os olhos para o céu, gemeu,
e disse: ‘Effatha’ que quer dizer ‘Abre-te’ “.;
- Mc 10,21: “Fitando-o, Jesus o amou e disse:
‘Uma só coisa te falta: vai, vende
o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no
céu. Depois, vem e segue-me’ “.;
- Mc 11,15: “(...) E entrando no Templo, ele
começou a expulsar os vendedores
e os compradores que lá estavam...”;
- Mc 14,33: “E, levando consigo Pedro, Tiago e
João, começou a apavorar-se e
a angustiar-se”.;
- etc. 3.5.2 - O segredo messiânico É singular
do texto evangélico de Marcos a temática do “segredo messiânico”; este tema não
é abordado por nenhum dos outros evangelistas. No que consiste este segredo?
Após cada ação de Jesus, nos milagres, ele
recomenda às pessoas que vão se apresentar aos sacerdotes, que eram as pessoas
que deveriam atestar a cura, mas proíbe que revelem que foi ele o autor de tal
feito. Até mesmo quando Jesus expulsa demônios (Mc 1,25.34; 3,11s), os proíbe
de revelar sua identidade divino-messiânica. A explicação para esta
recomendação é a seguinte: no conceito e mentalidade da época a palavra
messias, tinha também a conotação de um “ungido” de Deus para efetuar a
libertação do jugo romano, dando um caráter político-social para a messianidade
de Jesus. Além disto, os contemporâneos de Jesus, incluindo seus adeptos não
entendiam que Jesus deveria sofrer a morte na cruz, causando assim confusão.
Ora, que messias é este que sofrerá e morrerá na cruz? A reflexão final só é
elaborada e compreendida após a experiência da ressurreição de Jesus.
3.5.3 –
Aparições de Jesus
Ressuscitado O trecho final do Evangelho segundo Marcos – Mc 16,9-20 –
apresenta certa dificuldade quanto a autoria atribuída à Marcos. Este bloco é
um texto composto posteriormente ao corpo do referido evangelho, tendo sua
datação aproximada por volta do ano 150 d.C.. Trata-se de um acréscimo que
podemos classifica-lo como epílogo do texto.
A Bíblia
de Jerusalém, no início da nota explicativa para este trecho aborda esta
questão:
“O trecho final de Mc
(vv. 9-20) faz parte das Escrituras inspiradas; é tido como canônico. Isso não
significa necessariamente que foi escrito por Mc. De fato, põe-se em dúvida que
esse trecho pertença à redação do segundo evangelho. (...)”.
A temática deste epílogo é um resumo sobre as
aparições de Jesus ressuscitado que estão nos outros evangelhos canônicos.
Desta forma temos as seguintes relações:
- Mc 16,9-10 || Jo 20, 11-18: aparição a Maria Madalena;
- Mc 16,11-12 || Lc 24,13-35: aparição aos Discípulos de Emaús;
- Mc 16,14 || Jo 20,19s: aparição aos Onze e demais
Discípulos;
- Mc 16,15 || Mt 28,18-20: aparição aos Onze na Galiléia;
- Mc 16,19 || Lc 24,50-53: ascensão de Jesus.
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