"Tudo posso naquele que me fortalece"

 

"Tudo posso naquele que me fortalece"
(Fp 4.13 – ARA)




O texto bíblico acima é um dos muitos que estão sendo desvirtuados nos dias de hoje, citados e aplicados completamente fora de seu contexto literário e histórico para embasamento de idéias que envolvem a pregação do chamado "evangelho pragmático", onde as tribulações da vida são vistas como "maldições". Entretanto, o próprio apóstolo Paulo tinha consciência da necessidade das vicissitudes da vida, afirmando que "...a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Romanos 5.3 e 4 - ARA) e que todos os filhos de Deus deveriam ser "...pacientes na tribulação..." (Romanos 12.12 - ARA). Nas palavras que antecedem o texto em comento, Paulo disse aos irmãos filipenses o seguinte:

"...aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez" (vv. 11 e 12 - ARA).

A grande maioria dos teólogos acredita que Paulo escreveu a Epístola aos Filipenses durante uma de suas prisões, talvez em Roma ou Éfeso. Segundo Francis Davidson¹, “Houve duas razões principais que induziram o apóstolo a escrever aos filipenses. A primeira, para hipotercar-lhes sua gratidão pelo fato de eles, simpatizando com seu apostolado e partilhando de suas aflições, lembrarem-se de enviar-lhe algumas dádivas por intermédio de Epafrodito, um de seus membros (Fil. 4:10-18). A segunda, para corrigir algumas pequenas desordens existentes no seio da igreja”. Nas palavras do saudoso Merril Frederick Unger², “...Seu tema é a adequação de Cristo a todas as experiências da vida – privação, perseguição, dificuldades, sofrimento e também prosperidade e popularidade. Cristo dá alegria e triunfo venha o que vier, desde que a ele se conceda o centro da vida” . Portanto, Paulo escreveu palavras motivadoras aos seus leitores, em meio à intensa tribulação a que estava condicionado no momento!

Analisando criteriosamente o contexto literário e histórico, pode-se concluir que a expressão paulina “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13 – ARA) não diz respeito ao “poder de conquistar todas as coisas”, como pregam os “apóstolos modernos”, mas sim, ao “poder de enfrentar e suportar todas as situações em Cristo”. David H. Stern³ comenta o referido texto bíblico da seguinte forma:

“O cristianismo é acusado de estimular tanto o ascetismo quanto a ganância. O ensino destes versículos, baseados em experiência pessoal (detalhada em 2Co 11:21-33), é o de que o Messias oferece poder para se enfrentar tanto a escassez quanto a fartura, na verdade o poder para todas as coisas” .

O teólogo pentecostal David Demchuk4, após tecer uma breve crítica ao frequente mau uso do texto de Filipenses 4.13, deixa claro seu entendimento, nas palavras a seguir transcritas, de que a expressão contida no referido texto diz respeito à capacidade que Paulo tinha recebido do Senhor Jesus, o Cristo, para enfrentar todas as adversidades da vida:

“Em uma conclusão triunfal, o verso 13 revela a principal fonte do contentamento de Paulo: “Posso todas as coisas, naquele que me fortalece”. Este contexto do verso tem sido frequentemente transgredido, e esta verdade tem sido colocada a serviço de extravagâncias caprichosas. O apóstolo está claramente se referindo à grande variedade de suas próprias experiências (v. 12). A importância do verso 13 é encontrada no fato dessa capacidade de Paulo lutar com as adversidades da vida não ter sido alcançada por meio da auto-suficiência (como os estóicos ensinavam), mas através da suficiência em Cristo. Este fortalecimento foi parte da experiência cristã contínua de Paulo e estava fundamentado em sua união com Cristo”.

Concluindo, pode-se dizer, sem dúvida alguma, que a expressão paulina “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13 – ARA), ao contrário do que se prega atualmente, é uma das maiores expressões de fé para aplicação prática na vida diária de cada cristão, pois ensina a confiar no Deus Eterno em quaisquer situações, acreditando que Ele, embora não livre seus filhos de sofrer dificuldades na vida, outorga poder para enfrentá-las e suportá-las sempre.

 

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