“...
e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna.” (Atos 13.48)
Uma
verdade incontroversa encontrada nas Escrituras é que a salvação é uma obra
exclusiva de Deus. Deus, o Pai, a planejou. Deus, o Filho, a executou. Deus, o
Espírito Santo, a aplica. Do começo ao fim, a salvação é uma obra divina. O
texto acima destaca a soberania de Deus na salvação. Não diz o texto que todos
os que creram foram destinados para a vida eterna, mas está escrito que todos
os que foram destinados para a vida eterna creram.
3.1. Deus (Apoc 1:8)
A salvação começa com Deus, e isso, “antes da
fundação do mundo” (Efés. 1:3,4; II Tess 2:13; Apoc 13:8). Por causa de não
existir no princípio um homem sequer, junto com a sua vontade, nem o ministério
dos anjos ou a pregação da Palavra de Deus - a salvação começou com o que era
no princípio: Deus (Gên. 1:1). Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim
(Apoc 1:8, 11). Deus é a primeira causa de tudo, um conceito reservado para odivino
(Rom. 11:36). Por quê? “Ó Pai, porque assim te aprouve.” (Luc 10:21).
Entendendo a situação deplorável do homem (Gên.
6:5; Rom. 3:10-18) podemos
entender que a fé em Cristo é “obra de Deus”
(João 6:29). É necessário lembrar-nos que o assunto deste estudo é a salvação e
não a condenação. Os condenados pela justiça santa de Deus só podem culpar a
sua própria cegueira espiritual e amor pelo pecado. Nunca podem responsabilizar
a Deus pela condenação (Ecl 7:29). Os salvos, de outra maneira, somente têm
Deus para louvar pela salvação (II Tess 2:13).
3.2. O Bom Prazer da Sua Vontade (Efés. 1:11)
A vontade de Deus é a expressão do prazer de
Deus. A vontade de Deus não pode ser diferente da Sua natureza, portanto, ela é
soberana (não influenciada pelas forças terceiras), santa (pura, imaculada,
inocente), poderosa (Ele pode desejar o que Ele deve) e imutável (nada pode
impedi-la ou muda-la).
É a Sua vontade que motiva as Suas ações (Efés.
1:11, “faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”). Na esfera dos
Deuses o verdadeiro Deus se destaca, pois, somente Ele faz “tudo o que lhe
apraz” (Sal 115:3). O que foi criado, nos mares e em todos os abismos, é
atribuído a ser criado por que Deus quis (Sal 135:6, “tudo o que o SENHOR quis,
fez”). A eleição em Cristo que foi programada antes da fundação do mundo e a
predestinação para os Seus serem filhos de adoção por Jesus Cristo são tidos
como sendo “segundo o beneplácito de Sua vontade” (Efés. 1:4,5); “segundo o seu
próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos
tempos dos séculos” (II Tim 1:9). Tudo o que é envolvido no assunto da salvação
é “segundo a Sua vontade” (Tiago 1:18). Deve ser notado que o amor e a graça de
Deus fazem parte de Deus e conseqüentemente a salvação, mas não serão tratados
como causas da salvação em particular pois podem ser considerados melhor num
estudo detalhadamente sobre a própria vontade de Deus. É lógico que seja a
vontade de Deus uma causa da salvação pois a vontade de Deus é uma parte
essencial da sua natureza expressando-a e sendo tudo que Deus é. “Falhamos em
entender a origem de qualquer coisa quando não voltamos à vontade soberana de Deus” (Pink, The Atonement, p. 22). Se Deus
é antes de todas as coisas (Col. 1:17), a sua vontade é também antes de tudo
que existe e acontece. Aquele que sucede e é efetuado no mundo é o que o SENHOR
dos Exércitos pensou e determinou (Isa 14:24, “O SENHOR dos Exércitos jurou,
dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se
efetuará”). Muito além de a Sua vontade ser um tormento, é confortadora. Deus
fazendo as Suas obras conforme o bom prazer da Sua vontade conforta o santo na
sua tribulação.
O servo Jó confiou na
vontade de Deus na sua tristeza e foi confortado (Jó 23:13, “O que a Sua alma
quiser, isso fará”). A mesma vontade que nos salva é aquela que garanta-nos o aperfeiçoamento
da salvação até o memento que estamos na presença do Salvador no céu (João
6:39,40). Tal conhecimento da vontade de Deus traz paz ao salvo. Tudo que
Cristo precisava fazer pessoalmente para efetuar a salvação foi em submisso à
vontade de Deus (Heb 10:7; Mat. 26:39). Tudo que os outros fizeram com Jesus durante
o Seu tempo na terra, sim, até a traição de Judas, o julgamento injusto e a crucificação
vergonhosa foi “pelo determinado conselho” de Deus (Atos 2:23). Ninguém fez
mais nem menos do que a completa vontade de Deus. Podemos não entender este ponto,
mas a verdade revelada pela Palavra de Deus pode ser maior que a nossa capacidade
de entende-la. Devemos acatá-la pela fé (Heb 11:1,6).
Mesmo que incluímos a
vontade de Deus como parte da causa da salvação devemos frisar que a vontade de
Deus não é a própria condenação ou a salvação mas uma parte íntegra de ambas.
Há meios que Deus usa para efetuar a sua vontade e estes meios serão tratados
posteriormente.
3.3. A Sua
Presciência (I Pedro 1:2)
A palavra ‘presciência’
(em grego: prognosis, #4268. Usada somente em Atos 2:23 e I Pedro 1:2) não é
idêntica à palavra ‘conhecer’ (em grego: proginosko, # 4267. Usada em Atos
26:5; Rom. 8:29; 11:2; I Pedro 1:20 e II Pedro 3:17) mesmo que é relatada a
ela. A palavra ‘presciência’ tem mais do que um mero conhecimento prévio de
fatos embutido nela. É claro que Deus conhece todas as coisas e todas as
pessoas pois ele é onisciente. Todavia a palavra ‘presciência’ também tem um
entendimento de preordenação ou uma preparação prévia (Thayer’s Léxico. Citado
em Simmons, p. 211, Inglês).
A presciência de Deus não
somente conhece tudo, mas determina tudo em relação à salvação: O nascimento
de Cristo (Gal 4:4), a morte de Cristo pelas mãos injustas (Atos 2:23; 4:28),
as pessoas a serem salvas (I Pedro 1:2, “os eleitos”), o envio da mensagem a
estes (Atos 18:10) e a hora que crêem (Atos 13:48). Tudo foi segunda a Sua
ordenação explicita que, por sua vez, é segundo a Sua vontade que é eterna (II
Tess 2:13,14; Rom. 9:15,16). É nesse sentido de preordenação, que a salvação é
segundo a presciência de Deus.
Deus conhece os Seus intimamente com um amor
especial e a palavra ‘presciência’ indica isso. A presciência que Deus tem do
Seu próprio povo quer dizer Sua complacência peculiar e graciosa para com Seu
povo” (Comentário de Jamieson, Fausset, e Brown, citado pelo Simmons, p. 241,
Português). Por ter um amor especial, Deus age para com os Seus em maneiras
especiais (Deut. 7:7,8; Jer 31:3; Rom. 9:9-16; I João 4:19). No sentido de preordenação,
os eleitos são especialmente e intimamente amados antemão. É nessa maneira eles
são determinados em I Pedro 1:2 de serem eleitos “segundo a presciência de Deus”.
Há os que determinem que a vontade eterna de
Deus é baseada naquilo que vem livremente do homem: a sua vontade. Isso séria
de basear a salvação divina no conhecimento anterior que Deus tem de algumas
ações do homem. Se a vontade de Deus é baseada na ação que Deus
conhecia antemão que um homem faria é verdade que o conhecimento da ação
do homem veio antes da própria vontade de Deus. Mas como temos estudado,
Deus é antes de todas as coisas, e, em verdade “todas as coisas subsistem por
Ele” (Col. 1:17). A salvação do pecador não é baseada na vontade do homem, mas
na de Deus (Efés 1:11).
O novo nascimento “não vem da vontade da carne,
nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1:13; Rom. 9:16). Por isso, quando consideramos
a causa da salvação, tanta a vontade soberana e a presciência de Deus são contempladas.
Os eleitos “segundo a presciência” de Deus são os que foram eleitos ‘em’ a presciência
de Deus (Simmons, p. 211, Inglês). Os eleitos são chamados não segundo as suas
obras, mas, “segundo o Seu próprio propósito e graça” que foi-lhes dado em
Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos (II Tim 1:9). A presciência, contudo,
não anula que o homem tem uma escolha na salvação. Os mandamentos de Deus para
com o homem e as promessas de Deus em resposta às ações do homem confirmam que
o homem tem responsabilidade pessoal. Todavia, a presciência garanta que os
eventos preordenados serão feitos, até mesmo pela ação livre do homem.
A referencia de Atos 2:23 e as múltiplas
profecias sobre a vinda, vida, morte, ressurreição de Cristo, a implantação da
sua igreja no mundo e os eventos que chamamos ainda de ‘futuros’ são provas que
a presciência garanta eventos predeterminados sem anular a ação livre do homem.
Aqueles que Deus não conheceu intimamente (Mat.
7:23) são os condenados.
Devemos frisar que estes não são condenados por
não serem especialmente conhecidos antemão por Deus, mas por praticarem a
iniqüidade. São eternamente julgados por não buscarem a justiça de Deus pela fé
(Rom. 9:31-33). O inferno é para os que “não se importaram de ter conhecimento
de Deus” (Rom. 1:28). A Bíblia diz claramente que “o erro dos simples os
matará, e o desvario dos insensatos os destruirá” (Prov. 1:25-32). Os “entenebrecidos
no entendimento” são verdadeiramente separados da vida de Deus. Essa separação
não é pela eleição, mas, biblicamente, “pela ignorância que há neles, pela dureza
do seu coração” (Efés. 4:17-19). Os salvos são recipientes da misericórdia e da
graça de Deus segundo a Sua vontade e trazidos ao arrependimento e a fé em
Cristo (Jer 31:3; Rom. 9:14,15; Efés. 2:5-9). Os salvos têm somente a Deus, Seu
amor e a Sua vontade para louvarem eternamente. Os não salvos não são
recipientes da misericórdia e da graça especial de Deus e são condenados pelos
seus pecados (Rom. 6:23). Eles somente podem culpar o seu próprio pecado pois
são estes que separam-se de Deus (Isa 59:1-3). Os
condenados têm somente a sua incredulidade para
os acompanharem pela eternidade (João 3:18,19). Devemos lembrar-nos que o
propósito da salvação, que já estudamos, não é nem a salvação ou a condenação
do homem, mas a própria glória de Deus. Tanto a salvação quanto a condenação
operam para este fim (Prov. 4:16). A presciência faz parte da causa da salvação
e não da condenação.
3.4. A Soberania de Deus (Efés. 1:11)
A palavra soberania significa: 1. Qualidade de
soberano. 2. Poder ou autoridade
suprema de soberano. 3. Autoridade moral, tida
como suprema; poder supremo. Propriedade que tem um Estado de ser uma
ordem suprema que não deve a sua
validade a nenhuma outra ordem superior. 5. O complexo dos
poderes que formam uma nação politicamente organizada (Dicionário Aurélio
Eletrônico).
Quando falamos da soberania de Deus entendemos
a qualidade de Deus desejar e fazer o que lhe apraz. É o exercício da Sua
supremacia ou a expressão da sua santa independência. A soberania de Deus deve
ser considerada como parte da causa da salvação juntamente com a sua vontade e
preordenação. É a vontade soberana que é relacionada com a Sua presciência, e,
é o Seu poder soberano que determina que a Sua vontade seja realizada (Isa
46:10,11, “O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade”; 55:10,11,
“fará o que me apraz”; Daniel 4:35; Atos 2:23). Que Deus é tido como soberano é
claro pelos versículos seguintes (Jó 23:13; Sal 115:3; 135:6; Lam 3:37,38; Isa 14:24;
45:7; Isa 46:9,10; João 19:11; Rom. 11:33-39). Deus é soberano na salvação pois
Ele não é obrigado a salvar qualquer das suas criaturas rebeldes. A Sua
soberania na salvação é entendida pelo Romanos 9:18, “Logo, pois, compadece-se
de quem quer, e endurece a quem quer.” (Veja também Efés. 2:7-11). Deus, pelo
soberania, faz o Teu povo chegar a Si (Sal 65:4) e isso, voluntariamente (Sal
110:3). “Deus não é somente soberano, mas também é amor. Soberania isolada pode
ser fria e dura. Amor isolado pode ser fraco. Deus não é frio e duro nem fraco.
Ele é tanto Todo- Poderoso quanto cheio de amor. A soberania de Deus assegura
que tudo que aconteça a nós é para Sua glória e o amor de Deus assegura que
tudo que aconteça a nós é para o nosso bem.” (Maggie Chandler, Leaves,
Worms, Butterflies and T. U. L. I. P. S., p. 70)
A soberania de Deus, em relação a causa da
salvação junto com a sua vontade e presciência, é um assunto que vai além do
entendimento do homem. A soberania de Deus pode ser considerada uma parte
daquele que é encoberto e que pertence somente ao SENHOR. Porem, aquela parte
da soberania de Deus que é revelada pela Palavra de Deus, é para nós e deve ser
abordada (Deut. 29:29). Mesmo assim que deve ser estudada, nem tudo revelado
nas Escrituras é entendido facilmente. Há coisas para nós inescrutáveis (Jó 42:3),
insondáveis (Rom. 11:33) e mais do que podemos contar (Sal 40:5). Mesmo que nunca
alcançaremos os caminhos de Deus ou chegaremos à perfeição do Todo-Poderoso (Jó
11:7), toda essa glória não deve nos cegar de ter fé no que as Sagradas
Escrituras revelam de Deus. O homem pode não entender tudo sobre a Deus junto
com a Sua vontade, a Sua presciência e Soberania (Mat. 20:13-15), mas em nenhum
instante isso justifica o homem a julgar ou replicar a Deus (Rom. 9:14-21) e
nem ser ignorante do assunto. Se vamos andar da maneira reta diante de Deus,
precisaremos andar pela fé com os fatos revelados (Heb 11:1,6). O assunto da
soberania de Deus pede que exercitamos
essa fé. A justiça e o amor de Deus são
envolvidos na salvação mas não propriamente como a causa dela. A justiça pede a
condenação dos pecados (Gên. 2:7; Ezequiel 18:20; Rom. 6:23) e não a salvação.
O amor de Deus é o que trouxe Cristo para ser o Salvador (João 3:16; Rom.
5:6-8), todavia estamos tratando não o ato da salvação mas a sua causa.
3.5. A Natureza da Salvação
O fato de estudarmos a salvação presume que ela
existe (João 3:19). Se ela existe há uma necessidade que faz ela existir. Por
ter uma doutrina da salvação é presumida a existência de iniqüidade, que é a
quebra de uma lei (I João 3:4; 5:17, “o pecado é iniqüidade.”), e a existência
de um que deu a lei, quem é Deus (João 15:22,24, “Se Eu não viera, nem lhes
houvera falado, não teriam pecado...”). Tudo o que é pecado (que será estudado
posteriormente) e tudo que o pecado causa é desfeito pela salvação.
A salvação é uma libertação. A salvação é
libertação da culpa e impiedade do pecado juntamente das suas conseqüências
eternas de rebelão contra o governo do Deus Todo- Poderoso (Cole, Definitions,
V.II, p. 52). Sem a libertação que a salvação efetua, o pecador séria excluído
eternamente da presença de Deus e para sempre exposto à Sua ira (João 3:36). O
fato da salvação ser livre, substitutiva, penal e sacrificatória será tratado
quando estudamos o preço pago por Cristo na salvação. Por agora entendemos que
a salvação é necessária e é uma libertação.
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