As mulheres, e o
silêncio nas igrejas
Se
uma mulher tiver dúvidas sobre uma profecia, ela deve reservar todas as
discussões para conversas particulares com o marido. Ela não deve levantar
questões ou objeções durante o culto de adoração. Por quê? Pois é vergonhoso
para ela “falar” de qualquer maneira que possa sugerir uma subversão da
liderança masculina. A palavra traduzida como “vergonhoso” é usada apenas mais
uma vez em 1 Coríntios – no capítulo 11.6, onde Paulo mais uma vez está falando
sobre potenciais violações da liderança masculina.
Novamente,
Paulo não é contra as mulheres falarem de modo geral. Ele reconhece que elas
estão orando em voz alta e profetizando em voz alta na assembleia (1Co 11.5).
Ele simplesmente não quer que elas julguem as profecias na assembleia porque
isso violaria a norma de liderança.
Se
essa interpretação estiver correta, então há pelo menos duas implicações que
devemos levar em consideração durante a adoração em nossas próprias
congregações.
Primeiro
Estaremos indo além do exemplo da escritura se excluirmos o que Paulo claramente permite – mulheres orando e compartilhando a revelação de Deus durante os cultos de adoração. Acontece que sou um cessacionista, o que significa que não acredito que a profecia seja uma experiência contínua nas igrejas de Cristo. Dito isso, a revelação de Deus ainda tem um lugar em nossos cultos de adoração por meio das escrituras.
Hoje,
ler em voz alta a revelação de Deus nas escrituras é o equivalente funcional de
profetizar a revelação de Deus nos dias de Paulo. Biblicamente falando, seria
totalmente de acordo com as instruções de Paulo as mulheres lerem as escrituras
e orarem durante a assembleia reunida do povo de Deus. Ambas as coisas podem
ser feitas de uma forma que honre o princípio da liderança (cf. 1Co 11.2-16).
Existem várias maneiras de aplicar isso em uma igreja local. Em minha própria
igreja, isso significa que temos mulheres orando e lendo as escrituras em
nossas reuniões semanais de oração e em cultos especiais (na Páscoa no Natal).
Em nossa adoração semanal regular, entretanto, o serviço é dirigido e liderado
pelos homens da igreja.
Segundo
Seria uma violação do princípio da liderança as mulheres ensinarem ou exercerem autoridade na adoração corporativa. Na terminologia de Paulo, “ensino” envolve explicar e aplicar uma revelação já dada. O julgamento das profecias teria incluído avaliações e correções que são o equivalente funcional do ensino. É por isso que Paulo não deseja que as mulheres julguem as profecias na assembleia reunida. Seria como permitir que ensinassem e exercessem autoridade – algo que ele claramente proíbe em 1 Timóteo 2.12: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio.”
Quando a liberdade se torna inconveniente
Gaia Afrânia foi esposa do senador romano Lucínio Buccio que viveu no séc. I aC. Ela ficou conhecida por defender a si mesma e a outras mulheres nos tribunais de Roma, algo extremamente incomum e até escandaloso para os padrões da época. Sua postura foi considerada inconveniente, e seu nome passou a ser associado à ideia de mulheres desordeiras e litigiosas. Por causa dela, um édito foi emitido proibindo que mulheres advogassem em nome de outras mulheres.
A
figura de Gaia, no entanto, foi recentemente usada de forma diferente em um
debate sobre o ministério pastoral feminino. Mateus Rangel afirmou que, em 1Co
14:34, quando Paulo menciona que as mulheres devem manter silêncio “como também
ordena a lei”, de acordo com A.T. Robertson, estaria se referindo à Lex
Afrania, uma suposta lei romana para silenciar mulheres no contexto do
sinédrio. Mas isso não se sustenta.
(1)
A chamada Lex Afrania nunca existiu, foi apenas um édito para o ambiente
jurídico romano e não uma lei orientada ao sinédrio judaico. Ao que tudo
indica, esse édito era local e desconhecido em Corinto;
(2)
A.T. Robertson, nunca disse que Paulo estava pensando nesse caso. Pelo
contrário, Robertson menciona Gaia apenas como um exemplo cultural, e ainda
assim questiona se Paulo teria sequer ouvido falar dela. Para Robertson, a
“lei” em questão é o mandamento de Gn 3:16, que trata da submissão da mulher,
não de seu silêncio.
(3)
Além disso, o próprio texto grego mostra que Paulo conecta o mandamento da
submissão à lei, e não a ordem de silêncio. A estrutura do versículo deixa isso
claro.
Portanto,
Gaia Afrânia, embora uma figura interessante, não tem relação alguma com a
discussão sobre o papel da mulher no ministério pastoral. Sua história foi
citada fora de contexto e usada para justificar uma interpretação equivocada do
texto bíblico. O uso indevido de fontes e a tentativa de conectar um edito
romano ao ensino apostólico distorce tanto a história quanto a exegese.
Acredito que, embora existam dificuldades presentes neste texto, a proposição
de Gaia como explicação para o contexto cultural do texto não pode ser aceita
como válida.
Paulo tem um último item que vale a pena comentar:
“36Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros?”
Lembre-se de que Paulo começa sua ordem com um apelo sobre como as coisas são feitas “em todas as igrejas” (v.33b). Por que isso foi uma consideração relevante? A palavra de Deus não é domínio exclusivo de nenhuma igreja. A palavra de Deus não se originou em Corinto, nem foi o único lugar ao qual ela chegou. A palavra de Deus está espalhada pelas igrejas.
Os
coríntios precisam prestar atenção em como o Espírito de Deus está se movendo e
trabalhando em todas as igrejas. Se todas as igrejas estão ouvindo uma coisa do
Espírito, mas os coríntios estão praticando outra coisa, então isso é uma boa
indicação de que os coríntios são os discrepantes, não todos os outros. Todo
mundo está observando a liderança masculina. O mesmo deve acontecer em Corinto.
Como Paulo escreve sobre a liderança em 1 Coríntios 11.16: “nós não temos tal
costume, nem as igrejas de Deus”.
Paulo
deseja enfatizar que seu ensino sobre a liderança masculina não é algo que seja
bom para algumas pessoas, mas não para outras. Não, isso é uma parte do plano
da criação de Deus e é o padrão que deve prevalecer em todas as igrejas. O
versículo 36 confirma que a Palavra de Deus não é domínio exclusivo da igreja
de Corinto. A palavra de Deus veio a eles e a todas as outras igrejas. Se isso
é verdade, então os coríntios deveriam estar honrando a liderança masculina
assim como todas as outras igrejas fazem.
Obs:
O Apóstolo não usa o termo: λεγω / λέγω / lego = silêncio. Mas tem uma terminologia para: רעש / רַעַשׁ / ra'ash / ra'ash (ra-ash) = sm. vibração, de limitação, tumulto.
O
ensino da Bíblia pode ser controverso, mas não é contraditório. Paulo não
proíbe as mulheres de orar e profetizar na assembleia. Pelo contrário, ele
deseja que o façam de uma forma que honre a liderança masculina (1Co 11.2-16).
Entre outras coisas, isso significa que as mulheres podem profetizar, mas não
podem julgar as profecias (1Co 14.34-36). Este ensino reflete a preocupação
prática de Paulo com as mulheres que ministram em igrejas e como elas podem
fazer isso de uma forma que honre a liderança. Essa mesma preocupação deve
marcar todas as congregações – até mesmo a nossa.
[i]
Richard B. Hays, First Corinthians, Interpretation (Louisville, KY: John Knox,
1997), 249.
[ii] D. A Carson, “‘Silent in the Churches’: On the Role of Women in 1 Corinthians 14:33b-36,” in Recovering Biblical Manhood & Womanhood: A Response to Evangelical Feminism (Wheaton, IL: Crossway, 1991), 140–53.
Estaremos indo além do exemplo da escritura se excluirmos o que Paulo claramente permite – mulheres orando e compartilhando a revelação de Deus durante os cultos de adoração. Acontece que sou um cessacionista, o que significa que não acredito que a profecia seja uma experiência contínua nas igrejas de Cristo. Dito isso, a revelação de Deus ainda tem um lugar em nossos cultos de adoração por meio das escrituras.
Seria uma violação do princípio da liderança as mulheres ensinarem ou exercerem autoridade na adoração corporativa. Na terminologia de Paulo, “ensino” envolve explicar e aplicar uma revelação já dada. O julgamento das profecias teria incluído avaliações e correções que são o equivalente funcional do ensino. É por isso que Paulo não deseja que as mulheres julguem as profecias na assembleia reunida. Seria como permitir que ensinassem e exercessem autoridade – algo que ele claramente proíbe em 1 Timóteo 2.12: “E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio.”
Gaia Afrânia foi esposa do senador romano Lucínio Buccio que viveu no séc. I aC. Ela ficou conhecida por defender a si mesma e a outras mulheres nos tribunais de Roma, algo extremamente incomum e até escandaloso para os padrões da época. Sua postura foi considerada inconveniente, e seu nome passou a ser associado à ideia de mulheres desordeiras e litigiosas. Por causa dela, um édito foi emitido proibindo que mulheres advogassem em nome de outras mulheres.
“36Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros?”
Lembre-se de que Paulo começa sua ordem com um apelo sobre como as coisas são feitas “em todas as igrejas” (v.33b). Por que isso foi uma consideração relevante? A palavra de Deus não é domínio exclusivo de nenhuma igreja. A palavra de Deus não se originou em Corinto, nem foi o único lugar ao qual ela chegou. A palavra de Deus está espalhada pelas igrejas.
O Apóstolo não usa o termo: λεγω / λέγω / lego = silêncio. Mas tem uma terminologia para: רעש / רַעַשׁ / ra'ash / ra'ash (ra-ash) = sm. vibração, de limitação, tumulto.
[ii] D. A Carson, “‘Silent in the Churches’: On the Role of Women in 1 Corinthians 14:33b-36,” in Recovering Biblical Manhood & Womanhood: A Response to Evangelical Feminism (Wheaton, IL: Crossway, 1991), 140–53.
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