A epístola de Tiago

 

A epístola de Tiago

 



É considerada como “epístola universal” porque foi originalmente escrita par uma comunidade maior que uma igreja local. Essa epístola foi escrita inicialmente a cristãos judeus que viviam fora da Palestina. É possível que os destinatários fossem os primeiros convertidos em Jerusalém, que, após a morte de Estevão, foram dispersos pela perseguição (At 8:1) até a Fenícia, Chipre, Antioquia da Síria etc. (At 11:19). 

Isso explicava a ênfase inicial da carta quanto ao sofrer com alegria as provocações que tentavam a fé e que demandam perseverança, o conhecimento pessoal que Tiago demonstrava ter pelos crentes “dispersos” e o tom de autoridade da carta. Como pastor da igreja de Jerusalém, Tiago escreve às suas ovelhas dispersas.

 

O Autor

Tiago, meio-irmão de Jesus e dirigente da Igreja de Jerusalém, é tido como o autor. Na Bíblia encontramos outros dois Tiago: (1) Filho de Zebedeu e irmão de

João, que foi decapitado por ordem do Rei Herodes Agripa I, por volta do ano 44. d.C. Por isso é difícil crer que pudesse escrever essa carta, por causa da época e circunstâncias; (2) Filho de Alfeu. Ele é somente mencionado na lista dos doze discípulos. Tiago, o meio irmão de Jesus, é quem mais preenche as condições como escritor desta epístola, por causa de suas referências pessoais e por ser um homem influente, principalmente entre os judeus cristãos. O mais provável que a epístola tenha sido escrita por volta de 46 e 49 d.C., antes do Concilio de Jerusalém. Se assim foi, ela é um dos primeiros livros do Novo Testamento.

 

O Tema

Tiago é uma epístola mais prática do que doutrinária. O seu tema é “Fé e Obras”. Com relação a fé, Tiago incentiva os judeus cristãos a uma fé viva e eficaz, porquanto, somente assim é possível ao homem alcançar a perfeição cristã. Em to dos os cinco capítulos destaca-se o relacionamento entre a verdadeira fé e a vida piedosa. A fé genuína é uma fé provada, ativa, pela qual se ama o próximo como a si mesmo, manifesta-se pelas boas obras, mantém a língua sob controle, etc.

 

Saudação (Tg 1.1)

A epístola inicia-se com uma saudação em que consta o nome do remetente: “... às doze tribos que se encontram na dispersão...”. Possivelmente Tiago se refere aos primeiros convertidos em Jerusalém, que foram dispersos pela perseguição.

 

As Provações e Seus Benefícios (Tg 1:2-18)

Esta epístola trata de uma ampla variedade de temas relacionados à verdadeira

vida cristã. Tiago inicia dizendo que o caráter cristão é formado também pelas provações que constituem num teste. Ele exorta-os a se alegrarem diante das provações. “Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por provações, sabendo que a prova da vossa fé desenvolve a perseverança” (Tg 1:2,3). Quem não consegue compreender isso deve pedir sabedoria a Deus (1:5). Deus se deleita em dar, segundo a nossa necessidade. Mas, devemos pedir com fé, sem duvidar (Tg 1:6), para não sermos comparados à onda do mar ou ao homem de coração dobre, que é inconstante em seus caminhos (Tg 1:8). Tiago continua ensinando que o homem deve compreender a fidelidade do da pobreza e da riqueza (1:9-11) e saber que Deus não é culpado de todas ao coisas, pois Ele não pode ser tentado pelo mal e nem tenta a ninguém; Ele é doador daquilo que é bom. (1:13-18). Muitas vezes nos confundimos quanto à origem da tentação. De onde ela vem? Tiago esclarece dizendo “... cada um é tentado pela sua própria cobiça, atrai e reduz” (1:14). Isto significa que a origem da tentação é a cobiça da própria natureza pecaminosa do homem. Por isso o verdadeiro cristão tem poder sobre a tentação quando controla os seus desejos maus e indignos pelo poder do Espírito Santo.

 

Ouvintes e Praticantes da Palavra de Deus (Tg 1:19-2:13)

A vida cristã deve ser vivida em verdadeira piedade que é saber receber e viver

pela Palavra que em nós foi implantada, a qual não deve apenas ser ouvida, mas cumprida. “E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (1:22). A vida é para ser demonstrada na prática e não para ser expressada num culto formal apenas.

“Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela per severa, não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem– aventurado no que realizar. Se alguém cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a sua religião vã. A religião pura e imaculada

para com nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e guardar-se incontaminado pelo mundo” (1:25-27).

A “Lei perfeita da Liberdade”, se refere a vontade de Deus mantida no âmago do nosso coração pelo Espírito Santo que em nós habita. O crente nunca deve pensar na liberdade para violar os mandamentos de Cristo, mas sim, em ter liberdade e o poder para obedecê-los. Tiago afirma também neste trecho que a língua descontrolada é o maior problema do crente. Se o crente é incapaz de controlar a própria língua, sua religião é vã.

 

Como vimos, Tiago coloca dois aspectos muito importantes da religião pura:

a)Visitar os órfãos e viúvas nas suas tribulações – o amor genuíno pelos necessitados;

b)Guardar-se incontaminado do mundo – conservar-se santo diante de Deus.

No capitulo 2, versículos de 1 a 13, Tiago exorta dizendo que não deve haver acepção de pessoas. Fazer acepção de pessoas significa demonstrar atenção especial, ou favoritismo, a uma pessoa por causa da sua riqueza, roupas ou posição. Não deve haver parcialidade entre os crentes (vv. 1-7), pois ela cria discriminações de todos os tipos, principalmente contra o pobre. O pecado da parcialidade como pretexto de amor é como assassinato e adultério (vv. 8-13).

“Pois qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, torna-se culpado de todos. Pois aquele que disse: não adulterarás, também disse: não matarás. Ora, se não adulteras, mas matas, torna-se transgressor da lei. Falai, de tal maneira e de tal maneira procedei, como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade. Porque o juízo será misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo!” (2:10-13).

 

O crente deve professar a fé e comprová-la (Tg. 2:14-26)

Esses versículos tratam do problema, sempre presente na igreja, daqueles que professam ter fé, mas que, ao mesmo tempo, não demonstram pelas obras nenhuma evidência de devoção sincera à Deus e à Sua Palavra. A fé sem obras é morta (vv 14-20). Tiago apresenta o exemplo de um irmão que diz ao outro necessitado: “...Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos...” (2:16). De que vale a fé que se mostra passiva ante tais sofrimentos, que não se dispõe a acudir o necessitado? A fé expressa só em palavras, sem as devidas ações, está morta. “...Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” (2:14). Tiago reforça seus ensinos contra os que na igreja professavam fé em Cristo e na expiação pelo sangue, crendo que isso por si só bastasse para a salvação. Ele diz que semelhante fé é morta e que não resultará em salvação, nem em qualquer outra coisa boa. O único tipo de fé que salva é “a fé que opera por caridade” (Gl 5:6).

 

Tiago cita Abraão, que não hesitou em obedecer à ordem de Deus oferecendo

Isaque seu filho e Raabe, a prostituta, que facilitou a fuga dos espias. Ambos foram justificados por suas obras de fé. Para Tiago, “Obras” se refere às nossas obrigações para com Deus e o homem, as quais são ordenadas nas Escrituras, e provêm de uma fé sincera, de um coração puro, da graça de Deus e do desejo de agradar a Deus.

 

O cuidado com o uso da língua (Tg 3)

Tiago inicia esse capítulo dizendo que quanto maior a responsabilidade, maior

deve ser o cuidado com a língua, “sabendo que recebereis mais duro juízo” (3:1). Ele avisa contra o uso indevido da “língua”, pois quem consegue controlá-la, controla a vida e as influências. “...Se alguém não tropeça no falar; é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo” (3:2).

É possível que na igreja judaica houvesse muitos briguentos, temperamentais,

presunçosos, que costumavam bendizer a Deus, mas, também falavam mal uns dos outros, cobiçando posição eclesiástica e social do semelhante, e julgando os irmãos. Tiago diz: “...Meus irmãos, não é conveniente que essas coisas sejam assim” (3:10). O cristão deve procurar a verdadeira sabedoria que vem do alto. Existem duas formas de sabedoria: a verdadeira e a falsa. A falsa produz inveja, rivalidade, contendas, que ensina doutrinas falsas e estultas, que ofusca a pessoa de Jesus Cristo. “Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má” (3:15,16). A sabedoria dependência de Deus. Ela é pura, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia. “Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para os que promovem a paz” (3:18).

 

O mundo contra Deus (Tg 4:1- 5:6)

O crente vive em confronto entre a vontade de Deus e a do mundo que o cerca.

Devemos entender que o mundo busca o seu próprio prazer, mas não a vontade de Deus; e por isso é egoísta, adúltero e rebelde. “Donde vêm as guerras e pelejas entre vós” (4:1). A origem principal das con tentas e conflitos na igreja concentra-se no desejo de reconhecimento, honrarias, glória, poder, prazer, dinheiro e superioridade. Quando isso ocorre, surgem conflitos egocêntricos na congregação. Os causadores dessa situação demonstram que não tem o Espírito Santo e que estão fora do Reino de Deus. “Cobiçais e nada tendes, (...) combatais e guerreais e nada tendes (...). Pedis e não recebeis...” (4:2,3).

Deus deixa de responder as orações dos que amam o prazeres e que desejam honra, poder e riquezas. As Escrituras nos dizem que Deus aceita somente orações dos justos (Sl 34: 13-15, 66:18,19); daqueles que o invocam em verdade (Sl 145:18); dos genuinamente arrependidos e humildes (Lc 18:14); e, daqueles que pedem segundo a Sua vontade (I Jo 5:14).

“Antes, ele nos dá uma graça maior. Portanto, diz a Escritura: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, pois, a Deus. Resisti ao diabo e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Lavai as mãos, pecadores, e vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (4: 6-10).

Tiago continua exortando aos judeus cristãos que quem segue o regulamento do mundo se torna, presunçoso, arrogante, vaidoso, ostentador e omisso.

Aquele que diz: “Hoje ou amanhã iremos para a cidade tal, e lá teremos lucros”, está cometendo jactância, isto é, a vaidade de sentir-se auto-suficiente para planejar sua vida. Quando analisamos a vida humana, concluímos que ela é apenas “um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece” (4:14). Os crentes, ao

estabelecerem alvos e planos para o futuro, sempre devem buscar a Deus e a Sua vontade. O princípio pelo qual devemos viver deve ser: “Se o Senhor quiser”.

No capitulo 5, Tiago fala sobre as riquezas desonestas (vv 1-6). Deus não condena a riqueza. Ele condena a riqueza adquirida de forma desonesta, e, principalmente, a conseguida às custas da desgraça de outros. Os que assim enriquecem serão aniquiladas as suas riquezas e suas roupas comidas pela traça. Pois, “deliciosamente viveste sobre a terra, e vos deleitastes. Cevastes os vossos corações no dia da matança. Condenaste e mataste o justo, que não vos resistiu” (5:5,6)

 

Exortação à paciência, ao juramento, a prática da oração (Tg 5:7 -20)

“Sede, pois irmãos, pacientes até a vinda do Senhor...”. Tiago escreve aos crentes da Igreja daquele tempo que eram pobres e aos que foram condenados e mortos pelos ricos opressivos. Ele os anima dizendo: “...Fortalecei o vosso cora ção, porque já a vinda do Senhor está próxima” (5:8). Uma vez que o cristão se dispõe a esperar com paciência a volta do Senhor, ele deve estar livre do pecado da murmuração e das críticas. Tiago ensina sobre a paciência de Jó (5:11) e “comenta sobre o fim que o Senhor lhe deu; porque Deus é muito misericordioso e piedoso”. Continua ensinando aos judeus cristãos que simplesmente devem falar “sim” ou “não”. Pois a palavra valerá por si mesma, sem necessidade de juramentos. A mentira conduz ao juízo de Deus.

 

Na sua epístola, Tiago trata de vários problemas que afetam a Igreja. Nos versículos 13 ao 20, do capitulo 5, ele mostra como os crentes devem resolver tais problemas. “Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Ore. Cante louvores. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre eles, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente; o Senhor o levantará. Se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados... Meus irmãos, se algum dentre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do seu caminho salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados” (5:13-16, 19,20).

 

Concluindo, o justo é pacifico, indulgente, imparcial, tratável, misericordioso e de bons frutos, sem fingimento, humilde, ....


Share:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hernandes D. Lopes - Jó

Wayne Gruden

Ariovaldo Ramos