Evangelhos Sinóticos, ou Evangelhos Sinópticos, são aqueles que narram a vida e ministério de Jesus Cristo sob o mesmo ponto de vista. Assim, os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são os chamados Evangelhos Sinóticos. O termo sinótico significa “visão conjunta”, no sentido de expressar a mesma visão sobre algo. Esse termo é formado pela junção dos gregos sin, “junto com” e otico, “visão”.
Portando, o significado da palavra sinótico indica perfeitamente as características dos três Evangelhos assim denominados. Uma leitura simples dos três primeiros livros do Novo Testamento revela a forma com que eles compartilham a mesma perspectiva da história registrada.
O conteúdo dos Evangelhos Sinóticos
Como foi dito, os Evangelhos de Mateus, Marcos
e Lucas fornecem uma narrativa que têm muito em comum. Mateus e Lucas iniciam
seus registros apresentando a genealogia de Jesus e a narrativa de seu
nascimento.
Depois, os três Evangelhos Sinóticos falam
sobre o ministério de João Batista. Eles apresentam o profeta como sendo
aquele de quem as Escrituras falam, e que seria o responsável por preparar o
caminho do Messias.
Os Evangelhos Sinóticos também relatam o
batismo e a tentação de Jesus no deserto. Tudo isso ocorreu antes do
início de seu ministério público, e faz parte da primeira seção desses livros.
Em seguida, ao registrar o ministério do Senhor Jesus, os Evangelhos Sinóticos
se concentram principalmente nos eventos ocorridos na Galileia. Eles registram
os ensinos de nosso Senhor e os milagres realizados por Ele.
Os Evangelhos Sinóticos também mostram o Mestre
sempre acompanhado de seus discípulos percorrendo vários lugares. Muitas das
vezes Ele estava cercado por multidões que ouviam seus discursos, e de
opositores que procuravam calá-lo. Esses opositores são apresentados nas
figuras dos religiosos da época, especialmente os escribas e fariseus.
Muitos de seus discursos se deram por meio de parábolas. Saiba por que
Jesus falava por parábolas.
O clímax de toda narrativa também é apresentado
de forma muito semelhante nos Evangelhos Sinóticos. Os três primeiros
Evangelhos retratam a viagem de Jesus a Jerusalém. Eles descrevem os eventos
que marcaram a semana da paixão, e dão destaque ao sermão profético de Jesus
sobre o fim dos tempos e a instituição da Ceia.
As semelhanças dos Evangelhos Sinóticos
Uma estimativa aproximada indica que Marcos
possui cerca de 90% de seu material similar a Mateus e Lucas. Quase 60% do
conteúdo de Mateus são encontrados nos outros Sinóticos. Por último, Lucas
possui aproximadamente 40% de conteúdo em comum com Mateus e Marcos.
Essa estimativa indica que os Evangelhos de
Mateus, Marcos e Lucas, possuem apenas 10%, 40% e 60%, respectivamente, de
conteúdo exclusivo que não aparece em outros Sinóticos. Para se ter uma ideia
do que isso representa, o Evangelho de Marcos possui no máximo 40 versículos
que não são compartilhados pelos outros Sinóticos.
A narrativa sobre a cura do paralítico em
Cafarnaum é um bom exemplo para quem tem interesse em comparar as semelhanças
entre as narrativas dos Evangelhos Sinóticos (Mateus 9:1-8; Marcos 2:1-12;
Lucas 5:17-26).
Mas não existem apenas semelhanças entre os
Evangelhos Sinóticos, há também diferenças pontuais. É verdade que em muitas
ocasiões o conteúdo é praticamente o mesmo, mas em outras ocasiões não. Por
exemplo:
A ordem dos acontecimentos na tentação de Jesus
difere entre Mateus e Lucas.
O registro do Sermão do Monte em Mateus é muito
mais extenso que em Lucas.
Os textos que tratam da crucificação de Jesus
possuem particularidades em cada Evangelho.
Quando comparado a Mateus e Lucas, Marcos
possui uma quantidade bem menor dos ensinos de Jesus.
Por que João não é considerado um
Evangelho Sinótico?
O Evangelho de João não é contato entre os
Sinóticos porque sua narrativa é bem diferente quando comparada aos outros três
Evangelhos. Isso significa que a maioria dos acontecimentos registrados em João
não aparece em Mateus, Marcos e Lucas. Há apenas algumas poucas exceções (ex.:
João 3; 9; 11; 14).
Isso significa que João escreveu sobre a vida
e ministério de Jesus sob outro anglo. Ele trouxe eventos inéditos não
registrados nos Evangelhos Sinóticos. Além disso, é amplamente aceito que o
Evangelho de João foi escrito muitos anos depois dos Evangelhos Sinóticos. Mas
é importante saber que nada do que é registrado em João contradiz, em um só
ponto se quer, o que é registrado nos Evangelhos Sinóticos.
Assim, a leitura dos Evangelhos Sinóticos
combinada à leitura do Evangelho de João, fornece um panorama riquíssimo acerca
da vida e ministério de Jesus. Também é importante saber que os pontos centrais
da obra de Cristo são registrados nos quatro Evangelhos, especialmente sua
morte e ressurreição.
O problema Sinótico
Como vimos, uma comparação detalhada entre os
Evangelhos Sinóticos não revelará apenas semelhanças, mas também algumas
diferenças. A discussão sobre as semelhanças e as diferenças, fez com que
surgisse o problema dos Sinóticos. Do ponto de vista literário, esse problema
levanta as seguintes questões:
Qual é a origem dos Evangelhos
Sinóticos?
Eles surgiram independentemente uns dos outros
ou será que seus autores fizeram uso dos textos uns dos outros?
Caso isso tenha ocorrido, até que ponto eles
usaram o material uns dos outros como fonte?
Além disso, será que os autores utilizaram
outros materiais?
Não é nada fácil responder tais
questionamentos. Se for admitido que os autores dos Evangelhos Sinóticos usaram
as obras uns dos outros, isso explica boa parte das semelhanças entre eles. Mas
por outro lado, essa condição torna as diferenças entre eles intrigantes.
Assim, o problema Sinótico se concentra ainda mais especialmente na seguinte
pergunta: Como explicar as semelhanças e as diferenças entre esses três
Evangelhos?
Essa pergunta fica ainda mais complicada quando
entendemos que os relatos acerca do ministério de Jesus constituem simplesmente
uma seleção. Nosso Senhor desempenhou um ministério público de aproximadamente
três anos. Isso significa que a quantidade de acontecimentos foi enorme. Sobre
isso, em João 21:25 lemos que faltariam livros para registrar todos os atos de
Jesus.
As possíveis soluções para o problema
Sinótico
Normalmente os estudiosos respondem ao problema
dos Sinóticos dizendo que Marcos foi o primeiro Evangelho a ser escrito.
Depois, os autores de Mateus e Lucas usaram Marcos como base de seu esboço
geral.
Mas também é verdade que Mateus e Lucas possuem
textos importantes que não aparecem em Marcos. Então os estudiosos sugerem que
esses dois autores se valeram de uma segunda fonte. Essa segunda fonte é
desconhecida, e pode ter sido tanto um documento escrito quanto um testemunho
oral. Os estudiosos geralmente se referem à essa fonte como “Q”, primeira letra
da palavra alemã quelle, “fonte”. Essa possibilidade é chamada de
“teoria das duas fontes”, ou “hipótese de dois documentos”.
Mas a teoria das duas fontes também não é capaz
de explicar todos os questionamentos relacionados à origem dos Evangelhos
Sinóticos. Por isso alguns estudiosos argumentam que Mateus foi o primeiro
Evangelho a ser escrito. Outros, por sua vez, sugerem que Lucas foi o primeiro
dos Sinóticos. Há ainda aqueles que minimizam essa discussão. Eles apontam para
uma possível tradição oral muito sólida que antecedeu o surgimento dos
Evangelhos Sinóticos.
Seja como for, obviamente Mateus e Lucas
tiveram acesso a informações que são pertinentes apenas aos seus respectivos
Evangelhos. Apesar das dificuldades, a maioria dos estudiosos adota a teoria
das duas fontes como a melhor solução para o problema Sinótico.
Além disso, as especulações sobre a origem e
composição dos Evangelhos Sinóticos possuem um limite. Elas não podem
questionar a influência e a inspiração do Espírito Santo na
composição dos Sinóticos. Foi Ele quem inspirou, supervisionou e controlou todo
esse processo de origem e composição. A autoridade dos Evangelhos Sinóticos não
repousa sobre a capacidade dos estudiosos em explicar sua origem e
desenvolvimento, mas na inspiração divina.
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