O que é religião? É o batismo numa igreja
cristã. É a adoração num templo budista. São os judeus com o rolo da Torá
diante do Muro das Lamentações em Jerusalém. São os peregrinos reunindo-se
diante da Caaba em Meca. Em seguida podemos perguntar: será que essas
atividades têm alguma coisa em comum? Será que seus participantes compartilham
algum sentimento semelhante a respeito do que fazem? E por que fazem o que
fazem? O que isso significa para eles? E como afeta a sociedade em que vivem?
São essas as questões que as ciências da
religião procuram responder. O pesquisador investiga de uma perspectiva externa
todas as religiões, buscando semelhanças e diferenças, e tenta descrever o que
vê. A descrição dele nem sempre é plena e exaustiva, se comparada aos
sentimentos de um crente acerca de sua religião.
É como o que acontece com a música. Um
especialista em teoria musical pode explicar de que maneira uma composição foi
construída, e descrever suas tonalidades e seus instrumentos, mas jamais
conseguirá recriar a experiência que a música transmite. Isso é ainda mais
óbvio quando se trata de comida. Um nutricionista pode explicar que certo
alimento consiste numa dada mistura de componentes orgânicos, e que, se for
resfriado a uma determinada temperatura, terá um gosto doce e fresco ao entrar
em contato com o palato humano; mas isso nunca será a mesma coisa que tomar de
fato um sorvete.
Isso não quer dizer que o estudioso das
religiões não possa ser religioso. O escritor italiano Umberto Eco, falando das
relações entre os estudos de literatura comparada e a própria literatura, fez a
seguinte observação: "Até os ginecologistas podem se apaixonar". O
importante é não deixar que durante a pesquisa as crenças e os sentimentos
pessoais influenciem o material que está sendo estudado. Esse distanciamento
permite ao pesquisador divulgar informações sobre a religião que são valiosas tanto
para o indivíduo como para a sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário