A Bíblia refere-se a um evento nos recônditos
mais distantes do tempo, além da experiência humana, quando o pecado se tornou
uma realidade. Uma criatura extraordinária, a serpente, já estava confirmada na
iniqüidade antes de “o pecado entrar no mundo” através de Adão (Rm 5.12; ver Gn
3). Essa antiga serpente aparece em outros lugares como o grande dragão,
Satanás e o diabo (Ap 12.9; 20.2).
O diabo tem andado pecando e assassinando desde
o princípio (Jo 8.44; 1Jo 3.8). O orgulho (1Tm 3.6) e uma queda de anjos (Jd 6;
Ap 12.7-9) também se associam a essa catástrofe cósmica. As Escrituras também
nos ensinam a respeito de outra queda: Adão e Eva foram criados “bons” e
colocados num jardim idílico, no Éden, desfrutando de estreita comunhão com
Deus (Gn 1.26-2.25). Por não serem divinos e porque eram capazes de pecar, era
necessária uma contínua dependência de Deus.
Semelhantemente, precisavam comer regularmente
da árvore da vida. Isto nos é sugerido pelo convite a comer de todas as
árvores, inclusive da árvore da vida, antes da Queda (Gn 2.16), e pela rigorosa
proibição depois desta (Gn 3.22,23). Houvessem obedecido, teriam sido
frutíferos e alegres para sempre (Gn 1.28-30). Alternativamente, após um
período de prova, poderiam conseguir um estado mais permanente de imortalidade,
mediante a trasladação para o céu (Gn 5.21-24; 2Rs 2.1-12) ou pela ressurreição
do corpo sepultado na terra (cf. os crentes, 1Co 15.35- 54).
Deus permitiu que o Éden fosse invadido por
Satanás, o qual tentou Eva com astúcia (Gn 3.1-5). Desconsiderando a Palavra de
Deus, Eva entregou-se ao desejo por beleza e sabedoria. Tomou do fruto
proibido, ofereceu-o ao seu marido e juntos comeram-no (Gn 3.6). Eva fora
enganada pela serpente, mas Adão parece ter pecado em plena consciência (2Co
11.3; 1Tm 2.14; Deus concorda tacitamente com esse fato em Gn 3.13-19).
É possível que Adão tenha recebido do próprio
Deus a proibição de comer da árvore e que Eva a tenha ouvido somente através do
marido (Gn 2.17; cf. 2.22). Adão, portanto, tinha mais responsabilidade diante
de Deus, e Eva era mais suscetível diante de Satanás (cf. Jo 20.29). Talvez
seja esta a explicação da ênfase que a Bíblia atribui ao pecado de Adão (Rm
5.12-21; 1Co 15.21,22), embora, na realidade, Eva tenha pecado primeiro.
Finalmente, é crucial observar que o pecado deles começou na sua livre escolha
moral, e não na tentação (a que poderiam ter resistido: 1Co 10.13; Tg 4.7).
Isto é, embora a tentação os incentivasse a pecar, a serpente não colheu o
fruto tampouco os forçou a comê-lo.
O casal optou por assim fazer. O primeiro
pecado da humanidade abrangeu todos os demais pecados: a afronta e
desobediência a Deus, o orgulho, a incredulidade, desejos errados, o desviar
outras pessoas, assassinato em massa da posteridade e a submissão voluntária ao
diabo. As conseqüências imediatas foram numerosas, extensivas e irônicas
(observe cuidadosamente Gn 1.26-3.24). O relacionamento entre Deus e os homens,
de franca comunhão, amor, confiança e segurança, foi trocado por isolamento,
autodefesa, culpa e banimento. Adão e Eva, bem como o relacionamento entre
eles, entraram em degeneração. A intimidade e a inocência cederam lugar à
acusação (jogavam a culpa um sobre o outro). Seu desejo rebelde pela
independência resultou em dores de parto, labuta e morte. Seus olhos realmente
foram abertos, e eles conheceram o bem e o mal (mediante um atalho), mas era
pesado esse conhecimento sem o equilíbrio de outros atributos divinos, como o
amor, a sabedoria e o conhecimento. A criação, confiada aos cuidados de Adão,
foi amaldiçoada, gemendo pela libertação dos resultados da infidelidade dele
(Rm 8.20,22).
Satanás, que oferecera a Eva as alturas da
divindade e prometera ao homem e à mulher que estes não morreriam, foi mais
amaldiçoado que todas as criaturas e condenado à destruição eterna pela
descendência de Eva (ver Mt 25.41). Finalmente, o primeiro casal humano trouxe
a morte a todos os seus filhos (Rm 5.12-21; 1Co 15.20-28). O Midrash judaico
entende a advertência divina de que a morte viria quando (literalmente “no dia
em que”) comessem da árvore (Gn 2.17) como uma referência à morte física de
Adão (Gn 3.19; 5.5), pois um dia, aos olhos de Deus, é como mil anos (Sl 90.4)
- e Adão viveu apenas 930 anos (Gn 5.5).
Outros a entendem como uma conseqüência natural
do afastamento da árvore da vida. Muitos rabinos judaicos defendiam a idéia de
que Adão nunca foi imortal e que sua morte teria chegado imediatamente se Deus,
em sua misericórdia, não a tivesse adiado. A maioria sustenta que a morte
espiritual - ou a separação de Deus - ocorreu naquele mesmo dia. Não obstante a
condenação, Deus graciosamente confeccionou túnicas de peles para Adão e Eva, a
fim de substituir os aventais de folhas que eles haviam providenciado por sua
própria iniciativa (Gn 3.7,21).
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