Igreja Complicada. Conhece Alguma? - Lição 03

 

Igreja Complicada. Conhece Alguma?

  

Lição 03
Pregação Centrada no Evangelho


Vergonha e tolice...que fazem diferença

1Coríntios 1.18-25;2.1-5

 




Para ler e meditar durante a semana

D-Rm 1.16-O poder de Deus;

S-Is 29.14-Sabedoria que perece;

T-At 17.30-Tempo da ignorância;

Q- 2Ts 2.13-14-Chamado pelo evangelho;

Q-Rm 10.8-17-Fé e boas novas;

S-1Ts 1.5-O evangelho em poder;

S-1Co 15.3-4-Evangelho resumido

 

 Leitura Bíblica em Classe

1 Coríntios 1.18-25; 2.1-5


INTRODUCÃO

Não é novidade que vivemos uma crise ética no Brasil. O nosso país está perto do centésimo lugar no ranking de corrupção pública numa lista de 180 países. Quanto pior a colocação, maior a corrupção. Mas isso não é o mais assustador. O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de percepção de corrupção no mundo dos negócios. De acordo com esta pesquisa, feita pela empresa de auditoria Ernst & Young, publicada pela Época Negócios, nós estávamos em oitavo lugar em 2014 e subimos para o primeiro em 2018. O levantamento mais recente mostra que para 96% dos executivos brasileiros a corrupção e o suborno são práticas normais no mundo corporativo. Se em vez do futebol, a Copa avaliasse a corrupção nos negócios, o Brasil seria campeão!

Precisamos reconhecer que a crise ética afeta fortemente as próprias comunidades cristãs do nosso país. Atualmente, há em torno de 50 milhões de evangélicos no Brasil, quase 25% da população. Até 2040 o Brasil será de maioria evangélica. Perceba, porém, que o crescimento numérico dos evangélicos no pais é inversamente proporcional à nossa posição no ranking da corrupção pública ou nos negócios. Tal crescimento não tem gerado transformação, provavelmente um reflexo do evangelho adulterado que muitas comunidades anunciam país afora. As igrejas crescem, porém, pouco impacto é sentido na sociedade. O conceito popular do evangelho hoje é que Jesus morreu para que recebêssemos curas e bênçãos materiais agora, e ir para o céu depois. Uma igreja madura e cristocêntrica está centrada no verdadeiro evangelho que convence e transforma.

 

 

I.          DATA E OCASIÃO

Paulo foi chamado para pregar o verdadeiro evangelho, ele recusou glória para si. A cruz de Cristo é o tema central de suas mensagens que teve como ponto de partida o anúncio da Pessoa e obra de Jesus. Esta clareza e objetividade na pregação o distinguiam dos oradores e dos retóricos familiarizados na cultura coríntia.

 

 

II.         SINAIS E SABEDORIA

Por um lado, ele diz: “Os judeus exigem sinais". Por outro lado, “os gregos buscam sabedoria”.

A.        Os judeus queriam alguma prova

Isso para validar a mensagem sobre Jesus antes de acreditar em qualquer palavra da parte dele. Os sinais que eles queriam eram as repetições dos grandes feitos de libertação que Deus havia demonstrado, ou seja, mar se dividindo, água de uma rocha, pão do céu e pragas contra seus inimigos, em favor de Israel ao resgatá-los da escravidão. Os judeus também pediram a Jesus sinais do céu; mas ele os recusou.

 

B.        Mensagem customizada

Ser sábio era sinônimo de honra e poder, e este influenciava a multidão. Os gregos queriam ouvir uma mensagem que se alinhasse com as suas preferências. Paulo comunicou o evangelho "não com sabedoria de palavra" (v.17), mesmo que a contento dos gregos, a mensagem deveria ser eloquente, com atraente e impressionante oratória. Será que ele acomodaria a sua pregação às exigências dos gregos? Não. As suas palavras não atenderam aos caprichos deles.

Em 1909, Harry Gordon Selfridge, o bilionário fundador da loja de departamentos Selfridg e em Londres, cunhou a frase: "O cliente tem sempre razão", mostrando que a vontade do cliente está em primeiro lugar nos valores da Selfridge. Isso parece funcionar bem no varejo. No entanto, a filosofia do ministério de Paulo não é oferecer o que as pessoas querem, mas sim aquilo que elas precisam ouvir.

 

 

III.        A ESCRITURA OFERECE A CRUZ

Diante de uma audiência que anseia por sinais e retórica, Paulo tem a oferecer uma mensagem simples e poderosa, "Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.”

A pregação da cruz é o método e conteúdo da sua mensagem. Paulo sabe o que o mundo quer e não quer ouvir; ele sabe que nada existe de mais ofensivo, seja a judeus ou a gregos, do que o anúncio de um Messias crucificado. Apesar disso, o apóstolo confia decididamente a não acomodar sua pregação ou adequá-la às preferências de quem quer que seja: “(...) nós pregamos a Cristo crucificado” (v.23b).

 

A.        Escândalo e loucura

A palavra “cruz” para nós não tem o mesmo peso que nos dias de Paulo, a qual era um símbolo vulgar, horripilante e chocante, dava arrepios. O orador romano Cícero disse que “a própria palavra cruz deve ser removida dos pensamentos, olhos e ouvidos de um cidadão romano”. Por isso, Paulo chama tal pregação de "loucura” e “escândalo”:“(...) nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios" (v.23).

O termo “loucura" em grego é moria. A palavra inglesa moron, que significa “imbecil", vem desse termo grego. Provavelmente, foi sob essa ótica que as pessoas avaliaram a pregação do apóstolo. Para muitos gregos, adeptos dos discursos eloquentes e persuasivos, Paulo era um tolo. Quem acreditaria que a crucificação de Jesus foi o meio pelo qual Deus salvou o mundo? Além disso, para os judeus cruz era a pedra de tropeço, skandalon, que significa “um obstáculo intransponível"; para eles uma barreira à fé. A palavra da cruz é ofensiva e absurda; uma coisa escandalosa. Paulo, certamente, enfrentou pressões para recuar e readequar a mensagem ao gosto do cliente, porque ele era um “arauto”.

 

B.        O arauto

O termo grego que Paulo utiliza para pregação é kerux (cf. v.21-23). Essa expressão não era parte do vocabulário utilizado pelos grandes pensadores e oradores das praças públicas do mundo greco-romano da época. O apóstolo, entretanto, se considera um kerux, que quer dizer, “um arauto”. Arauto é um mensageiro enviado pelo rei com uma mensagem que precisa ser proclamada com autoridade e urgência. Geralmente, a proclamação da vitória de um monarca era feita por esse arauto. Como porta-voz do rei, o arauto não tinha liberdade alguma para manipular, distorcer ou acomodar a mensagem que seu senhor ordenara. Paulo, então, prega o Deus que salva os pecadores através do Cristo crucificado.

 

 

IV.        MENSAGEM PARA HOJE

A.        Mensagem desconfortável

A pressão sobre Paulo para ajustar a sua pregação aos padrões da cultura tornando-a aceitável é enorme ainda hoje, desse modo, a exclusividade do poder de Deus para salvação ainda ofende ao homem contemporâneo. Na tentativa de amoldar à comunicação do evangelho à cultura vigente, muitos pregadores diluem e torcem a palavra da cruz. Falar da pessoa e obra de Jesus como único caminho para a salvação é uma ação altamente desconfortável em um mundo para o qual “todos os caminhos levam a Deus.”

 

B.        Mensagem poderosa

Quando o Deus vivo fala, algo sempre acontece. Deus disse: “Haja luz, e houve luz". Jesus disse: “Lázaro vem pra fora" e ele saiu. “Fique limpo" e imediatamente o leproso ficou limpo. Quando Deus fala, ele não apenas informa, mas transforma, cria, desempenha uma obra. A pregação não é uma atividade informativa, mas transformativa. A exposição das Escrituras dever ser feita com criatividade, amabilidade e contundência, mas o poder vem do Espírito Santo. João Calvino entendeu essa verdade quando afirmou que "a Palavra sai da boca de Deus de tal maneira que também sai da boca dos homens, pois Deus não fala abertamente do céu, mas emprega os homens como seus instrumentos”. Essa afirmação está no coração da tradição reformada: “Predicativo verbi Dei est verbum Dei," ou “A pregação da Palavra de Deus é a Palavra de Deus"(Segunda Confissão Helvética).

 

1.A mensagem da cruz deve ser proclamada com fidelidade

Não somos vendedores. Somos arautos do Senhor Jesus através da sua Palavra.

Proclamamos as boas-novas a pecadores que carecem de arrependimento de um evangelho naturalmente ofensivo ao coração rebelde. Jamais se esqueça de que você prega para pessoas que não têm prazer nas coisas de Deus, de corações hostis. Não pense que oferecendo a mensagem que elas querem ouvir, de 15 minutos, com muitas ilustrações e recheada de risadas, você atingirá as suas almas. O evangelho puro e simples é loucura ao homem natural (1Co 2.14). Jesus foi chamado de louco (Jo 10.20). Paulo foi chamado de louco (At 26.24), bem como os apóstolos (1Co 5.13). Aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação (1Co 1.21). Não é tentando minimizar a loucura, ou tornando o evangelho menos ofensivo, que você obterá êxito. Qualquer pregação que tenta maquiar o evangelho a fim de que ele seja mais palatável e menos ofensivo é chamado de “outro evangelho", um evangelho híbrido, heterodoxo, falso. E aos mensageiros desse “outro evangelho", Paulo diz: “que seja anátema"(Gl 1.8-9).

 

2. A mensagem da igreja sempre deve apontar para a cruz

A ênfase Paulo foi anunciar Jesus como Messias e Rei, crucificado e ressurreto (At 28.31; 1Co 1.22-24;2Co 4.5-6;1Co 15.1-10). Paulo foi chamado para ser instrumento de Deus, para mudar os corações humanos através da pregação do evangelho, não para impressioná-los com "sabedoria de palavra," por sua mera eloquência ou habilidade retórica. Não é a eloquência que muda nosso coração; é a mensagem da cruz que transforma a vida do pecador.

Jay Adams define o sermão cristão como aquele que o faria ser expulso de uma sinagoga. Caso contrário, há alguma coisa errada com seu sermão cristão. Adams escreve: “Pregue Cristo em toda a Escritura: ele é o tema da Bíblia inteira. Ele está lá. Enquanto você não o encontrar na parte que você pregará, não está pronto para pregar". Jesus Cristo deve estar no coração de cada mensagem que você prega. Colin Smith chama qualquer pregação que não exalta a Cristo de “subcristā”. Michael Horton, num artigo intitulado “Pregando Somente Cristo", é taxativo sobre a importância da pregação cristocêntrica:“Se a nossa pregação nāo se centralizar em Cristo-de Gênesis a Apocalipse- não importa quão boa ou útil, não é uma proclamação da Palavra de Deus". Warren Wiersbe segue o mesmo raciocínio e escreve: “Pregar Cristo significa proclamar a Palavra de Deus de tal modo que Jesus Cristo seja claramente apresentado em toda a plenitude de sua pessoa e em toda grandiosidade de sua obra". O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando David Larsen, escreve que “o sermão sem Jesus é um jardim sem flores". Fica evidente que o sermão não é genuinamente expositivo nem cristão, se o Cristo revelado nas páginas da Bíblia, não for descoberto e anunciado pelo pregador.

 

CONCLUSÃO

Todas as vezes que quisermos tornar a mensagem do evangelho palatável, eliminando o elemento do escândalo, deixamos de ser arautos fieis de Deus. A igreja será conhecida pela sua fidelidade à centralidade da cruz de Cristo.

 

APLICAÇÃO

Se você for um “arauto”, levante-se para proclamar o Rei Jesus ao mundo. 

Deus é quem convence, persuade salva pessoas. Confie no poder do evangelho e descanse na soberania de Deus que age por através da pregação. A mensagem considerada tola pelo mundo é a que mantém a esperança e a confiança da nossa pregação.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hernandes D. Lopes - Jó

Wayne Gruden

Ariovaldo Ramos